domingo, abril 08, 2007

Home is so Sad

"Home is so sad. It stays as it was left,
Shaped to the comfort of the last to go
As if to win them back. Instead, bereft
Of anyone to please, it withers so,
Having no heart to put aside the theft
And turn again to what it started as,
A joyous shot at how things ought to be,
Long fallen wide. You can see how it was:
Look at the pictures and the cutlery.
The music in the piano stool. That vase."
Philip Larkin

Dia de andamento. Literalmente.
De percorrer o caminho do néctar mais divino, de fio a pavio. De começar pelo resultado final, entre recipientes de todos os tamanhos e feitios. De quanto se pode admirar a película de pó que pode aspirar a algo de quase sagrado. De ouvir os primeiros ecos do passado, de um tempo longínquo, onde a minha presença apenas se pode fazer pela boca dos meus antepassados.
E depois andar. E andar. E andar um pouco mais. Correr todos os campos que me conhecem melhor que ninguém. Sentir sob os meus pés aqueles pedaços de terra que são sangue do meu sangue. Ferreiros, laceiras, pedreiros. Sentir o toque da pele de uma oliveira. Afagar os ramos retorcidos de uma videira. Cheirar as flores de um pessegueiro que não conhecia. E, acima de tudo, caminhar ao lado de duas pessoas que estão interligadas ao meu ser e ouvir as suas estórias, sempre velhas, sempre novas.
Ver o sangue mais novo correr solto, liberto, muito mais que o sangue mais velho. Ponto final, parágrafo.
Subir as ruas no meio da escuridão, hoje como ontem. Sentir mil e um flashbacks imporem a sua lei, mesmo que contra a minha vontade e o meu desejo de viver apenas no presente. Sentir-me impotente para me lembrar de todos aqueles que já fizeram aquele trajecto comigo e agora não têm tempo para tal. Assistir à usual união entre o sagrado e o profano e achar perfeitamente normal. Nem poderia ser de outra forma.
E voltar a casa. Uma casa que me acolhe e que é tudo menos triste.

Dia 2.

2 comentários:

Patrícia disse...

Sangue, terra, lágrimas, sorrisos. :) Vida.

A disse...

Dos 3 dias, 3 textos
(isto parece um doc. da 2)
o que mais gostei foi deste.

Home is So Sad... acho que o título diz tudo.
Vivemos dias complicados na busca duma identidade e num meio em que não sabemos muito bem como interagir, o que dele retirar, no fundo, sabermos mesmo quem somos, e quando deparados com a voz do sangue e da terra, algo cá dentro revolve entranhas e devolve-nos à própria terra. Devolve-nos a nós próprios.

Sabemos mais ou menos o caminho, mas não sabemos muito bem onde queremos chegar. Um dia, lá chegaremos...

Beijos.
E força com essa escrita.