"Crer, acreditar, significa entregar-se confiadamente a Deus. E agir em consequência.
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Na Escritura diz-se que os demónios também acreditam em Deus. Mas isso não faz com que eles se tornem bons.
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e neste sentido, o cristianismo está para lá da confessionalidade religiosa, surge como verdadeiramente universal. Trata-se de fazer bem àquele que precisa, independentemente de tudo, e até da sua religião.
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O mais importante é o amor entre os seres humanos, é fazer o bem, e fazê-lo de modo verdadeiro, e eficaz - não falo da pequena caridade, mas da transformação das estruturas sociais, políticas, económicas, de tal modo que todos os homens possam realizar a sua humanidade.
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Um Deus em nome do qual se fazem guerras é um Deus abjecto. Um Deus que às vezes se anuncia contra a ciência é um Deus no qual não se pode acreditar. Um Deus que se confunde frequentemente com o dinheiro é um Deus idolátrico. Um Deus que humilha, que discrimina, que escraviza, que impede as pessoas de se cumprirem como homens e mulheres, que deus-ídolo é este? É então preferível ser ateu.
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A Igreja, que é universal, tem alguns problemas pela frente. Um deles tem a ver precisamente com as mulheres. É preciso que se reconcilie com as mulheres.
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A Igreja Católica não pode pregar os direitos humanos fora dela, quando não os pratica no seu seio.
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Mas o fundamentalismo é anti-religioso, no sentido profundo da palavra.
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Nenhum homem nem nenhuma mulher, nenhuma religião, nenhuma política, nenhuma ciência, nenhuma filosofia possui o fundamento. É ao contrário: é o fundamento que nos possui.
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Por vezes há religião a mais, sim.
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As palavras das celebrações têm de ser vivificantes, têm de poder dar um horizonte de sentido à vida das pessoas, que é tão complexa. Palavras vivas contra a banalidade, contra o consumismo, contra o rasteiro e a superfície.
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O cristão não pode pretender converter o budista, nem o inverso. Porque não dialogamos os dois para nos convertermos ao mistério, e sairmos reforçados, o cristão mais cristão, e o budista mais budista? É para aí que devemos caminhar. E deste diálogo inter-religioso fazem parte os ateus. Porque são quem tem uma melhor situação para denunciar o execrável, a desumanidade da religião. Os ateus obrigam-nos a repensar, a acordar.
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A paixão por Deus tem de se traduzir em compaixão pela humanidade."
Pelo meio destas palavras também estou eu. E deve estar também aquele casal de ontem, com idades para serem meus avós, e cujas palavras me deixaram a mim sem as ditas cujas, fazendo-me um pouco mais feliz, no meu íntimo.