Tantos e tantos anos sem entrar naquela casa. Apenas passava ao largo. E, no entanto, havia uma enorme vontade de voltar a passar aquelas portas e perceber se a memória continuava a guardar alguma coisa dos tempos passados entre aquelas quatro paredes. Foi preciso acordar cedo, enfrentar a chuva e ir ao seu encontro. Lá dentro, a casa continua exactamente como me lembrava. As colunas, o chão, os azulejos, os vidros, nada mudou. Está tudo bem conservado e parece que voltei décadas no tempo. Aqui e ali, pequenos recantos onde tantas estórias houve, onde tantas amizades nasceram. Mal consigo prestar atenção às palavras e canções que se ouvem ao meu redor, prefiro olhar para ali e para além e deixar a minha mente vaguear por todas as recordações que aquele espaço evoca. Mas a nostalgia vai-se dissipando e lentamente regresso ao presente e vou começando a ouvir as palavra que me chegam da outra ponta da casa. E aí sou atingido pela verdadeira mudança que está ali a acontecer. Ouço palavras que nunca ouvi, palavras que me tratam como o adulto que sou, que não condescendentes e que são realmente deste tempo. Definitivamente parece que o futuro desta casa vai ser diferente, não vai esquecer o seu passado mas parece que vai haver mãos para não deixar a casa morrer, não a deixar eternamente no passado. E fico satisfeito, sorrio e fico deveras surpreendido com tudo isto. Mas, repito, fico satisfeito que assim seja. Talvez que não vá ficar novamente tantos anos sem voltar a entrar aqui. Se este for o caminho, sem dúvida que podem contar comigo. E já era tempo de deixar entrar novos ares por aquela porta. Como se costuma dizer, aguardo com muita expectativa os próximos episódios. Bem hajam.
"Nascemos nus, húmidos e com fome. Depois a coisa piora."
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