Sempre vigiada de perto por guarda-costas dedicados, a menina de aspecto frágil que já sobreviveu a vários atentados não tem papas na língua: «Ainda vivemos sob o poder dos senhores da guerra. Estes criminosos não olham para as mulheres como seres humanos», afirma convictamente. São afirmações como esta que provocam a ira dos seus pares masculinos no parlamento e daqueles que ainda olham para o Afeganistão como a sua coutada pessoal. «Quarenta por cento das pessoas não têm emprego e muitas morrem de frio, mas o governo recebe milhões. Se nem podemos falar de segurança, como vamos falar dos direitos das mulheres?», questiona."
(in Notícias Magazine, de 20 de Maio de 2007)
Não consigo imaginar o quão dura será a vida de uma mulher afegã. Ou de uma criança afegã. Ou de um afegão que não goste de guerra nem de cultivar ópio, e apenas se preocupa em sobreviver mais um dia com a sua família. Num país que até há pouco tempo era dominado pela pior forma de fundamentalismo religioso, aquele que cerceia todos os aspectos de uma sociedade em todos os seus detalhes, onde o verdadeiro poder (associado ao inevitável cifrão) ainda hoje se mantém nas mãos de uns poucos ditadores de trazer por casa, é de louvar os esforços de alguém que luta por melhorar as condições dos cidadãos do seu país, especialmente daqueles em que já não há limiares de pobreza que sustentem a sua miséria diária. Acrescentando a quase indiferença a que o seu género é votado nestes latitudes, o exemplo de Malalai Joya é único e merece a admiração de todos aqueles que defendem o direito à liberdade e à dignidade humana. Mesmo que a visibilidade dos pequenos passos como a redução do uso da burka ("os fantasmas azuis") seja aquilo que vulgarmente atrai os media, há também outros grandes passos que têm sido conseguidos e devem ser exaltados, como o fim dos apedrejamentos públicos (leia-se execuções) de mulheres supostamente adúlteras. Trata-se, pois, de acreditar, acreditar sempre que podemos fazer a diferença nas vidas dos outros, sem ter medo de pôr a nossa própria vida na linha de fogo.
1 comentário:
É por estas e outras que o chamado "relativismo" cultural tem de ceder perante valores fundamentais da dignidade e liberdade da pessoa humana.
Sejam homens ou mulheres, não há justificação para a defesa de coisas como a misoginia violenta e não raras vezes homicida.
Subscrevo integralmente!
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