José Eduardo Agualusa
segunda-feira, novembro 17, 2008
As Mulheres do meu Pai
"Tive um grande amor e perdi-o. Não teria sido um grande amor se o não tivesse perdido. Penso nele constantemente. Deito-me, para dormir, e vejo-o. Adormeço e vejo-o. Acordo e vejo-o, adormecido, ao meu lado. O meu erro. O meu pecado. O escândalo que destruiu o futuro que a minha mãe sonhou para mim. Hoje, não consigo amar ninguém, entregar-me com verdade e paixão a quem quer que seja, pois por mais que me esforce, fechando os olhos, exercitando o esquecimento, não posso impedir-me de cotejar os corpos que levo para a cama com o corpo do meu perdido amor, e em todos descubro, nauseado, insuportáveis falhas. A firmeza da pele, a justa cor dos olhos, o riso de troça, com que me repelia, a forma como inclinava a cabeça para me olhar, as pernas altas e longas, a voz de penumbra entre os lençóis."
José Eduardo Agualusa
José Eduardo Agualusa
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