quinta-feira, novembro 21, 2013

Enquanto Longe Divagas

"Enquanto longe divagas
E através de um mar desconhecido esqueces a palavra
- Enquanto vais à deriva das correntes
E fugitivo perseguido por inomeadas formas
A ti próprio te buscas devagar
- Enquanto percorres os labirintos da viagem
E no país de treva e gelo interrogas o mudo rosto das sombras
- Enquanto tacteias e duvidas e te espantas
E apenas como um fio te guia a tua saudade da vida
Enquanto navegas em oceanos azuis de rochas negras
E as vozes da casa te invocam e te seguem
Enquanto regressas como a ti mesmo ao mar
E sujo de algas emerges entorpecido e como drogado
- Enquanto naufragas e te afundas e te esvais
E na praia que é teu leito como criança dormes
E devagar devagar a teu corpo regressas
Como jovem toiro espantado de se reconhecer
E como jovem toiro sacodes o teu cabelo sobre os olhos
E devagar recuperas tua mão teu gesto
E teu amor das coisas sílaba por sílaba"

Sophia de Mello Breyner Andresen


(E é isto tudo. Frase após frase. Como o ar que neste momento respiro. Obrigado, Sophia.)

  (a dobrar)

domingo, novembro 10, 2013

Está quase naquela altura do ano...

... em que lanço as minhas próprias gaivotas por aí, com palavras por mim tatuadas e que povoam os meus sonhos despertos sobre os seus destinatários, estejam eles mais perto ou mais longe. São gaivotas que, basicamente, servem de ponte entre o meu coração e os daqueles que por cá moram. Faço-me entender?


(quadro de Narda Alvarado)


domingo, novembro 03, 2013

O bêbado da cidade

Encontrá-lo de pé, a andar e de cara menos inchada, menos fechada, deve ser algo próximo daquilo que normalmente se designa como um milagre. Novembro tem coisas destas.