domingo, março 04, 2012

Morreste-me

"As coisas e eu mexem-se, deslocam-se todas. Vou. Parto para o que sobra de ti e tudo são resquícios do que foste. Parto de ti, viajo nos teus caminhos, corro e perco-me e desencontro-me no enredo de ti, nasço, morro, parto de ti, viajo no escuro que deixaste e chego, chego finalmente a ti. Pai."

José Luís Peixoto



(Uma vez que te rendeste a todos os livros que fui acumulando nessa casa durante tantos anos, então vais ter de ler este. Para que, nas palavras do Peixoto, possas perceber o quanto gosto de ti, meu Pai.)


4 comentários:

calamity disse...

<3

não há nada de cinzento em ti, Amigo meu.

Nuno Guronsan disse...

Tenta-se lutar sempre por céus azuis, Amiga minha.

:)

Beijos. Grandes.

A.na disse...

Morreste-me.

...

É uma merda que se sente, quando se passa pela perda terrível de um pai ou de uma mãe, tornamo-nos membros honorários dum clube invisível de pessoas órfãs.
Tu não pertences a este Clube, meu caro, e ainda bem. É um Clube sem chão.
E é uma merda que se sente quando as outras pessoas que ainda têm pai ou mãe e falam demais daquilo que não sabem o que é. Invejo-te Nuno. Invejo-te pelo tanto que tens ainda com os teus pais. Não peças ao teu pai para ler isto. O teu pai ao ler isto lembrar-se-á não que é teu pai, mas que é filho. Somos filhos para sempre, e dói tanto deixar de ser o bebé de alguém.

"Regressei hoje a esta terra agora cruel. A nossa terra, pai. E tudo como se continuasse. Diante de mim, as ruas varridas, o sol enegrecido de luz a limpar as casas, a branquear a cal; e o tempo parado, o tempo entristecido e muito mais triste do que quando os teus olhos, claros de névoa e maresia distante fresca, engoliam esta luz agora cruel, quando os teus olhos falavam alto e o mundo não queria ser mais que existir. E, no entanto, tudo como se continuasse. O silêncio fluvial, a vida cruel por ser vida"

E eu nunca mais regressei desde que ela partiu. Ainda dói demais. Quase um ano...

Beijos e olha, vai à merda sim? :P

Nuno Guronsan disse...

Sim, é verdade que ainda não pertenço ao Clube, e não posso sequer imaginar o que seja. Mesmo hoje, que estou longe do convívio diário com os meus velhotes, não passam dois dias sem que sinta a urgência de ouvir as vozes deles, tanta como a que eles sentem em ouvir a minha. Ainda não pertenço ao Clube, mas um dia terá que acontecer. Mas tento não pensar nisso, ainda que alguns eventos rementam para isso, como a morte do meu avô o ano passado. Não quero pensar, não quero mesmo pensar...

Minha querida, fiquei de coração apertado por ti. Desculpa se te recordei coisas que nos deixam infinitamente tristes...

Considera-me enviado oficialmente para a merda. :)

Beijos grandes.