domingo, abril 12, 2009

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira



(Foto de Luís Zeferino)

4 comentários:

Escrevendo na Pele disse...

Que beleza indescritível, Nuno! Bjs.

Nuno Guronsan disse...

Os escritos deste senhor são de uma beleza realmente indescritível...

Obrigado pela visita!

calamity disse...

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
--- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.



*

:)

Nuno Guronsan disse...

É disso que estou a precisar, calamity. Para os dias bons e para os dias maus, aqueles em que o mundo parece realmente estar contra nós.

Obrigado.
Beijos.