"queres que eu escreva, que te minta, que eu te diga mais como se o
resto fosse: tudo. Não escrevo. Dorme. Os meus rios não jorram desta
boca. As minhas mãos abriram uma na outra são poemas amedron-
tando os campos, repartindo. Não me chames. Eu morei aqui. Tenho
um quarto sem história num país ausente. Todas as manhãs canto
deitado na garganta, e ainda tenho medo. Todas as manhãs acordo e
emudeço. Nesta cidade os homens não chegam ao pescoço. Por isso
estalam nos sonhos, soberbos, por entre gatos parvos ruminando a
morte nas gavetas. Não quero biografia, quero memória. Não quero
a vida, quero o lugar do amor. E como as coisas demoram quando
de perto trazem: espaços, fracturas, certos castanhos acidentes. E esta
pequena falta de jeito para as coisas. As coisas.
Alguém encontrará o rosto no pão aflito. Parado, na noite. Abrindo,
a noite.
Ou não saber dizer: eu oiço mãos que tombam no silêncio."
4 comentários:
vejo que pelo menos esse já conseguiste ler. ou começar. vivam as férias!
"Os meus rios não jorram desta boca"
Nesta boca não desagua nenhum mar.
Beijo.
parace bom. convida à leitura.
'não quero a vida,quero o lugar do amor'
e que bem que se deve lá estar (...)
Obrigada pela partilha Nuno,gostei mesmo muito..
Enviar um comentário