domingo, janeiro 25, 2015

Dos pequenos prazeres desta vida


Ainda assim, fiquei com um certo receio de ir até à biblioteca.
Valha-me a estanta cá de casa, que nunca me desilude...

sábado, janeiro 24, 2015

o meu amante de domingo

"Alguém com uma vingança nunca está sozinho. Uma
espécie de negativo da paixão, destruída a fotografia.
O que foi luz é escuridão, o que foi escuridão é luz.
É dessa energia reversa, adversa, que brota a pulsão
de um amante: o pau como manguito à morte."

Alexandra Lucas Coelho


 

segunda-feira, janeiro 19, 2015

Artificial

ar.ti.fi.ci.al [ɐrtifiˈsjaɫ]
adjetivo de 2 géneros
1. que se faz por arte ou indústria; produzido pelo homem
2. postiço
3. que não é natural; afetado
4. dissimulado; fingido

(in Infopédia)


E esta seria a melhor palavra para, por vezes, como foi o caso de hoje, descrever a diferença entre a cidade grande e urbana e a pequena cidade do interior.
Mais vale substituir já as pessoas por autómatos.
Na volta, ainda devem conseguir um bocadinho mais de simpatia...
Vontade de praguejar...

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Wishful thinking

Vivemos com um défice de heróis.
Pessoas que possamos admirar, livres de quaisquer dúvidas sobre eles, sobre a sua personalidade, sobre a sua conduta. Precisamos desesperadamente de pessoas assim, que nos possam acordar da nossa inércia, do nosso sonambulismo quotidiano.
Será que vamos ficar eternamente a olhar para os heróis do passado, resignados a suspirar por um tempo onde alguém se levantava contra a injustiça, contra a falta de humanidade, contra a tirania e os déspotas?
Desejo que assim não aconteça.
Mas, tenho de admitir, a minha bitola será sempre alta, meus senhores e senhoras.
Herói não é quem quer. É quem não deseja esse reconhecimento, mesmo sendo a sua perfeita imagem.




(a dobrar, depois de quase uma eternidade...)


quarta-feira, janeiro 14, 2015

Sejamos nuvens

"Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis..."

José Gomes Ferreira

 

segunda-feira, janeiro 12, 2015

Intimidade

in.ti.mi.da.de [ĩtimiˈdad(ə)]

nome feminino

1. qualidade de íntimo; familiaridade
2. relações íntimas
3. vida íntima; privacidade
4. interioridade
5. qualidade do que proporciona bem-estar e privacidade

 (in Infopédia)

 

domingo, janeiro 11, 2015

Com amor,

Gaspar gostava de escrever dedicatórias. Era incapaz de oferecer um livro, a sua prenda de eleição, sem que houvessem umas palavras suas por ali escritas. Um pequena intromissão nas grandes histórias que tinha em prazer em oferecer a quem gostava. A culpa seria do seu Tio Tomás, o principal mecenas da sua biblioteca privada. Não sabia quantas centenas de livros lhe teria oferecido o Tio Tomás ao longo da sua vida. Desde os primeiros livros de aventuras que ele lhe tinha oferecido, mal soube que ele já dominava o alfabeto, até aos livros das grandes questões da humanidade que lhe foi oferecendo à medida que crescia idade adulta dentro. Partilhavam a mesma paixão pela leitura e isso sempre tinha feito deles cúmplices e amigos íntimos. Havia apenas uma constante do primeiro ao último livro, as palavras escritas do Tio Tomás na primeira ou segunda página em branco, onde podia deixar o seu próprio prefácio personalizado ao seu sobrinho. De "meu pequenino Gaspar", passando por "meu querido sobrinho", até "meu sobrinho amigo", havia sempre algo novo para o Tio Tomás lhe ensinar, através dos seus pequenos escritos, bem como das histórias que lhe seguiam, fossem elas de Verne, de Torga, de Roth, de Saramago, de Clarke, ou de qualquer um dos seus escritores predilectos. Assim, tornou-se apenas natural que Gaspar passasse também ele a escrever dedicatórias nos livros que oferecia a familiares, amigos, namoradas, colegas. Eram sempre palavras do momento, nada planeado, tudo vindo da sua mente e do seu coração especialmente dirigido à pessoa a quem estava a oferecer o livro. Se calhar, também tinha sido por aí que tinha conquistado Teresa. Pelas suas palavras sinceras, arrebatadas pelo amor que sentia por Teresa. Ela também gostava muito de lert, ainda que não "devorasse" livros da forma como Gaspar fazia. Mas o que ela realmente gostava era de descobrir os livros que Gaspar lhe oferecia, ao mesmo tempo que estremecia de ansiedade para ver que palavras teria escrito Gaspar dessa vez. E não tardou muito que Teresa se enamorasse por Gaspar e pelas suas dedicatórias. E estas passaram de um ainda tímido "amiga Teresa" para um já consumado "minha Teresa". Gaspar mostrava o seu amor todos os dias, mas colocava esse amor ainda mais emocionadamente nas palavras escritas nos livros que lhe dedicava. E antes de mergulhar no enredo do livro, Teresa lia e relia e relia as palavras de Gaspar, como as bonitas declarações de amor que eram, apenas e só para ela. E foi assim que a sua estante foi crescendo com o seu amor, livros e sentimentos partilhados numa vida a dois que ainda hoje continua.

Como é que eu sei isto tudo? Porque, no outro dia a Teresa emprestou-me um dos seus livros e pude ler as palavras escritas pelo Gaspar há quase dez anos, e percebi finalmente o amor que vejo entre os dois sempre que tenho prazer de estar com eles. Obrigado, meus queridos amigos. E que as dedicatórias do Gaspar à Teresa durem por muitos e muitos anos.


sábado, janeiro 10, 2015

31 anos depois...

As memórias são, quase sempre, um perigoso analgésico. Mais vale deixar o tempo correr como sempre correu, os seus grãos de areia a escaparem lentamente por entre os dedos das nossas mãos, de forma inevitável e implacavelmente.




"Love is all a matter of timing.
It's no good meeting the right person too soon or too late." 


sexta-feira, janeiro 09, 2015

Sol para 2015



Parece-me um desejo perfeitamente justificado.
Mesmo para quem teima em escrever demasiado pouco para ainda manter o tasco aberto.
Um bom 2015 para quem está desse lado.