terça-feira, dezembro 31, 2013

vi, ouvi e li

north by northwest, alfred hitchcock
killing them softly, andrew dominik
drive, nicolas winding refn
a turma, laurent cantet
alien, ridley scott
frankenweenie, tim burton
django unchained, quentin tarantino
the deer hunter, michael cimino
the great gatsby, baz luhrmann
the searchers, john ford
life of brian, terry jones
rush, ron howard

.......................................................................

fade, yo la tengo
push the sky away, nick cave & the bad seeds
drive original soundtrack
regions of light and sound of god, jim james
trouble will find you, the national
pale green ghosts, john grant
standards, lloyd cole
casulo, márcia
dream river, bill callahan
almost visible orchestra, noiserv
amália por júlio resende, júlio resende
as canções d'a naifa, a naifa

.......................................................................

a queda de um anjo, camilo castelo branco
fúria, salman rushdie
o caminho mais longo, ewan mcgregor e charley boorman
i'm your man - the life of leonard cohen, sylvie simmons
the art of travel, alain de botton
yoga for people who can't be bothered to do it, geoff dyer
granta portugal I - eu
1q84 - the complete trilogy, haruki murakami
caderno afegão, alexandra lucas coelho
onde os rios se separam, mark spragg
granta portugal II - poder
no meu peito não cabem pássaros, nuno camarneiro

 

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Do Mal o Menos

"Se por algum desígnio voltar a esta terra amada gostava de ser uma árvore visitada por aves no verão, por onde se passeassem os esquilos, onde se escrevessem no tronco pequenos nomes humanos apaixonados. Uma árvore de uma floresta do norte onde no inverno cai a neve e há aquele silêncio que tudo guarda. E que depois fosse cortada por um lenhador, pai de uma família grande e saudável, e que parte de mim fosse logo queimada, o seu calor cozendo a comida de todos e que com a melhor madeira se fizesse uma mesa onde alguém um dia escrevesse uma carta a alguém que estivesse longe para lhe dizer que a amava."

Pedro Paixão


sábado, dezembro 14, 2013

Saudades da "minha" cidade

"Trezentas mil pessoas habitam Lisboa enquanto Fernando
dorme. Entre as oito da manhã e as oito da noite há três mil
cantos contemporâneos dentro das fronteiras da cidade. Um
canto por cada cem habitantes. A densidade melódica de Lis-
boa, uma das mais elevadas do hemisfério norte, é responsá-
vel por algumas das particularidades dos seus habitantes. Há
muita gente impreparada para tanta melodia, gente vulnerável
às emoções com que esbarra a cada instante. Não há protec-
ções eficazes contra emoções cantadas e há quem fuja, quem
enlouqueça e quem escreva poemas. Em Lisboa, entre as oito
da manhã e as oito da noite, as cabeças enchem-se de eco e cada
um faz o que sabe fazer."

Nuno Camarneiro

 

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Mantra

"Life's a piece of shit
When you look at it
Life's a laugh and death's a joke, it's true.
You'll see it's all a show
Keep 'em laughing as you go
Just remember that the last laugh is on you."



 


No meu peito não cabem pássaros

"Viver num sítio é ser esse sítio, emprestar-lhe uma alma e receber outra em troca. As biografias deviam ordenar-se por lugares, e não por datas. Nesta rua fui assim, numa outra fui diverso. Ninguém sabe descrever uma cidade, são as cidades que nos escrevem a nós."

Nuno Camarneiro

 

domingo, dezembro 01, 2013

Ode

Sexta-feira a meio da tarde. Café Alentejano. Um café onde não há televisão. Não há noticiários deprimentes nem reality shows boçais e desinteressantes. Um café onde também não há rádio. Não há blocos de publicidade intermináveis nem músicas irritantes repetidas ad nauseam. Não, neste café apenas se ouvem as vozes e palavras das pessoas sentadas nas mesas e das pessoas atrás do balcão. Pessoas que se cumprimentam e sorriem. Vozes que comentam as últimas novidades de uma cidade do tamanho de uma noz. Conversas em voz alta que trazem um sorriso mesmo ao mais empedernido daqueles que se escondem atrás de um jornal ou de um livro. Murmúrios inaudíveis quando a conversa é mais séria e apenas interessa às cabeças daqueles que falam. Um após outro cliente que se dirigem ao balcão com a esperança de uma raspadinha premiada ou de um jogo onde a sorte caia para o seu lado. Sempre, em todas as vezes, um desejo de boa fortuna da senhora que recebe o dinheiro de não sei quantas ilusões em forma de gente. Um empregado que nos entretantos também canta um ou outro verso, de canções da sua infância, que canta quando parece que ninguém está a olhar, palavras cantadas são sempre mais bonitas. Tudo isto se ouve no Café Alentejano. Mas também se ouve o silêncio, todos os silêncios que já se tornam raros hoje. O silêncio de quando ninguém entra no café durante largos minutos, o rendimento do dia já ficou feito de manhã, com os pequenos-almoços. O silêncio do empregado que abraça alguém que entra, vindo da igreja onde jaz o corpo de um familiar que não mais entrará no café. O silêncio de alguém que acena do outro lado do vidro enquanto passa apressado. O silêncio de um dia que caminha para o seu fim enquanto os céus ficam tingidos de vermelho. O silêncio de um cliente que se queixa dos seus ossos, velhos e cansados. No Café Alentejano o silêncio não importuna ninguém e ninguém o teme. Sabemos que haverá sempre uma voz que entra por ali adentro e o envia para o canto mais escuro do Café. Haverá sempre um riso pronto a enfrentá-lo e um olhar triste pronto a acolhê-lo. Assim se vive no Café Alentejano. Vidas à solta.


quinta-feira, novembro 21, 2013

Enquanto Longe Divagas

"Enquanto longe divagas
E através de um mar desconhecido esqueces a palavra
- Enquanto vais à deriva das correntes
E fugitivo perseguido por inomeadas formas
A ti próprio te buscas devagar
- Enquanto percorres os labirintos da viagem
E no país de treva e gelo interrogas o mudo rosto das sombras
- Enquanto tacteias e duvidas e te espantas
E apenas como um fio te guia a tua saudade da vida
Enquanto navegas em oceanos azuis de rochas negras
E as vozes da casa te invocam e te seguem
Enquanto regressas como a ti mesmo ao mar
E sujo de algas emerges entorpecido e como drogado
- Enquanto naufragas e te afundas e te esvais
E na praia que é teu leito como criança dormes
E devagar devagar a teu corpo regressas
Como jovem toiro espantado de se reconhecer
E como jovem toiro sacodes o teu cabelo sobre os olhos
E devagar recuperas tua mão teu gesto
E teu amor das coisas sílaba por sílaba"

Sophia de Mello Breyner Andresen


(E é isto tudo. Frase após frase. Como o ar que neste momento respiro. Obrigado, Sophia.)

  (a dobrar)

domingo, novembro 10, 2013

Está quase naquela altura do ano...

... em que lanço as minhas próprias gaivotas por aí, com palavras por mim tatuadas e que povoam os meus sonhos despertos sobre os seus destinatários, estejam eles mais perto ou mais longe. São gaivotas que, basicamente, servem de ponte entre o meu coração e os daqueles que por cá moram. Faço-me entender?


(quadro de Narda Alvarado)


domingo, novembro 03, 2013

O bêbado da cidade

Encontrá-lo de pé, a andar e de cara menos inchada, menos fechada, deve ser algo próximo daquilo que normalmente se designa como um milagre. Novembro tem coisas destas.




quinta-feira, outubro 24, 2013

A Desumanização

"Ainda que as palavras sejam débeis. As palavras são objetos magros incapazes de conter o mundo. Usamo-las por pura ilusão. Deixámo-nos iludir assim para não perecermos de imediato conscientes da impossibilidade de comunicar e, por isso, a impossibilidade da beleza. (...) A esperança da humanidade, talvez por ingénua convicção, está na crença de que o indivíduo a quem se pede que ouça o faça por confiança. É o que todos almejamos. Que acreditem em nós. Dizermos algo que se toma como verdadeiro porque o dizemos simplesmente."

Valter Hugo Mãe




Last night...

 

 Dreaming wide awake...



terça-feira, outubro 08, 2013

domingo, outubro 06, 2013

Puto.

Acordou com os primeiros raios de Sol da manhã, a entrarem sem desculpas pelas frestas da persiana. Olhos semi-cerrados, pálpebras lentamente a fugirem da escuridão da noite para a luz do dia. Músculos a a acordarem da hibernação, lentamente a regressarem à vida. Todo um corpo. Os seus olhos ficaram finalmente abertos, atentos a tudo o que o rodeava naquele quarto ainda com muitas sombras. Olhou para o lado. Delineado pelos raios de luz da janela, estava o corpo dela. Contemplava as costas dela. A nudez do corpo, a brancura da pele mergulhada nos cabelos loiros com pequenas manchas negras por raízes. Fitava o seu pequeno corpo nu, desafiando o seu olhar agora totalmente desperto. A sua mão percorreu as linhas das costas dela, planando sobre o seu corpo, evitando despertá-la do seu sono profundo. Sem a tocar mas com a mesma intimidade da noite passada, quando os seus corpos se encontraram, colados, fazendo um único organismo na sua ânsia de desaparecerem um no outro. Sentiu um arrepio atravessar todo o seu corpo. Uma espécie de electricidade sem o ser. Uma forma de o seu corpo perceber que o Verão já tinha terminado, anunciava-se o frio outonal. Tal como o cabelo dela que não se cansava de olhar, também a noite começaria a chegar mais cedo, a luz solar a baixar no horizonte dos seus ombros. Gostava dos dias longos, não gostava da noite que chegava sempre demasiado cedo. Levantou-se, silenciosamente, o sono dela era precioso. Vestiu as roupas que tinham ficado abandonadas no chão do quarto. Saiu, fechando cuidadosamente a porta, o único movimento concentrado na respiração dela, suave, quase inaudível. O resto da casa também ainda dormia. Aqui e ali, uma ou outra linha de luz, uma ou outra persiana que teimava em não recolher toda. Deixou que os seus passos o guiassem, em trânse, em falso sonambulismo, até ao quarto mais pequeno da casa. Também aí uma pessoa dormia tranquilamente. Sem pesadelos. Como devia ser sempre, pensava ele. Pessoas com cinco anos de vida nunca deviam ter pesadelos, devia ser proibido. Mas perguntava-se se seria mesmo assim, pensava e questionava-se enquanto olhava a criança meio tapada meio descoberta, espalhada pela cama que quase parecia de brincar. Que sonhos teria ele? Seriam como os sonhos da sua própria infância, já tão distante no tempo? Será que sonhava em voar no dorso de um pégaso? Será que sonhava em ser um bombeiro ou um médico? Será que sonhava em jogar futebol ao lado dos melhores craques do mundo? Será que sonhava com a sua mãe? Com o seu colo? Com as brincadeiras que fazia com os seus cabelos loiros com pequenas manchas negras por raízes? Será que sonhava com isto tudo? Era o seu íntimo desejo que a resposta fosse sim. Desejava até, com um bocadinho de egoísmo sim era verdade, que a criança pudesse sonhar com ele próprio. Com as brincadeiras que os dois faziam. Com os livros que ele lhe lia. Com as músicas ao som das quais dançavam em cima da cama. Desejava que os seus sonhos fossem tão bonitos como os seus dias. Acima de tudo, e não sabia como reagir perante tal pensamento, desejava que ele não sonhasse com o seu pai. Porque isso não seria um bom sonho. Que a criança não pensasse, no seio do seu sono, numa pessoa que o tinha abandonado, que o tinha deixado para trás. Um pai que apenas tinha deixado o seu nome, o seu apelido, e que não tinha qualquer interesse em se relacionar com a criança. Um pai que não o amava, não o conhecia, nem queria saber que a criança sequer existisse. Será que se podia realmente chamá-lo de pai? Ele não saberia responder. Enquanto olhava a pequena cara da pequena pessoa que ainda dormia, deixava que tudo isto atravessasse a sua mente. A criança sabia que ele não era o pai dela. Sabia que ele estava com a mãe e com ele, o filho. Nunca lhe tinham escondido nada, e nunca o iriam fazer. Ele já era muito inteligente e tinha um especial dom para descobrir mentiras. Seriam sempre honestos com ele. Os dois. Os três, lado a lado. Contra o resto do mundo. Como se fossem super-heróis das bandas desenhadas que ele lia até ser embalado nos braços de Morpheus. Não conseguia deixar de esboçar um sorriso sempre que via a criança a dormir assim, no sossego dos primeiros minutos de uma nova manhã. Fechou a porta, lentamente, vendo-o a dar as primeiras voltas debaixo dos lençois antes de acordar. Era um novo dia. Uma nova oportunidade de serem felizes.


quarta-feira, outubro 02, 2013

Da maresia.


E tudo aquilo que envolve este mar que me deixa horas e horas a olhar para ele.

terça-feira, outubro 01, 2013

Fumo e depressão

"Recomecei a fumar. Tinha saudades. O meu médico diz que é bom sinal. Que estou menos deprimido. Que quando se está deprimido até ao prazer de fumar nos recusamos. Parece-me curioso mas acredito. O meu médico fuma cigarros consecutivamente e não me parece nada deprimido. Como seria um psiquiatra deprimido, com a sua própria vontade de morrer, a tratar as depressões de outros?
Voltei a fumar tal como deixei de fumar. Sem dar por isso. De uma dia para o outro. É bom fumar. É uma metáfora do mundo. Tanto tempo para as coisas se mostrarem, se fazerem, tão pouco para desaparecerem, tão pouco para durarem. O tempo de fumar um cigarro até meio."

Pedro Paixão

 

quinta-feira, setembro 26, 2013

Um mal maior

Abriste o portão e entraste pela quinta dentro, como se ela ainda te pertencesse. Como se ainda morasses aqui. O cão correu para ti, saltou para os teus braços e lambeu-te a face, como sempre te fazia quando regressavas do trabalho. Tu sorriste, um sorriso feito de uma ténue nostalgia. Olhaste para a laranjeira. Esticaste-te para alcançar um dos frutos. Cheiraste-o e provavelmente recordaste os sumos que fazias nos verões que passámos juntos, sentados no jardim, a ver o sol a esconder-se no horizonte. A frescura do sumo nas nossas gargantas, o calor da tua mão repousada na minha. Largaste a laranja e foste para o teu jardim. Para as tuas plantas. Todas as flores que plantastes ao longo dos anos, as tuas crianças como lhes chamavas. Pegaste no regador, encheste-lo na fonte, e regaste as flores. Os teus cabelos taparam-te a cara, não consegui ver o que sentias ao regar mais uma vez as tuas plantas. Pousaste o regador e ficaste a olhar para a casa. Não tanto a olhar para as suas paredes, janelas, telhado, mas mais através dela, como se tentasses ver-me, no seu interior. Conseguia ver isso no teu olhar, a curiosidade para saber onde eu estava, o que estava a fazer, com quem o estava a fazer. Um misto de curiosidade e lamento. Tudo isso provinha dos teus olhos, das tuas feições, de todo o teu corpo ao lado do qual tantos e tantos anos vivi, amei, comunguei. Até que os teus olhos se cruzaram com os meus. Tu, lá fora no jardim, eu do lado de dentro da janela da sala. Ficámos a olhar, um para o outro, durante toda uma eternidade. Todas as nossas emoções revividas vezes sem conta. Até que não aguentei mais. Puxei os cortinados e deixei-te ali, no jardim, sozinha, longe de mim, com o sol a cair lentamente no céu, nas tuas costas.


domingo, setembro 22, 2013

Dogwalker

"Vim para aqui para escapar de outros lugares. Fiquei por aqui por não haver outro sítio que pudesse chamar meu. Esta cidade não é de ninguém. É de quem cá chega, vive e morre, para poder voltar a não ser de ninguém. Uma nação de estrangeiros num mesmo navio que o milagre da vontade impede de naufragar. Ou então é outra coisa, não sei, não costumo pensar nisto. Sei que há horas em que me sinto feliz por estar por aqui e basta."

Pedro Paixão


 

sexta-feira, setembro 20, 2013

segunda-feira, setembro 16, 2013

A pensar no sorteio de amanhã...




Castelos

Chegaste e foi como se o tempo não tivesse passado. Sentámo-nos e comemos e bebemos e conversámos. Vimos o Sol a esconder-se e caminhámos sob a Lua iluminada. Acordámos ao mesmo tempo e a tempo de tomarmos o pequeno-almoço juntos, lentamente, de janela aberta a ver a névoa matinal fugir para trás dos montes. Guiámos pelas estradas aos altos e baixos, a ouvir a banda sonora que nem sempre é dos dois. Caminhámos e caminhámos. Subimos e descemos escadarias atrás de escadarias. Fugimos do Sol abrasador debaixo de uma sombra centenária. Umas vezes a conversar, outras vezes a ler o jornal do dia, outras ainda a ler livros de viagens que ainda não fizémos. Fomos ao nosso restaurante, aquele a que sempre voltamos, sempre com o prazer de saber quem está lá para nos receber. Percorremos as muralhas de um castelo perdido no tempo, pela noite adentro, cuidadosos nos nossos passos e nunca repetindo o mesmo caminho. Fazemos as sestas habituais, aquelas a que esta terra sempre nos puxa. Desligamos a televisão, exasperados com o estado das coisas que nunca mais muda, ligamos a rádio para nos lembrarmos de outros dias, outros tempos. Saímos para a rua, nem sempre certos do destino que queremos. Mergulhamos nas águas frias de um fim de tarde azul, secamos ao sol num prado verde que nunca mais acaba. Subimos e subimos e subimos até quase tocarmos nas pequenas nuvens que ainda passeiam no céu. Vamos aos sítios onde fomos e continuamos a ser felizes, com sorrisos inesgotáveis. Não nos cansamos de percorrer as calçadas portuguesas, os jardins com aspersores que nos surpreendem, de encontrar as pessoas mais simpáticas do mundo, por muitas missões estranhas que tenham. Sorrimos com as pessoas que nos conhecem, sorrimos com as pessoas que acabámos de conhecer e que já nos saúdam como amizades antigas. Partilhamos esta luz que permeia os nossos dias e aproveitamos todos os minutos para falarmos de tudo e de nada. E hoje é folga. Partiste e foi como se o tempo não tivesse passado. Até breve.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Coisas improváveis





Mas que deixam marcas profundas na espuma dos dias de Verão alentejano... Bem hajam.


terça-feira, agosto 13, 2013

"Uma caixa de cimento fresco. Deita-o
lá dentro. Mete-te na mota, arranca, não
penses mais nisso. A sul, há mulheres
cujo futuro é um avião que não deixa
traços no céu. A norte, se preferires,
há-as engarrafadas, em decilitragens
as mais diversas. Com os homens
é a mesma coisa, dois dedos de conversa
e uns quantos cubos de gelo. Meia
hora chega para ir repondo o stock
de episódios com que fingir que estamos
vivos. Isso deve bastar-te, excepto
se te achares mais do que os outros
e Deus te livre de uma coisa dessas.
É isso: aprende a metafísica das
t-shirts brancas, das curvas apertadas,
da velocidade calma. O resto é
conversa de poetas, filósofos, historia-
dores, que fumam mais do que vêem
e lêem mais do que assobiam ao sair
à rua. O resto é uma perda de tempo
e não eras tu o tal que tanto nos
maçava com a iminência da
morte, com a falência da Sociedade
por quotas, com a genealogia
dos suínos? Aproveita agora esta
oportunidade de não ser nada
contigo; juro-te que ninguém
te vai levar a mal; envia, apenas,
um postal de Tânger e um contacto,
para o caso do Emanuel ou a
Angelina quererem ir de férias e
precisarem de um sítio onde ficar.
Não é pedir muito em troca da
tua liberdade. Vá! Uma caixa de
cimento fresco. Deita-o lá dentro.
Sabes do que estou a falar. Ver-
melho escuro. Isso. O coração."

Miguel Martins

 

quarta-feira, agosto 07, 2013

Morte

"Sabemos que de todas as sementes
é a mais pesada. Havemos de esperar
por ela. Acolhemo-la e nada
podia ser tão nosso. Compreendemos
que no seu interior talvez exista
a última seiva, o rumor de outra
germinação para que fique
junto dela. Descai silenciosa
e devagar. A terra é o nosso corpo."

Fernando Guimarães



(a propósito do suicídio de uma mulher, numa casa provavelmente caiada de branco e azul, perdida algures num vale alentejano, rodeada de serras e floresta a perder de vista, sob um céu abundantemente azul enquanto o sol tinge de vermelho o horizonte.)


quinta-feira, agosto 01, 2013

Serviços mínimos


... que a vida não está para se viver acima das nossas possibilidades (bocejo).
... ou como já se dava uma volta de 180 graus a este país, cujas pessoas tanto o merecem.


quarta-feira, julho 17, 2013

Das palavras que gostava de ter sido eu a escrever...

"No dia em que se separaram, Erik Gould abriu a porta da rua, lentamente, e saiu para o jardim. Ficou parado em frente aos canteiros de flores. Tirou o cinto, despiu as calças, depois a camisola de lã, depois a camisola interior, depois as meias. Ficou nu no meio das flores. Debruçou-se e rasgou as mãos no canteiro das rosas. Abraçou-as, acariciou-as até sangrar das mãos, dos braços, do peito, dos lábios, do sexo, da cara, até não poder mais com a dor espetada na carne.
Voltou para casa e regou o corpo com álcool enquanto gritava. Deitou-se de seguida e dormiu mais de dezoito horas. Acordou com dores no corpo todo, a espremerem-lhe a carne como se faz sumo. As feridas causadas pelos espinhos das rosas acabaram por cicatrizar passado uma semana e desapareceram. Gould não pensava em outra coisa que não fosse a sua mulher e assim continuou, como se as feridas das rosas afinal nunca mais desaparecessem. As unhas dos pés apodreceram, a sua imaginação caiu como as maçãs demasiado maduras, as notas do piano soavam a mofo. As teclas eram para bater em vez de tocar. Sentava-se ao piano, contudo, e pensava que seria possível tocar como os encantadores de serpentes, fazer com a sua mulher voltasse. Por vezes tocava mais de um dia sem parar. Os sonhos de Gould eram uma forma de Elizaveta se deitar dentro da sua cabeça. Não pensava em mais nada que não fosse Elizaveta.
Os anos sucediam-se, eram cicatrizes de trezentos e sessenta e tal dias, mas a sua esperança não diminuía. Apagava cigarros no braço e sentia que essa dor era uma espécie de alegria. Quando saía, mesmo que a ausência não fosse maio do que alguns minutos, telefonava para casa. Parava em todo o lado onde houvesse um telefone e marcava o número da sua própria casa. Ouvia o sinal e desligava quando ninguém atendia. Acreditava que Elizaveta pudesse voltar quando ele não estivesse em casa para a receber e a beijar dos pés até ao coração."

Afonso Cruz

 

quarta-feira, julho 10, 2013

Em Busca D'Eus Desconhecidos

 "A ficção - certa ficção - talvez seja a forma mais poderosa de exercitar o pensamento, de acelerar a realidade lenta do quotidiano. Escrita ou lida, a ficção escava-nos por dentro, rasga novos canais para o eu. Desacerta-nos com o que éramos. E tanto faz que sejamos nós a escrever ou a ler."

Dulce Maria Cardoso


 

terça-feira, junho 25, 2013

Yoga For People Who Can't Be Bothered To Do It

"There is something about leaving a place on a small boat - something about the movement of the waves, the noise of the engine: it is like you are leaving your life behind and yet, since you are part of the life you have left behind, part of you is still there. Dying, at its best, might be something like this. Everything was a memory, and everything was still happening in some extended present, and everything was still to come."


Geoff Dyer


(isto podia ser eu. no ano 2000. a deixar Mindoro atrás de mim.)


domingo, junho 23, 2013

Prunus Avium

Viver no interior continua a ser uma experiência inesquecível. Tanta coisa para ver, tanta coisa para contar. E no centro de tudo as pessoas. As pessoas que continuam a surpreender-me com os seus olhares, as suas partilhas, a sua forma de estar aqui, na raia. Longe de tudo, hoje, no meio de serras e muito calor, fui mais uma vez presenteado com essa maravilha que é a simplicidade de sermos nós próprios, sem nos armarmos aos cucos, sem tentarmos impressionar quem seja, simplesmente estarmos com quem gostamos e com quem gosta também de nós. Obrigado. Vocês sabem quem são.




segunda-feira, junho 17, 2013

Vistas desafogadas


@Serra de Montejunto



(... enquanto se espera pelo regresso à normalidade e pelo fim das "maratonas"...)


sábado, maio 25, 2013

The Art of Travel

"Among all the places we go to but don't look at properly or which leave us indifferent, a few occasionally stand out with an impact that overwhelms us and forces us to take heed. They possess a quality that might clumsily be called beauty. This may not involve prettiness or any of the obvious features that guidebooks associate with beauty spots. Recourse to the word might just be another way of saying that we like a place."

Alain de Botton


 

quarta-feira, maio 22, 2013

Horizonte

Quando as coisas correm bem, têm tendência para correr muito bem.
Têm sido dias muito bons, com muito trabalho mas sempre compensatórios. Com suor e chatices qb, mas simultaneamente com sorrisos, boa disposição, camaradagem. E nem consigo pôr em palavras o bom que é sair todos os dias de manhã de casa e ir trabalhar com vontade, com a alma limpa e pronta para o que der e vier. E o sol a brilhar por cima da minha cabeça é sempre um extra bem-vindo.
É claro que fazem falta os suspeitos do costume. Mas um telefonema aqui, um sms ali, um skype acolá, e as coisas vão-se mantendo em níveis aceitáveis de eterna saudade. E assim a mudança continua, dois anos e meio depois, a fazer todo o sentido e os astros continuam a alinhar-se de forma quase perfeita, o que quer que essa sandice signifique.
E mesmo quando acabo de ler algumas palavras de um dos meus escritores preferidos, que me fazem regressar atrás no tempo, quase fico incrédulo com algumas coisas e pessoas que suportei, situações que me deixaram à beira de um ataque de nervos e me deixaram de rastos. Repito, quase me parecem cenas de uma vida passada, algo que ficou tão lá atrás que tenho já dificuldade em recordá-las com nitidez. E isso é algo que nada neste mundo conseguiria pagar. Essa satisfação e alegria por deixar coisas tão tristes bem engavetadas no meu passado.
E para todos esses, pardon my french, filhos(as) da puta, estou bem e perto da felicidade. Faltam alguns pormenores, é certo, mas neste momento o meu sorriso é grande e recomenda-se. :)))


terça-feira, maio 21, 2013

The Art Of Travel

"If our lives are dominated by a search for hapiness, then perhaps few activities reveal as much about the dynamics of this quest - in all its ardour and paradoxes - than our travels. They express, however inarticulately, an understanding of what life might be about, outside the constraints of work and the struggle for survival."

Alain de Botton

quinta-feira, maio 02, 2013

Casa(s)

Cacém
Valdigem
Lisboa
Porto
Seul
Sintra
Portalegre


Por ordem cronológica.
Sem qualquer tipo de ordem afectiva, umas mais outras menos, todas com algo para contar sobre mim.


quarta-feira, maio 01, 2013

Desencontros

Esta semana deram-me uma noticia que me deixou muito triste.
Uma noticia que, de uma certa forma, simboliza mais uma acha para a fogueira que hoje, mais uma vez e a muitos quilómetros daqui, deve ter sido novamente avivada.
Mas já estou habituado, a carapaça já aguentou muita coisa.
Mas fiquei triste.
Triste por me aperceber que a história de amor mais bonita que me foi dada a conhecer, para além da dos meus pais, poderá estar a chegar ao fim. Um fim demasiado prematuro e não anunciado. Uma história de amor que merecia não ter fim, ser eterna e dar-nos a todos esperança que o mundo ainda não está completamente virado do avesso. Infelizmente, parece que assim não será.
E por isso aqui me fico, triste e com o coração pesado.

E triste porque um dia escrevi isto:



sexta-feira, abril 26, 2013

Book of Mercy

"In utter defeat I came to you and you received me with a
sweetness I had not dared to remember. Tonight I come to you
again, soiled by strategies and trapped in the loneliness of my
tiny domain. Establish your law in this walled place."

Leonard Cohen

 

domingo, abril 21, 2013

Para memória futura...

"Amarás o teu supositório assim como o do próximo."

"Não cobiçarás o supositório alheio."

"Amarás Pai, Mãe e supositório."

"Unsere Dame von Zapfchen."



Há coisas mesmo parvas. Mas se provocam gargalhadas de ir às lágrimas, é sinal que estamos vivos, bem como as nossas amizades.


terça-feira, abril 16, 2013

Burton Ad Eternum



"Ladies and gentlemen. I think the confusion here is that you are all very ignorant. Is that right word, ignorant? I mean stupid, primitive,unenlightened. You do not understand science, so you are afraid of it. Like a dog is afraid of thunder or balloons. To you, science is magic and witchcraft because you have such small minds. I cannot make your heads bigger, but your children's heads, I can take them and crack them open. This is what I try to do, to get at their brains!"


Vénia a QT


"Django. The D is silent."


quinta-feira, abril 11, 2013

Recta da meta

Pensar onde vou estar daqui a dez anos. O que quero ser, o que quero estar a fazer, onde é que quero estar. Custa e não é uma coisa que me agrade, lembra-me periodos da minha vida que não foram fáceis. E claramente, pelo menos comigo, é um exercício meramente teórico. Mas hoje, curiosamente, colocou-me as roldanas neuronais a funcionar num destino que muito me agradaria mas que sei ser próximo do impossível (ainda que tenha sido felicitado pela minha resolução e igualmente respeitado pela minha eterna timidez). Ainda assim, daqui a um ano tenho que voltar a ler algumas das coisas que escrevi hoje. Talvez nessa altura leve com um merecidamente dado pontapé no rabo para me mexer na direcção certa.


quinta-feira, abril 04, 2013

Ontem

Um dia especial, com as emoções à flor da pele. Um dia bonito e cheio de pequenos instantes para recordar daqui a muitos anos. Certamente que não vamos esquecer, aqueles que lá estivémos, a chuva, a paisagem, a comida, o vinho que alegremente partilhámos, os risos, as lágrimas, as canções, os olhares de ternura, a alegria de vermos a nossa matriarca cumprir mais uma Primavera da sua vida. E, mais que tudo, o seu riso e uma ou outra lágrima que derramou. Risos pelos que estavam com ela, sentados à mesa e à distância de um telefonema. Lágrimas pelos que já não estão aqui, mas que vivem para sempre nas nossas almas e à distância de uma lágrima que corre pela cara inadvertidamente. O tempo que estivémos contigo, querida e amada avó, merecia ter sido muito mais, os beijos e conversas que partilhámos mereciam ficar gravados nos nossos corações, já que a tua consciência começa lentamente a fugir-te quando menos esperas. Mas, ainda assim, foi maravilhoso festejar as tuas noventa e quatro Primaveras e, correndo o risco de estar enganado, acho mesmo que provavelmente não mudarias nada nessa longa, complicada, inesquecível vida que continuas a viver com o sorriso e o olhar de uma rapariga de espírito jovem que, por acaso, já tem três gerações de descendência. Ontem e sempre foste e és a nossa alegria, minha querida e maravilhosa avó.


quinta-feira, março 28, 2013

Páscoa 2

Levantaram-se. Os dois ao mesmo tempo. Tinham trocado um último olhar cúmplice antes de o fazerem e isso tinha sido o suficiente para saberem o que se iria seguir. Levantaram-se, deram as mãos e dirigiram-se para a porta da sala, ignorando os olhares surpresos de todos os que os ficaram a ver. Todos acompanharam a sua saída com ar estupefacto e, ao mesmo tempo, invejando a sua decisão. A reunião pareceu ficar suspensa, todos sem saberem muito bem o que fazerem. Sentados à volta de uma longa disposição de mesas em semi-círculo, todos os formandos desviaram o olhar da apresentação, hipnotizados que estavam pela fuga dos seus dois colegas. Os slides da apresentação continuaram a passar enquanto o formador olhava também as duas pessoas a saírem pela porta da sala de reuniões, incapaz de dizer o que quer que fosse. Todos sem reacção. Apenas eles os dois sabiam o que tinham de fazer. Darem as mãos, saírem daquela sala e irem lá para fora, viverem a vida que sempre desejaram viver. Longe de reuniões, formações, objectivos, pressões, inimizades, tudo aquilo que agora tinham e com o qual já não conseguiam viver. Aliás, e ambos pensavam assim, a única coisa boa que aquela vida lhes tinha trazido era o conhecimento um do outro e o amor que entre eles tinha nascido. Á medida que fechavam a porta atrás de si, ouviam os comentários dos seus colegas, o que estavam eles a fazer, onde é que iam, não sabiam que estavam a um passo do despedimento, tudo falsas preocupações de pessoas que não passavam de completos desconhecidos daquilo que eles os dois realmente eram. Tanto ele como ela, ainda de mãos dadas, não conseguiam evitar um enorme sorriso enquanto ouviam o trinco da porta que se fechava atrás deles. O sorriso de quem ia começar uma nova vida ao lado de alguém que finalmente o(a) compreendia como ninguém...

quarta-feira, março 27, 2013

Páscoa

Será normal ter sonhos românticos entre pessoas que nunca conhecemos na vida, para lá de um filme passado a altas horas da noite num qualquer canal de televisão?

Talvez que seja melhor ter sonhos assim do que não sonhar de todo.

Talvez que assim seja menos solitário ou, melhor dizendo, menos acabrunhado nos meus sonhos mais estranhos, aqueles dos quais desperto de forma inesperada, tanto assim que não sei se realmente acordei, uma vez que passados minutos estou outra vez imerso neles, sem saber o porquê disso acontecer.

Talvez que seja da chuva, das nuvens escuras, ou simplesmente do tempo livre que o meu cérebro também aproveita para descansar e pregar-me estas partidas imaginárias.

Deve ser da quaresma, com toda a certeza.

Venham sonhos mais normais, asap.


segunda-feira, março 11, 2013

Beatriz

Simplesmente Beatriz. Uma Mulher com um coração, uma força, uma coragem que nos deixa à beira das lágrimas. Há poucas assim. Para ti, num dia tão especial como o teu aniversário, deixo estas poucas mas sentidas palavras. Viverás agora e sempre, mesmo quando já não estiveres aqui. Que a tua saúde seja tão grande como o amor que tenho por ti.


 


domingo, março 10, 2013

Da música portuguesa.

Seja no Coliseu dos Recreios de Lisboa a semana passada,


onde vi e ouvi um David Fonseca com uma voz e um sentido de espectáculo verdadeiramente impressionantes, com um corpo de canções que já fazem realmente parte de um período de dez anos da minha vida, com gente a rodos a cantarem a plenas pulmões as músicas tão bem tocadas por uma banda excelente,

seja no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre ontem à noite,



onde os Virgem Suta, versão a dois multi-instrumentistas, puseram o público a trautear, a cantar, a gritar, a aplaudir e finalmente a juntarem-se-lhes no palco, dizia eu a cantarem canções que tanto devem ao fado, como ao folclore, ao cantar alentejano, ao tango, a tantas e tantas coisas que irremediavelmente nos põem a bater o pé ao compasso, canções polvilhadas de letras irónicas, engraçadas, corrosivas, carregadas de um sentimento de portugalidade maravilhoso,

seja em que sítio fôr, em que língua fôr, a música portuguesa está de boa saúde e teima em contrariar mesmo os tempos mais negros que vivemos. E, falo por mim, sem música desta qualidade seriam ainda mais negros. Um grande bem hajam a todos os David Fonseca e Virgens Sutas deste país e que nunca baixem os braços.

E no próximo sábado há mais. Há mais um reencontro com um grande senhor da nossa música portuguesa e já sei que vou cantar baixinho quase todo o concerto. Até já, sr. Palma!



Sim, é isto mesmo

"A recurring dream is a dream which is experienced repeatedly over a long period.
A person who experiences post-traumatic stress disorder may have recurring dreams about the traumatic event.
The subjects of recurring dreams vary, and they often include events or settings from the dreamers' own experiences. The following examples are common:
  • The sensation of falling
  • Flying
  • Being held down or otherwise unable to move (compare sleep paralysis)
  • Nakedness in a public place
  • Being held back in school or failing a test
  • Losing teeth or the ability to speak
  • Escaping or being caught in a tornado/storm
  • Drowning, or otherwise not being able to breathe
  • Finding lost items
  • Finding new rooms in one's house
  • Unable to turn on the lights in one's house
Many of the dreams listed above, such as flying, falling sensations, or everyday activities (turning on/off lights) would be classified as hypnagogic hallucinations. Hypnagogic hallucinations are vivid sensations that occur between being awake and just falling asleep .[1]
Like any dream, recurring dreams have invited many interpretations."

(in Wikipedia)


Agora só preciso saber o que é que abrir um café poderá alguma vez ter a ver com isto....

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Coolness...

"My friend, Thomas Jefferson is an American saint because he wrote the words 'All men are created equal', words he clearly didn't believe since he allowed his own children to live in slavery. He's a rich white snob who's sick of paying taxes to the Brits. So, yeah, he writes some lovely words and aroused the rabble and they went and died for those words while he sat back and drank his wine and fucked his slave girl. This guy wants to tell me we're living in a community? Don't make me laugh. I'm living in America, and in America you're on your own. America's not a country. It's just a business. Now fuckin' pay me."



 


quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Muito, Meu Amor

   "E na parede branca estava escrito um poema. Queres
que to diga? Era mais ou menos assim:

   As pessoas são insensatas, inconstantes e egoístas.
   Ama-as, apesar de tudo.
   Se fizeres o bem serás acusado de agires por outros
motivos.
   Faz o bem, apesar de tudo.
   Se tiveres êxito ganharás falsos amigos e verdadeiros
inimigos.
   Tenta alcançá-lo, apesar de tudo.
   Todo o bem que fizeres amanhã será esquecido.
   Faz o bem, apesar de tudo.
   A honestidade e a franqueza tornam-te vulnerável.
   Sê honesto e franco, apesar de tudo.
   O que passaste anos a fazer será destruído numa só
noite.
   Constrói o que tens de construir, apesar de tudo.
   As pessoas precisam de ajuda mas atacar-te-ão se as
ajudares.
   Ajuda-as, apesar de tudo.
   Dá o melhor de ti e serás atingido nos dentes.
   Dá ao mundo o melhor de ti, apesar de tudo.

   E depois?"

Pedro Paixão

 
(a dobrar

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Sempre

Há coisas às quais voltamos vezes e vezes sem conta, e nem precisamos de explicações para o fazer. Apenas nos basta deixarmo-nos guiar pelo que está cá dentro...



 


domingo, fevereiro 17, 2013

There must be a place...

... e o Alentejo, como eles próprios disseram, é um lugar bem especial. Tal como a música e a amizade destes músicos portugueses que fazem canções a abrir caminho para o verão em pleno inverno. Foi realmente bom bater palmas, cantar com vocês e fazer ruídos estranhos enquanto o alarme tocava :)))


Em palco e em apoteose: Best Youth + We Trust + gentes de Portalegre.


quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Ali ao lado...

Pela calçada acima, segue ela mais uma vez, pequenina e curvada sobre si mesma. Nas suas roupas negras, luto que se lhe continua a agarrar, eterna lembrança daquele que perdeu para não mais voltar à sua casa. Caminha lentamente, o tempo não a preocupa há muito, deixa-se ir iluminada por um sol teimosamente primaveril sob céus ainda invernais. Os cabelos brancos, arranjados em pequenos caracóis, deixam pequenos vestígios do que em tempos foi a sua beleza, agora vergada pelos muitos anos de vida e trabalho na lavoura. Os pequenos óculos redondos de aros também pretos, por trás dos quais se escondem olhos côr de avelã, onde tantos e tantos pretendentes se perderam na sua adolescência, mesmo quando ela já sabia perfeitamente a quem pertencia o seu coração. Ao longo da sua face e das suas mãos, as rugas são sentinelas atentas à passagem do tempo, rearrumando aquilo que foi suavemente belo para um outro tipo de beleza, aquela que apenas as pessoas de uma idade avançada nos conseguem mostrar sem receios ou desculpas. Nas suas mãos leva um pacote de sementes compradas no dia anterior na última loja resistente no seu bairro. Palavras que ela mal entende, de tão económicas se tornaram, varreram todas as outras lojas e os seus proprietários, indo alguns para tão longe que até as fronteiras deste país acabaram por passar. Quando a última loja se fôr, não sabe onde irá comprar as sementes para os seus companheiros. Aqueles que agora começam a esvoaçar em direcção ao chão que a rodeia. Que descem dos céus para a saudar, a sua benfeitora, a sua única companhia humana. Quase se podia acertar o relógio da torre da igreja matriz por estes encontros vespertinos. Tanto ela, como os pombos que agora se vão chegando aos seus pés, sempre se encontram ali, no passeio à volta do jardim, todos os dias, sempre na mesma hora. E ela deixa cair as primeiras sementes que, mal aterram na calçada, servem de manjar aos seus amigos alados, num ruído misto de asas esvoaçantes e arrulhares de estômagos satisfeitos. Ela sorri. No meio das rugas um sorriso de contentamento pelos seus companheiros. Os vizinhos já a avisaram inúmeras vezes para se deixar de dar comida aos pombos. Que não é higiénico, que aqueles pássaros só trazem sujidade e doenças. Que qualquer dia chamam a gnr. Ela que se deixe disso. Ela não faz caso. Conhece alguns desde os tempos em que eram uma pequena amostra de gente e já sabe que aquela gente já vem de más raízes. Isto nos mais novos. Os vizinhos mais velhos, os da sua idade, também já deviam ter idade para ter juízo e não lhe dizerem aquelas tolices, a ela que é uma das moradoras mais antigas do bairro. Ela faz ouvidos de mercador. Não lhes liga e, para ser franca, com a idade dela, já não tem que se preocupar com ameças fúteis daquelas. Ainda gostava de ver qual era o agente da polícia com tomates para a levar por um braço. Deixá-los falar, mais dia menos dia ela já não vai ter de os aturar. E ela sabe perfeitamente que os pombos não passam o dia a rondar e a sujar o bairro, eles apenas aparecem quando ela sai para a rua, com o pacote de sementes nas suas mãos velhinhas. E durante aqueles minutos em que as sementes duram e ela se vê rodeada dos seus pequenos companheiros de penas, o sorriso toma conta de si, e a solidão é atirada para um canto, e a vida até parece suportável. Durante aqueles minutos, sente-se amada e importante e, ousa mesmo dizê-lo para si, vagamente feliz. Feliz como há anos não o é. Desde que ele a deixou, partiu primeiro para o outro lado, deixando-a entregue a uma casa vazia e a um mundo que nunca mais teve o mesmo significado. Mas os pombos compreendem a sua mágoa e, ainda que não o percebam, são as suas melhores amizades, os seus companheiros de luta, contra todos aqueles que não percebem a verdadeira amizade, o verdadeiro amor. Contra aqueles que não suportam ver quem seja mais feliz que eles próprios, por muito ínfima que essa felicidade seja. É por isso que ela todos os dias vai à loja e compra as sementes. É por isso que ela, pequenina e curvada sobre si mesma, vai ao encontro dos seus companheiros todos os dias. E assim o irá sempre fazer, até que o seu mundo acabe, até que os seus dias corram o seu curso, até que o seu corpo decida que é tempo de ir ao reencontro do seu amor. Assim ela o reza, todos os dias, antes de sair à rua.



quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Há coisas que não se explicam...

... e, para mim, a amizade é uma delas. Consegue ser mais forte que o sangue familiar, consegue ser inesperadamente arrebatadora, consegue levar-nos ao céu. E entre risos, abraços, gritos, zangas, beijos, discussões pseudo-filosóficas, diferenças de opinião, diferenças de feitios e personalidades, bem lá no centro, nos nossos corações, os afectos são a causa de existirmos e de as nossas verdadeiras amizades estarem sempre do nosso lado, felizes connosco, tristes enquanto nos dão o seu ombro para chorarmos as lágrimas que temos vergonha de chorar juntos de outras pessoas. Não há adjectivos suficientes, não há palavreado romanceado que chegue a descrever de perto esse tão estranho e reconfortante sentimento. Digo-vos mais, e estou a parafrasear uma canção de um tempo que já parece uma outra vida, não vos trocava por nada desta vida.





quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Um buraco no coração



(ou como, às vezes, fazíamos melhor em estar quietos no nosso canto...)


quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Brutalmente bom.





"Then I saw it, I saw a mom who would die for her son, a man who would kill for his wife, a boy, angry & alone, laid out in front of him the bad path. I saw it & the path was a circle, round & round. So I changed it"



terça-feira, fevereiro 05, 2013

Vida de Adulto

    "Vivemos de histórias que nos contamos. Repetimo-las
muitas vezes e pouco importa quem as conta ou quem as
viveu. Algumas são inventadas. Rimos delas, por mais trá-
gicas que sejam. Não temos pena de nós, temos pena
do mundo, o que quer que isto queira dizer. Mas o que é
que importa? O que importa é que a nossa situação é in-
suportável.
    Sentados à volta de uma mesa de café move-nos uma
fúria em esgotar o tempo com palavras. Em silêncio ex-
tinguimo-nos. É a única certeza. Sofremos por saber
como cada um precisa de ajuda urgente e somos incapa-
zes de o ajudar no que é preciso. Pelo contrário, prejudi-
camo-nos. Somos má companhia uns para os outros,
como diriam os nossos pais com razão e já sem ela.
    Nem há ninguém que nos acuda se nem a nós própri-
os nos suportamos. Sim, incansavelmente escavamos tú-
neis dentro de nós para aí nos perdermos."

Pedro Paixão

 

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

"Do mal o menos"

Já muitos me tinham falado naquele livro. Que era excelente, que eu tinha de o ler, que assim que lesse a primeira página já não o conseguiria pousar sem chegar à última das frases lá escritas. Por isso a expectativa estava criada e colocada em patamar altíssimo. Aproveitei um fim-de-semana com mais um dia para me agarrar à anunciada leitura. Sentei-me no meu banco de jardim predilecto, protegido pelos céus azuis intermináveis e aquecido pelo sol primaveril fora de estação. Li a dedicatória, "Para a Paula, que me inspira todos os dias". Depois de tantos anos, consegui achar graça à coincidência e virei a página. Capítulo um. Ao fim de alguns parágrafos, compreendi o porquê de toda a gente que eu conhecia me dizer que ia gostar do livro. A forma, o estilo, a cadência das palavras, tudo escrito num ritmo avassalador, sem barreiras nem descontos de tempo, todas aquelas páginas iam ao encontro daquilo que me agradava num livro. O autor, quase um desconhecido para mim, escrevia bem e sabia contar uma história com alma, com paixão, com tudo aquilo que um livro deve ser. Continuei a ler, as páginas sucediam-se sem eu dar conta, deixei passar a hora da refeição, continuava sentado no banco de jardim, o livro era o meu repasto naquele momento. Capítulo dez. Estranho. Havia um sentimento de familiaridade que atravessava aqueles capítulos, aquela história, algo que me perturbava mas que me instigava a continuar a ler. Até que cheguei àquele capítulo, e aí tudo se tornou horrivelmente claro. Naquele capítulo todas as peças se encaixaram e tudo fez sentido na minha cabeça. É claro que a história lhe era familiar, pois se aquela era a minha história. A história de três anos da minha vida, três anos que eu tinha enterrado no mais fundo do meu cérebro, três anos que apenas me traziam amargos de boca e dores desnecessárias ao coração. Os nomes eram outros, os sítios tinham mudado de país, as paisagens eram geograficamente as mesmas. A casa estava reproduzida ao mílimetro, as horas estavam ali, irrevogavelmente presas nas folhas daquele livro. Tudo se tinha passado daquela forma, e agora já não havia muitas dúvidas sobre quem era a Paula da dedicatória. Restava, então, mais aquela humilhação, a última lâmina a encontrar o caminho para as minhas costas. Tanto tinha lutado para deixar aquele período da minha vida perdido nas teias do passado e agora ele entrava de novo, de rompante, na minha vida, imperdoavelmente deixando-me novamente de rastos. Tentei convencer-me que ela não podia ter feito aquilo, expôr a nossa história para todo o mundo a ler, a conhecer, a devorar enquanto best-seller. Mas era inútil, o mal estava feito, nada faria o tempo voltar atrás para que pudesse impedir a publicação da minha história. Minha e da Paula. Nada restava. Levantei-me do banco de jardim e apertei o casaco, afastando de mim o vento de final de tarde que varria o jardim. Peguei no livro e, discretamente, deixei-o cair na papeleira ao lado do banco. Ficaram ainda muitos capítulos por ler. Não precisava de o fazer, sabia exactamente como a história acabava. Sabia perfeitamente quais seriam as palavras que apareceriam antes do derradeiro ponto final. Já conhecia o fim. Já tinha vivido o fim. Não o queria, de forma alguma, ler mais uma vez. Basta. Ganhaste. Só quero chegar a casa o mais depressa possível. Antes que o sol se ponha.


domingo, fevereiro 03, 2013

A Noiva Judia

     "Não te esqueças que se uma parte é ilusão a outra é
verdade. Foi mesmo ela que te amou. Mas há coisas que
se não dizem. Como estas. E, claro está que não vale a
pena pensar nisso e não se pode evitar. As coisas inúteis
são preciosas para almas sem sossego como as nossas.
É quase belo agora. A noite que caiu guarda tudo nas
suas mãos fechadas e o brilho dos teus olhos é o de uma
estrela de que não me lembrarei. Dorme agora."

Pedro Paixão

 

domingo, janeiro 13, 2013

Uma Noite em Nova Iorque

"Os nossos sentimentos pela pessoa que amamos são sempre
egoístas porque só tratam da nossa felicidade, mesmo se lhe
oferecemos incondicionalmente o nosso mundo inteiro e vive-
mos para ela enquanto estamos apaixonados; um dia, se dei-
xamos de sentir esse amor, se deixamos de precisar dela, nesse
exacto instante partimos com pressa e sem olhar para trás.
Partimos sem dor - sem a nossa dor, pelo menos -, como se
não houvesse uma história, como se não lhe tivéssemos jurado
o nosso amor, como se nunca tivéssemos precisado dela real-
mente e tivesse sido tudo uma representação, sabes, coisas que
se dizem para ganhar vantagem emocional. Acreditaste em tudo
o que te disse? Desculpa, mas não sou a alma boa que fazias de
mim, eu avisei-te, não me ouviste. Não te quero mal nem quero
que me odeies, mas tenho de pensar em mim, na minha feli-
cidade futura, que não passa por ti. E partimos, não podemos
continuar, não há uma responsabilidade, uma obrigação, uma
moral que nos obrigue a gostar como dantes, voltamos costas,
simplesmente."

Tiago Rebelo

 

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Ruth

Peço imensa desculpa, menina Victoria, mas há outra musa a invadir os meus sonhos sonoros. Sim, sim, a menina Victoria também lançou um disco muito bom o ano passado, mas a musa Ruth e demais comparsas criaram uma belíssima obra-prima musical. E a voz da Ruth, e a guitarra da Ruth, e tudo e mais alguma coisa...


Ai Ruth, Ruth, Ruth...