Sempre gostei da ideia de redenção. De passar pelas mais desgraçadas provações, chegar ao infinito fundo da mais profunda tristeza e dor, para se conseguir atingir a renovada alma de um verdadeiro ser humano. Como se a ideia de um caminho sem obstáculos ou entraves, que nos obrigam a rever tudo aquilo que consideramos ser a nossa moral e a base dos nossos princípios, fosse na verdade aquilo que nos faz crescer e atingir todo um outro nível de humanidade. Acho que o filme
Blindness consegue ser uma tela viva destas palavras. No nosso íntimo, sabemos que a sociedade, mesmo aquela que se diz avançada, se coze com fios demasiado frágeis e que ao mínimo abalo cedem perante os instintos primários de uma espécie que rapidamente tomou conta do planeta onde vivemos. Sabemos que à primeira tentação, o ser humano consegue trazer à superfície o pior de si, aquilo de que muitos pesadelos são feitos. E por vezes nem estamos assim tão distantes como num objecto cinematográfico. Por vezes, basta apenas ligar a televisão durante o noticiário. É por isso que
Blindness consegue ser tão certeiro, tão real, tão intimidador. Porque nos revolve as entranhas, nos obriga a ver quando outros preferem virar a cara, porque é simplesmente um soco no estômago, mesmo que no final haja um pequena centelha de esperança em algo semelhante a um renascer das cinzas.