domingo, julho 20, 2008

Na terra de gelo - dia 2


Partimos bem cedo de Reykjavík em direcção à Bláa Lónið, ou seja a Blue Lagoon, um dos locais islandeses que mais atrai os turistas. Trata-se de um lago de água geotérmica cuja temperatura deverá rondar os quarenta graus, nas partes mais quentinhas. O caminho até lá parece saído de um filme de ficção científica, onde apenas vemos devastação criada pelos caminhos de lava, que formam estranhas figuras ao longo da estrada. E de repente começamos a ver fumo ao longe, a elevar-se de uma mancha meio azul meio branca que é o lago propriamente dito. Uma vez já de calções e fatos de banho, apercebemo-nos realmente do frio de rachar que se faz sentir, mas uma vez dentro de água estamos quentinhos como se estivéssemos numa sopa gigante.


E até temos direito a serviço de bar e a uma máscara de lama que supostamente nos faz bem. Pelo menos o resultado visual é comicamente recomendado. De volta aos balneários descubro que o meu cacifo não gosta de mim e se recusa a devolver-me as roupas. Se calhar é por falarmos línguas diferentes.


De volta à estrada. Estrada de terra batida. Quilómetro e quilómetros e durante muito tempo sem ver um único ser humano ou outro veículo na estrada. Apenas temos a companhia de ovelhas e cavalos.


O resultado menos agradável é que o carro fica incrivelmente sujo, de tal forma que é impossível ver o que seja pelo vidro traseiro. Depois de muito andarmos à procura de um sítio para almoçar acabamos, em desespero de causa, por parar num sítio perdido no meio do nada e mesmo fora de qualquer roteiro turístico imaginável. Estamos pois em Strandarkirkja. Somos atendidos por uma senhora muito simpática que quase não fala inglês e nos informa que apenas serve sopas, sandes e crepes. Pedimos então sopas. E a senhora mostra-nos um saco plástico de onde tira uma série de pacotes de sopas instântaneas e nos pergunta qual preferimos. E as sandes são de pão-de-forma. E os crepes estão enroladinhos e sabem apenas a canela. E nem por isso o almoço fica mais barato. Surreal. O silêncio à nossa volta parece tão intenso que nos deixa sem palavras. De volta à estrada.


E chegamos a mais um local propício para muitas fotos. O Geysir, o pai (pelo menos em termos de nome) de todos os outros geysers. Já apenas esguicha poucas vezes por dia, mas continua a borbulhar imenso. E o cheiro a enxofre continua fortíssimo. Ao lado temos Strokkur, que com intervalos de poucos minutos e enormes magotes de gente à sua volta suspensa no tempo, irrompe com força para enorme prazer de todas as máquinas fotográficas nas redondezas. Subimos a uma pequena montanha para vermos do alto todos aqueles pequenos e grandes geysers. Cansados, gritamos a plenos pulmões do cimo. Sinto-me vivo.


Logo ao lado temos a bonita e enorme cascata de Gullfoss. A maior de sempre aos meus olhos. E conseguimos estar mesmo ao pé da queda de toda aquela água, de modo que acabamos por sair bastante molhados, mas bastante refrescados e deslumbrados com aquela força maravilhos ao nosso lado. Muitos sorrisos. E, movimento contínuo, muitos sms's e mms's enviados para os que ficaram em terras lusas, metade a fazer inveja e metade a lembrar que gostávamos que estivessem connosco.


O dia termina numa terra apropriadamente chamada de Hella (podem retirar o "a" no final do nome). Por momentos lembro-me do meu querido subúrbio lusitanos, mas com menos pessoas, menos casas, e muito mais remoto e monótono. No meio do nada e com nada para fazer. Num quarto do tamanho de uma casa-de-banho e com dois beliches. A jantar hamburguéres com o único objectivo de não jantar salsichas na bomba de gasolina. Atendidos novamente por uma senhora muito simpática mas que sem dúvida daria cabo de mim num combate de qualquer coisa. Mas, em pleno restaurante, começamos a ouvir o Eric Idle a cantar Always look on the bright side of life e é altura de assobiar e pensarmos que somos uns sortudos...


4 comentários:

SGL disse...

A Islândia deve ser um país lindíssimo! É um dos países que gostava de visitar, se algum tiver possibilidades, quem sabe...

Nuno Guronsan disse...

Meu caro, apenas posso dizer que vale mesmo a pena. Parece que estamos noutro planeta, em todos os sentidos...

Se algum dia precisares de dicas... ;)

Micas disse...

A Islândia é para se ir, abrir o apetite, regressar e saborear...é mesmo do outro mundo, e tens que experimentar a lagoa mas à noite, é o máximo.

Nuno Guronsan disse...

Também lá foste, Micas? E mais do que uma vez, presumo?

Hoje andei a falar com uma das pessoas que foi comigo e chegámos à conclusão que, no futuro, queremos lá voltar. Ficámos viciados...

Beijos.