Era isso que acompanhava o teu postal de Natal. Apenas e só.
Confesso que não estava à espera. De rigorosamente nada. Afinal, não era como se tivéssemos ficado um par de bons amigos. Muito pelo contrário. Assim de repente, não me lembro de um ódio mais visceral que me tenha acompanhado durante a minha vida. E não minto se disser que do teu lado as palavras que poderias escrever sobre nós não seriam muito diferentes daquelas que agora aqui deixo. E mesmo assim deste-te ao trabalho de me mandar aquilo.
Uma fotografia banal. Uma fotografia de uma rua que podia ser a rua de uma qualquer cidade, ou vila, ou aldeia, de um qualquer país não identificado.
Só tu e eu sabemos o que aquela rua significou. Só no passado. Hoje significa pouco mais que nada.
E mesmo assim colocaste-a num envelope e mandaste-a para mim.
Poderia ficar a questionar-me para todo o sempre. Mas no fundo, ou mesmo à flor da pele, sei perfeitamente porque o fizeste. Porque, como já aqui escrevi, o teu ódio por mim parece não conhecer limites nem prazos de validade. E para ti, o rodar da faca, o fluir do sangue, a estocada final, veio dentro de um envelope, qual presente envenenado. E olhando para o preto e para o branco, quase consigo ouvir o teu riso, o riso de alguém que sabe que se antecipou ao meu próprio desejo de te magoar. Sim, é verdade, eu próprio queria ter feito isto. E não fosse o infindável labor destes dias, seria isso mesmo que eu teria feito. Assim, resta-me ficar aqui, consumido pela minha dor e imaginar-te troçando de mim, de nós, de tudo aquilo que ficou para trás das nossas costas.
Seria tão fácil rasgá-la, mas acho que a vou colocar naquela moldura que me ofereceste o ano passado. Afinal de contas, nunca fizeste nada ao acaso, nem mesmo quando tiraste a fotografia...
3 comentários:
Muitas vezes o que conta mais é a lembrança. Sem sabermos alguém pensa em nós.
abraço, um 2008 dourado.
Muito bom...
Vénia.
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