sábado, janeiro 31, 2009

Pólos positivos


A chuva faz-me melancólico. Deve ser algo neuronal, pelo que não me peçam para tentar explicar esta minha relação com as gotas de água que caem do céu. E como me sinto assim, melancólico, e como ainda tenho a "vantagem" de estar a trabalhar, dá-me para pensar noutros dias, menos chuvosos, com menos ou nenhum trabalho, e sempre acompanhado dos meus pólos positivos. Aqueles que inundam o meu telemóvel de chamadas, sms's e mms's, e vice-versa. Aqueles cujos elos nasceram da mais improvável das situações, de onde não se esperaria que nascessem amizades assim, que dez anos passados parecem que duram há já uma vida inteira. Já temos muitos quilómetros emocionais percorridos, com ruas paralelas e perpendiculares inesperadas, mas nunca, nunca com becos sem saída. Estarei a ser o mais sincero possível quando digo que já não consigo imaginar a minha vida sem estes dois pólos. Penso que seja o maior elogio que posso dizer destas amizades que se entrelaçam e se entreajudam. Ainda que todos tenhamos as nossas ideias e particulariedades, que por vezes conseguem ser exactamente opostas, há algo que nos prende uns aos outros e não nos deixa entrar em rota de colisão. Na verdade, e nos dias que correm, posso até dizer que são o mais próximo de um irmão e de uma irmã que alguma vez tive, com os prós e contras que eventualmente isso possa ter. Mas que vale a pena correr por esta vida ao vosso lado, disso não tenho qualquer dúvida. Fica aqui o reminder, desejando que a chuva se ponha a milhas e que o sol regresse depressa...

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Serviço de utilidade pública - XXII


Na parede de uma casa-de-banho, num estabelecimento lisboeta.

Chain-blog 4.5.6.0

(compilação de uma série de "correntes" para as quais fui intimado numa única "posta")

8 desejos, sem qualquer ordem hierárquica:
  1. Pegar nos amigos e família, metê-los num A380 e fazer uma viagem à volta do globo, com mil e uma paragens em outros tantos sítios.
  2. Não precisar de pensar em dinheiro até ao final dos meus dias.
  3. Fazer uns anos de trabalho humanitário algures em África e, já agora, conhecer os meus "afilhados".
  4. Escrever uns livros e editá-los só para as pessoas que gostam daquilo que escrevo.
  5. Ter mais horas por dia só para ouvir música, descobrir música, ir a concertos de música e, com jeitinho, aprender a tocar qualquer coisa.
  6. Poder deixar a carta de demissão em cima da secretária da minha chefe.
  7. Reencontrar-me com todas aquelas pessoas que hoje apenas vivem no meu coração e nos daqueles que sentem a sua falta, nomeadamente poder voltar a "brincar" com as rugas da minha bisavó.
  8. Viver os anos suficientes para que todos estes sonhos se tornassem realidade.
(para a Sónia e para a Ms D.)

Uma foto que eu tenha tirado:


Uma banda da minha preferência, podem ser estes senhores:


As respostas às dúvidas existenciais:
  1. És homem ou mulher? Mr. Eastwood
  2. Descreve-te: O menino, o vento e o mar
  3. O que as pessoas acham de ti? Aos zig's zag's
  4. Como descreves o teu último relacionamento: Eléctrica cadente
  5. Descreve o actual estado da tua relação com a tua namorada/pretendente: A menina dança #1
  6. Onde querias estar agora? Cuba 1970
  7. O que pensas a respeito do amor? Like a drug
  8. Como é a tua vida? Ai que vida!
  9. Escreve uma frase sábia : Quando a alma não é pequena
(Para a Sónia e para a A)

(quem quiser percorrer estas "estradas de tijolo amarelo", esteja à vontade)

quinta-feira, janeiro 29, 2009

A conjura (em Barcelona)

"Pior: Luanda era um ninho de putas! Elas estavam
por todo o lado, mas sobretudo nas colmeias de
cubatas rudes que se derramavam numa torrente
de sons e de cheiros pelas encostas dos morros, e
também ao longo do porto, e ainda na alegria
esfuziante do negro bairro das Ingombotas. Eram
tantas que já nem suscitavam escândalo: tão activas
que delas se dizia movimentarem mais dinheiro do
que o Banco Nacional Ultramarino; tão ternas e tão
sábias que muitos comandantes não autorizavam o
desembarque dos seus marinheiros, receosos de que
estes uma vez em terra não mais quisessem voltar,
presos para sempre ao doce perfume das princesinhas
da noite."

José Eduardo Agualusa













"We are meant for each other and not meant for each other. It's a contradiction."

E eis que de facto o mundo parece chegar ao seus últimos dias. O sinal evidente é dado pelos não-vivos. Fartos dos seus sepulcros, dos vermes como única companhia, e do peso de toda aquela terra sobre os seus ossos, a sua paciência atinge o limite. Não compreendem o porquê de não poderem andar à face da terra, como os vivos, apenas pelo facto de o seu coração já não bater e de o seu sistema respiratório já não consumir oxigénio há muito tempo. Quando muito e tendo em conta os tempos que correm isso seria uma enorme vantagem. Com esta constatação, os cádaveres, termo tão depreciativo este, decidem que está na altura de sairem dos seus buracos e terem direito a caminharem neste mundo, de verem por si próprios como está o planeta do qual apenas só conhecem o seu pedacinho de solo, morada dita eterna. Os vivos parecem não compreender muito bem esta curiosidade latente de quem não respira, já que perante as visões dantescas (termo melodramático do qual só os vivos se lembrariam) de pedras tumulares abertas e gavetões vazios, fogem e gritam como se estivessem a ser invadidos por alienígenas cinematográficamente maléficos. Os mortos, um pouco encandeados com tanta luz depois de anos, décadas e séculos de escuridão, não compreendem estes seres vivos tão aterrorizados. Afinal de contas, na maior parte dos casos, o seu aspecto não é assim tão repulsivo. E afinal de contas, quem são eles para os julgar, experimentassem uns quantos anos sem direito a banhos, maquilhagens ou cirurgias plásticas, e veriam que o aspecto exterior é demasiado sobrevalorizado. Os não-vivos percebem perfeitamente, qual iluminação religioso-espiritual, que o que conta é o que temos dentro de nós. Seja esse interior preenchido pelos respectivos orgãos vitais ou não, é o nosso interior que nos define, respiremos ou não. E exactamente por esta razão, e depois de alguns dias vagueando pelo planeta, afugentando os vivos e mesmo criando espirais de pânico pouco compreensíveis, os não-vivos chegam a uma conclusão tão inacreditável que os deixa de queixo caído (ou nalguns casos efectivamente de maxilar caído no chão). Este mundo é pior do que aquele que deixaram aquando da sua descida aos solos. Tudo está pior. Nada mudou para melhor e os mortos vêm-se confrontados com a terrível conclusão que ali não há nada para eles. Os vivos que fiquem com aquele mundo imprestável. Do seio dos não-vivos, emerge um profeta, de ossos praticamente limpos de carne mas com enorme sabedoria. É dele que parte o apelo para o regresso às suas moradias sepulcrais. Todos saudam esta iniciativa, estranhamente unindo vivos e mortos à volta deste parecer. E é assim que os não-vivos iniciam o seu lento regresso aos cemitérios, fechando as suas campas e deixando atrás de si um mundo verdadeiramente putrefacto, digno de todos os vivos que o habitam. Lentamente, muito lentamente, as cancelas dos cemitérios se vão fechando para nunca mais se abrirem ao mundo exterior. O último a fechar a porta é o profeta, enquanto lança um último olhar lá para fora, para a parede onde deixou a sua última profecia, uma espécie de postal de boas-vindas para todos os vivos.


terça-feira, janeiro 27, 2009

Caras da mesma moeda

"Rejecting any denial of the Holocaust as a historical event, either in full or in part, the General Assembly adopted by consensus a resolution (A/RES/60/7) condemning "without reserve" all manifestations of religious intolerance, incitement, harassment or violence against persons or communities based on ethnic origin or religious belief, whenever they occur. It decided that the United Nations would designate 27 January -– the anniversary of the liberation of the Auschwitz death camp -- as an annual International Day of Commemoration to honour the victims of the Holocaust, and urged Member States to develop educational programmes to instil the memory of the tragedy in future generations to prevent genocide from occurring again, and requested the United Nations Secretary-General to establish an outreach programme on the "Holocaust and the United Nations", as well as measures to mobilize civil society for Holocaust remembrance and education, in order to help prevent future acts of genocide. The Holocaust was a turning point in history, which prompted the world to say "never again"". The significance of resolution A/RES/60/7 is that it calls for a remembrance of past crimes with an eye towards preventing them in the future."
(daqui)


Mas acontece que mesmo depois de um facto tão determinante na história mundial como foi o Holocausto, que fica hoje mais uma vez marcado, nem assim deixamos de assistir ao genocídio de seres humanos, o seu sangue manchando as mãos dos seus carrascos, também eles seres humanos. E por vezes a distância de uma geração parece não fazer qualquer tipo de diferença, nem mesmo quando os papéis quase parecem inverter-se. E é por estas razões que as vítimas serão sempre e apenas os inocentes de ambos os lados do conflito, aqueles que tombam à mercê das balas, aqueles que não pediram para fazerem parte da guerra, aqueles que apenas aspiram a uma fugaz felicidade, com uma réstia de liberdade.

E é por isso que assistir a Valsa com Bashir, que tive o previlégio de ver ontem, é obrigatório, mais não seja para nos deixar a pensar sobre quanto valem os nossos princípios, quanto vale virar as costas à morte, e acima de tudo pensar que provavelmente aquilo que está na génese de qualquer massacre de inocentes acaba por ser muito semelhante, seja qual fôr o povo chacinado. Que palavras como etnia, religião, território, fanatismo valem rigorosamente zero quando confrontadas com o cadáver ensanguentado de uma criança.

E mesmo que nos instantes finais do filme sejamos confrontados com as imagens reais do massacre, todos os cenários, personagens e situações reais recriadas em animação que ficaram para trás, já foram mais que suficientes para nos deixar com o sentimento desconfortável que apenas uma guerra nos pode dar. E acima de tudo, deixa-nos a pensar na crueldade da passagem do tempo.

domingo, janeiro 25, 2009

Acima de tudo, o amor

"Ainda que eu falasse línguas,
as dos homens e dos anjos,
se não tivesse amor,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.

Ainda que tivesse o dom
da profecia,
o conhecimento de todos
os mistérios e de toda a ciência;
ainda que tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,

se não tivesse amor, nada seria.

Ainda que eu distribuísse
todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse
o meu corpo às chamas,
se não tivesse amor,
nada disso me adiantaria.

O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho.

Nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse, não se
irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais passará.
As profecias desaparecerão,
as línguas cessarão,
a ciência também desaparecerá.

Pois o nosso conhecimento
é limitado;
limitada é também a nossa profecia.

Mas, quando vier a perfeição,
desaparecerá o que é limitado.

Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança.

Agora vemos como em
espelho
e de maneira confusa;
mas depois veremos face a face.
Agora o meu conhecimento
é limitado,
mas depois conhecerei
como sou conhecido.

Agora, portanto,
permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor.

A maior delas, porém, é o amor."


S. Paulo

Serviço de utilidade pública - XXI


Massamá norte

quarta-feira, janeiro 21, 2009

6 a 0

E é disto que se faz a vida. De celebrações e despedidas. De alegrias e tristezas. De segundas-feiras em que nos despedimos de alguém que marcou a nossa vida e que na realidade nunca conhecemos pessoalmente. De quartas-feiras em que celebramos a vida e o passar de mais uma primavera de uma pessoa sem a qual literalmente não existiríamos. De segundas-feiras em que apenas podemos dizer adeus, João, e obrigado por tudo o que nos deixaste sob a forma de sons inesquecíveis. De quartas-feiras em que dizemos alegres parabéns, Pai, e obrigado por teres partilhado a tua vida com a minha, que ainda agora apenas chegou a metade dos passos que já deste na terra. Feliz aniversário, sr. José. Ainda tens muito caminho a percorrer, mas de vez em quando ainda deixas fugir um daqueles sorrisos que te tornam eternamente jovem...

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Descansa em paz

"Firme nas convicções, determinado nos objectivos , invulgar na forma de ser e estar na vida, desde sempre grangeou respeito e admiração no meio musical, ainda que nunca tivesse procurado o estrelato."

Foi com angústia que soube que este senhor nos deixou, aqui no mundo dos vivos. Fico com imensa saudade desta alma que me soube cativar para o seu universo musical, primeiro com a energia dos Sitiados, e depois com a beleza triste d'A Naifa. É pena termos agora apenas a nossa imaginação para nos guiar até onde o João nos levaria a seguir, na sua viagem pelas notas musicais. Fica, ali ao lado, a melhor homenagem possível, na forma de uma das suas músicas.

Auditoria

nome feminino
1. cargo de auditor
2. tribunal ou repartição onde se exercem as funções de auditor
3. ECONOMIA fiscalização da contabilidade e da gestão de uma empresa ou de um organismo
4. ECONOMIA diagnóstico que visa analisar a gestão e a situação financeira de uma empresa ou organismo
(De auditor+-ia)

(in Infopédia)


Começo a ficar cada vez mais cínico em relação a esta palavra.
Sinto-a como um mal anunciado que, antes de colocar o primeiro pé dentro de casa, já há muito tempo se fez anunciar.
De tal forma que os esgares de surpresa pela sua chegada chegam a ser patéticos...

A idade não perdoa...

terça-feira, janeiro 13, 2009

o apocalipse dos trabalhadores

"a felicidade, pensava ela, não sei o que é. sei que não somos umas máquinas sem paragem. não podemos estar para aqui a trabalhar enquanto nos pedem que passemos da cera do chão para a partilha das memórias mais difíceis da vida."

valter hugo mãe

sábado, janeiro 10, 2009

Momento de reflexão pós-varicela






Dez dias depois

Mesmo a respirar o ar frio que anda lá fora...
Se um dia, por mero acaso, e por razões perfeitamente desconhecidas, fôr parar ao cárcere, já sei qual vai ser a sensação do momento da abertura dos portões...
O que vale é que as borbulhas estão em risco de perfeita extinção...

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Garrafa

"Vá
uma morte louca
simpática
acolhedora
que não dê muito que falar
mas que também não gere
um silêncio excessivo"

Mário Cesariny


Lá estava ele no sítio do costume. No banco do costume, com o copo do costume. Copo atrás de copo, assim ele se ia mantendo por ali. Com as caras usuais à sua volta, enubladas como a sua, com almas tão turvas e perdidas como a dele. Camaradas de infortúnio, ou amigos inebriados, ou colegas de alegrias passadas, a definição variava de acordo com a quantidade de alcoól ingerido. Dia após dia, era a única rotina que tinha ou que procurava ter. Saía quase a correr do trabalho, fugindo das angústias e cabelos brancos que o mesmo lhe provocava. Ia direito ao café que era quase a sua segunda casa. Sim, sabia que aquilo não passava de um escape, uma forma de fugir à sua realidade quotidiana, pobre de tudo aquilo que um dia tinha imaginado que a sua vida podia ser. Uma máscara, um subterfúgio para continuar a poder dizer a si próprio que tudo estava bem. Nas primeiras vezes tinha gostado genuinamente do sítio e nem sequer era pelas bebidas. Gostava de encontrar aquelas caras simpáticas e humildes, sempre prontas para dois dedos de conversa ou para assistir pela televisão ao jogo dessa semana. Aos poucos começou a fazer parte daquela família, que se reunia à volta daquelas mesas, pedindo imperial atrás de imperial e às vezes bebendo uma ou outra espirituosa, como se fosse um pequeno prazer envergonhado perante aquele público anónimo. Imaginava que as coisas tinham derrapado quando esta fórmula de beber se inverteu e começou a perceber que não conseguia terminar o dia sem repetir a mesma bebida pelo menos uma meia dúzia de vezes. A ânsia começava assim que chegava ao escritório e até à hora de saída já não conseguia pensar noutra coisa. Quando entrava no café era saudado pelos seus pares. Ao início efusivamente, depois já quase e apenas por boa educação, numa altura em que a bebida era a sua única companhia a um canto escuro, a única que não o recriminava pela sua tristeza e melancolia. E assim foi escorrendo pela sarjeta em que a sua vida se começava a tornar. O prazer passou a vício e a história encaminhava-se para um fim triste. Curiosamente isso aconteceu num dia histórico. Obama acabava de ser eleito e por um breve momento todos os telejornais e canais de notícias esqueceram todas as crises, todas as guerras, todo o mal à face da terra, e a esperança era uma palavra repetida até à exaustão nos rodapés de todas as televisões de todo o mundo. E nesse dia, sentado na sua mesa, em frente a um copo vazio, e olhando para o ecrãn do televisor, também ele sonhou que a sua vida ainda podia ter um rasgo de esperança e as nuvens podiam ainda dissipar-se de uma vez. Nesse preciso segundo, o seu coração parou para sempre e aquela tinha sido a sua última bebida. Ali ficou, no canto, ignorado pelos seus comparsas, que só se aperceberam mais tarde do sucedido. Quando se aperceberam que o sorriso na cara daquele homem era do tamanho do mundo...

(Escrito a 5 de Novembro de 2008)

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Condição humana - II

A imagem aqui de baixo simboliza o momento em que um pequeno grande filme se torna um grande enorme filme. O momento em que Christopher McCandless se apercebe de que falta algo. Algo para tornar a sua felicidade verdadeiramente marcante. Porque se ao longo do filme nos apercebemos da sua vontade única de viver, também observamos o quanto ele próprio vai marcando a vida de tantas e tantas pessoas, com essa mesma vontade de saborear a vida sem barreiras ou hipocrisias. E penso que seja isso mesmo que ele, no fim, também se apercebe, de que necessita que alguém também o marque, que partilhe a felicidade de viver com ele.

Costuma dizer-se que mais vale tarde do que nunca. E mesmo que não passe de um apontamento rabiscado num livro antigo, o certo é que as palavras estão lá. E agora, depois de ver o filme, as imagens também estão lá, na minha cabeça. E graças a um cineasta poderoso como Sean Penn e a um actor tão sublime como Emile Hirsch, também o homem que foi Cristopher McCandless não irá deixar os meus pensamentos tão cedo. Porque se parte de mim se revê (ou gostaria de se rever) nas viagens e experiências que ele viveu, uma outra parte de mim acredita piamente naquele apontamento rabiscado, e acredita que a vida sem isso mesmo acaba por ser uma viagem demasiado solitária.

Condição humana

"The sea's only gifts are harsh blows, and occasionally the chance to feel strong. Now I don't know much about the sea, but I do know that that's the way it is here. And I also know how important it is in life not necessarily to be strong but to feel strong. To measure yourself at least once. To find yourself at least once in the most ancient of human conditions. Facing the blind death stone alone, with nothing to help you but your hands and your own head."


terça-feira, janeiro 06, 2009

O porquê de dar...

... porque eventualmente acabamos por também receber, nem que seja em forma de éter.


Estação de Inverno, hoje às 23:00, na Rádio Zero.
Repete no sábado, às 14:00.
Autoria do amigo e mestre Gi.


sábado, janeiro 03, 2009

Chaga(s)

nome feminino
1. ferida aberta
2. incisão na casca das árvores
3. figurado pessoa importuna
4. figurado aflição
5. figurado mágoa
6. figurado pecha; defeito
7. BOTÂNICA planta trepadeira ornamental da família das Tropeoláceas, com flores amarelas, laranja ou vermelhas, também conhecida por capuchinha
8. flor desta planta;
figurado chaga viva desgosto profundo, grande miséria;
figurado pôr o dedo na chaga indicar a causa do mal
(Do lat. plaga-, «golpe»)

(in Infopédia)

Por estes dias, de cada vez que olho para o espelho, sinto que caso estivéssemos noutro tempo, ou noutra sociedade, ou simplesmente não tivéssemos todo o conhecimento médico-científico acumulado de muitos séculos, eu já estaria excluído desta mesma sociedade, relegado para debaixo de um tapete, longe da vista das pessoas saudáveis e belas. Ou então estaria a ser condenado por algum tribunal religioso, acusado de feitiçarias várias ou pactos com demónios múltiplos, e o meu estado deplorável seria a prova perfeita de que (um qualquer) deus me estaria a punir pela minha caminhada pelos reinos do mal. Em qualquer um dos casos, e voltando ao meu espelho, a imagem que me chega é de memória. A memória de quantas incontáveis vezes a ignorância e o medo do desconhecido guiou tantas e tantas vezes o destino da raça humana. E de como ainda hoje o faz. Seja em Nova Iorque, no Cacém, em Gaza ou em tantos pontos espalhados por esse planeta fora...

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Comichão

Então querias começar 2009 com o pé direito?
Que tal como uma visitinha logo pela manhã ao Amadora-Sintra, só para descobrir que, ironia das ironias, acabaste de ganhar um diagnóstico de varicela?

Pode ser que amanhã, só numa de equilíbrio, o Euromilhões queira alguma coisa comigo...