Amigo, ainda bem que passaste por este Espaço. E acredita em mim quando te digo que não estou a ser irónico. Sabes bem, tu que me conheces e que pertences à categoria que referi no post anterior, que prezo muito a tua opinião, ainda que contrária à minha. Digo ainda bem que por aqui passaste, porque é sinal de que há, nesta "casa", espaço para discordar do autor dos escritos que por aqui aparecem. Tal como tu, preferia que este debate à volta do referendo fosse feito à volta da discussão de ideias, e não centrada na troca de insultos. Quando ainda falta quase um mês para a data do referendo, parece-me impossível que tal vá acontecer. Talvez por ser um assunto que envolva mais emoção que objectividade, porque "a moral e os bons costumes" continua a ser um cliché perfeitamente identificado com este país. Tu poderás não chamar assassino a ninguém, mas já houve vozes do Não que gritaram assassinos, terroristas ou que compararam esta questão à execução do Saddam (caso do sr. Bispo de Bragança-Miranda) ou, como num powerpoint que recebi esta semana (de uma pessoa amiga), a compararem a questão à volta do referendo com os julgamentos de Nuremberga, ou seja, o Holocausto (de mau-gosto, na minha opinião). Também o Sim já teve a sua quota parte de insultos, entre gritos de hipócritas ou atrasados mentais. Da minha parte apenas posso dizer que sim, acho a lei, como está, uma hipocrisia e sim, também considero hipócritas aquelas pessoas que votaram "a favor da vida" no referendo anterior e depois viraram as costas a tarefas fundamentais como o planeamento familiar, a educação sexual ou o acompanhamento de grávidas "com dúvidas", chamemos-lhe assim. Serei igualmente crítico se desta vez o Sim ganhar e tudo permanecer na mesma, é preciso não haver desresponsabilização da nossa sociedade neste ponto. Tanto eu como tu, meu amigo, somos cristãos mas eu discordo da posição que a Igreja tem assumido neste assunto, como em outros também relacionados com este assunto. Acho que é necessário uma maior abertura de espírito, e não me parece que o Sim neste referendo seja um "retornar à Idade Média", como já ouvi da parte de alguns sectores da Igreja. Também aqui provavelmente discordamos mas isso também se deverá aos nossos diferentes percursos à volta da nossa religião, certo? Para finalizar apenas gostava de mencionar duas coisas que subscrevo inteiramente. Primeiro, e nas palavras do meu leitor Stephen King,
"Mas espero que o sim vença desta vez. Inquivocamente. Embora ache que a Assembleia da República, com a reserva de lei que lhe assiste devesse legislar nesse sentido, sem referendos. Esta é uma questão de saúde pública, de dignidade humana, de uma escolha tão pessoal relativa a algo tão íntimo que qualquer intervenção moralizante ou legislativa é, no mínimo, inaceitável."
E em segundo, nas palavras do nosso (meu e teu) amigo Suburbano,
"As mulheres portuguesas não querem ir a correr para os hospitais fazer abortos. Nem a liberalização legal desta matéria impõe qualquer tipo de comportamento a uma portuguesa que seja. Apenas se pretende ter uma lei que o permita fazer até às 10 semanas, sem que isso seja uma violação da lei do país, da lei moral de alguns e motivo de chacota ou descriminação, até porque muitas vezes colocam em risco a sua própria vida."
Amigo, espero que não vejas este escrito como uma confrontação mas sim como um esclarecer da minha posição perante ti. Nunca escondi o facto de que defendo o Sim no referendo, mas não quero que os meus amigos (extra-blogoesfera, porque também há vida lá fora) que não concordam comigo pensem que me estou borrifando para as suas opiniões. Isso seria uma mentira. No dia 11 de Fevereiro, eu irei votar no Sim e tu no Não. E quando sairmos das urnas, iremos ao café, pôr a conversa em dia e mostrar a todos que a amizade dura muito mais que todas estas palavras...
3 comentários:
Muito bem! "Quem fala assim, não é gago"! Estou inteiramente de acordo! Eu lá estarei nas urnas, dia 11, para votar SIM!
Beijos
sonialx
também recebi esse ppt e até fiquei enjoada psicologicamente.
tu devias ter um tempo de antena televisivo! :)
Amigo, o problema da fundamentação fundamentalista (perdoa a cacofonia), é que o segundo conceito elimina o primeiro. E quando não restam argumentos ou lógica ou racionalidade, fica o vociferar da cartilha autista.
E claro que é legítima a diferença de opiniões, mas onde o que está em causa são questões tão graves, a consciência poderá decidir, mas é a lei que tem de definir.
Por isso, lá estarei.
E votarei SIM, pois claro.
Abraço
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