quinta-feira, maio 31, 2007

Outro "bom" exemplo

"O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou fechar outro canal privado de televisão, desta vez a Globovision, acusando-o de ter incitado ao seu assassínio. Isto, três dias depois de ter encerrado, também por ordem de Chávez, a Rádio Caracas Televisão (RCTV), o canal privado mais antigo do país, uma decisão que colocou a Venezuela em pé de guerra. As manifestações no país contra o Presidente e em defesa da liberdade de expressão têm-se sucedido, com violentos confrontos entre manifestantes (sobretudo estudantes) e a polícia."

(in Diário de Notícias)

Outro incompreendido. Este, na verdade, apenas quer ser uma estrela de televisão. A única, pelo menos na Venezuela. Como ele achava que as suas dez horas de emissão na televisão estatal (onde é que já vimos algo similar...) ainda não chegavam a todos os lares porque alguns estavam distraídos com o entretenimento que vinha das televisões privadas, vai de ir levando a concorrência a sair lentamente de cena. Sim, que a liberdade de expressão é um bem fundamental e sempre defendido pela Esquerda, mas vamos com calma. Esta não é uma qualquer Esquerda, é a Esquerda que vai salvar o planeta do poderio demoníaco do senhor que vai salvar o planeta de todas as emissões de gases para a atmosfera... excepto as norte-americanas, que essas até contribuiem para uma camada de ozono mais bonita, mais esbelta. Resumindo, a norte ou a sul, ninguém se pode rir dos vizinhos naquele continente. Não estamos todos muito mais contentes que o "cartel ibérico" tenha decidido lançar-se ao mar há cinco séculos atrás?

(suspiro)

Ironia

substantivo feminino


1.
forma de humor que consiste em dizer o contrário daquilo que se pretende dar a entender;

2.
uso de palavra ou expressão em sentido oposto àquele que se deveria usar para definir algo;

3.
figura de estilo que veicula um significado contrário daquele que deriva da interpretação literal do enunciado (ex.: bonito serviço!);

(Infopédia)

"O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, apelou hoje à obtenção de um acordo sobre as emissões globais de gases com efeito de estufa até 2008 e propôs um plano a longo prazo assente nas chamadas energias limpas."

(in Público)

"The United States has refused to ratify the landmark 1997 Kyoto Protocol requiring industrialized countries to reduce greenhouse gases to 1990 levels by 2012. Developing countries, including China and India, were exempted from that first round of cuts. Bush rejected the Kyoto approach, as well as the latest German proposal for what happens after 2012.

"The United States takes this issue seriously," Bush said. "The new initiative I'm outlining today will contribute to the important dialogue that will take place in Germany next week."

(in CNN)

Então pensavam que o senhor era um parolo do Texas, que só sabia meter os pés pelas mãos e enfiar gaffes a torto e a direito no seu discurso... Não, temos é de fazer uma vénia a esta fina forma de ironia que o senhor nos concede, penso que melhor não seria possível. Pelos vistos, tudo serve neste momento para desviar as atenções do desastre no Iraque, até mesmo gozar literalmente com a destruição de todo o planeta. Ou será que o plano seguinte é mesmo esse? Afinal de contas, o W. é que tem o costume de dizer que, como outros grandes presidentes norte-americanos (Lincoln e Roosevelt, entre outros), os seus mandatos apenas serão correctamente avaliados daqui a quarenta ou cinquenta anos... quando todos já estivermos a descansar sete palmos debaixo da terra. Medo, muito medo...

quarta-feira, maio 30, 2007

"(...) Uma peça que nem sequer está fora do sítio... uma peça que não está em lado nenhum, e a Morte no fim do caminho a indicar que até para uma rosa há um destino a ser cumprido."

Saio para a rua. A minha alma já não aguenta estar entre aquelas quatro paredes, a sombra do desespero e da saudade sempre a pairar. Saio para as ruas da minha cidade. A cidade que deixei para trás mas que, no fundo, nunca me deixou. Por muitos quilómetros que me tivesse afastado, os seus nomes, as suas esquinas, os seus prédios, as suas pessoas sempre foram fantasmas, a assombrarem o meu cérebro nos piores dias. Nos dias em que percorria as ruas da minha outra cidade, olhava para o céu e me perguntava o que fazia eu ali. O desconhecido sempre exerceu o seu fascínio sobre mim, mas esse fascínio podia ser como o perfume efémero de uma rosa, deixando apenas um cheiro acre a traição. Teria eu traído a minha cidade de sempre? Seria por essa razão que ela tinha mudado tanto ao ponto de eu a achar irreconhecível? Ou seria a minha pessoa que tinha passado por tantas mudanças que me custava a encaixar novamente neste quotidiano de tempos passados? Precisava de ar. Respirar as ruas novamente, percorrê-las centímetro a centímetro, encontrar as amizades que não se esqueciam, reencontrar a minha mesa do meu café preferido. E, quem sabe, se fosse mesmo sortudo, cruzar-me com amores antigos, paixões com alguma chama ainda, nunca se sabia. Com um sorriso amarelo, depressa me apercebi que estava a enganar-me. Nada daquilo estava à minha frente. Apenas um pequeno mundo que já não era o meu. A vida ali tinha seguido o seu rumo, não necessariamente o mesmo que o meu. O sentimento de estrangeiro numa terra estranha já me era familiar, mas aqui? Na cidade que me tinha visto nascer e crescer? Não me sentia bem. A minha cabeça parecia estoirar. As minhas entranhas, sentia-as na garganta, a sufocarem-me. Parecia que ia desfalecer. Cair, ali, fulminado, como uma sensação de repetição se tivesse apropriado daquela casa. Tinha de sair. Sair dali. E caminhar. Caminhar em frente.

Coerência - III

Recomendo vivamente as bancas de oportunidades da Assírio & Alvim, da Relógio D'Água e da D. Quixote. Bons livros, bons preços, devia ser sempre assim...

Coerência - II

Não, não fiz greve. Estive apenas de folga. É a maravilha dos horários rotativos.

Coerência

Hoje, na Feira do Livro, a banca das Edições Avante estava fechada.

domingo, maio 27, 2007

A Writer

"'Interesting, but futile,' said his diary,
Where day by day his movements were recorded
And nothing but his loves received inquiry;
He knew, of course, no actions were rewarded,
There were no prizes: though the eye could see
Wide beauty in a motion or a pause,
It need expect no lasting salary
Beyond the bowel's momentary applause.

He lived for years and never was surprised:
A member of his foolish, lying race
Explained away their vices: realised
It was a gift that he possessed alone:
To look the world directly in the face;
The face he did not see to be his own."
Philip Larkin

Maçã


E como se isto já não fosse suficientemente bom, ainda tenho a felicidade de ser servido pela mulher mais bonita de Lisboa. Só o seu sorriso deixa-me engasgado...
Se todas as manhãs fossem assim...
Pois...

sexta-feira, maio 25, 2007

Sete

Visitar o meu "afilhado" em Moçambique.
Tirar um ano de férias.
Viajar pelo mundo durante esse ano.
Ver as mentalidades portuguesas mais abertas.
Celebrar as bodas de ouro dos meus pais.
Reunir todos os meus amigos num qualquer aniversário. Todos.
Ver o mundo com um pouco mais de paz.

Boas...
Credo!
Não há pachorra...
Oi!
Tudo bem.
Café?
Vai cagar à mata!

Ler e perceber.
Estar com os amigos.
Ser teimoso.
Ouvir música.
Fingir que sou o "help-desk" residente.
Comer.
Dormir.

Não ser sincero.
Magoar aqueles que amo.
Ser intolerante.
Ser mau profissional, independentemente das circunstâncias.
Ser insensível.
Não me importar com as consequências do que faço.
Ser irresponsável.

As tardes junto à praia.
Um jantar com os amigos.
Receber um telefonema de alguém que gosto.
A liberdade.
Dar prendas.
Ouvir música na cama.
O céu à noite no Norte.

Chuva.
Guerra.
Ódio desmedido.
Fome.
Indiferença.
Hipocrisia.
Injustiça.

(Era mais ou menos isto, não era? Um abraço, meu caro, e o convite fica para quem o quiser.)

Trim, trim. Trim, trim.


Só assim é que eram capazes de me acordar do meu sono...

quinta-feira, maio 24, 2007

Horas...

Parado. No meio do trânsito. Como de costume.
À sua volta tantas e tantas pessoas como ele. Como se todos estivessem parados no tempo. Minuto sim, minuto não, alguém decidia buzinar, como se isso fosse a panaceia para aquele mal. Mas ele não via aquela espera como mal. Não, na verdade via-a como uma dádiva. Uma oferta de um tempo extra que a sua vida diária já não lho permitia. Era um tempo em que podia abstrair-se do que o rodeava e pensar naquilo que realmente interessava. No seu casamento. No seu filho. Nos seus pais. Naquela relação que nunca devia ter nascido. A dor de cabeça que o tinha acompanhado todo o dia ainda permanecia por ali, a rondar. Mas sentia-se melhor. A dor tinha agora passado para o seu coração. Um coração que batia cada vez mais rápido, agora que se aproximava o momento em que terminaria tudo com S., de uma vez por todas. Ia custar-lhe, quebrar todas as promessas que tinha feito, diminuir a importância de todas aquelas tardes e noites de amor desbragado, quase doentio. Iria mentir como nunca antes tinha mentido. E contudo, provavelmente, não tinha necessidade de o fazer. M. parecia não desconfiar de nada e todos os dias demonstrava o amor que sentia por ele, como se fossem ainda namorados, há tantos e tantos anos atrás. Mas num recanto da sua mente, algo lhe dizia que tinha de ser. Tinha ficado em muitos engarrafamentos e pensado muito. Estava decidido, por muita angústia que sentisse. Era chegada a altura de rasgar a presença de S. do seu coração. As palavras que iria dizer estavam quase decoradas, com o nervosismo de um actor na sua noite de estreia. Nessa noite, quando os seus corpos cansados e consumidos pelo amor, adormecessem nos braços um de outro, chegaria a altura de as pronunciar e abrir as portas para uma tristeza conformada, resignada com o seu destino.
Parado. O seu coração. Como de costume.

segunda-feira, maio 21, 2007

Mentes pequeninas

"Todos temos direito ao nosso momento de profunda estupidez. É algo que subitamente nos aparece e que não poucas vezes nos faz veicular pela blogosfera aquilo que podemos chamar ideias de merda. E são de merda os muitos disparates que se têm escrito na blogosfera sobre a doação de sangue por homossexuais."

(no Dolo Eventual)

Eu não diria melhor, meu caro amigo. Eu não diria melhor.
Até porque há certas sensações que nunca deviam ser negadas a quem quer que fosse. Pelo menos não com base num preconceito idiota e sobranceiro.

(Sexo) Forte

"A sala é pequena e parcamente iluminada por um único candeeiro a petróleo. Há almofadas espalhadas pelo chão e numa delas está sentada a mulher do momento no Afeganistão. Num país onde o sexo feminino tem ainda um estatuto inferior, Malalai Joya já foi delegada na Loya Jirga, a grande assembleia de lideres, e é a mais jovem integrante do parlamento afegão. É também uma figura controversa, por muitos vista como uma combatente da liberdade e dos direitos humanos, que não teme as perseguições dos fundamentalistas.

Sempre vigiada de perto por guarda-costas dedicados, a menina de aspecto frágil que já sobreviveu a vários atentados não tem papas na língua: «Ainda vivemos sob o poder dos senhores da guerra. Estes criminosos não olham para as mulheres como seres humanos», afirma convictamente. São afirmações como esta que provocam a ira dos seus pares masculinos no parlamento e daqueles que ainda olham para o Afeganistão como a sua coutada pessoal. «Quarenta por cento das pessoas não têm emprego e muitas morrem de frio, mas o governo recebe milhões. Se nem podemos falar de segurança, como vamos falar dos direitos das mulheres?», questiona."

(in Notícias Magazine, de 20 de Maio de 2007)

Não consigo imaginar o quão dura será a vida de uma mulher afegã. Ou de uma criança afegã. Ou de um afegão que não goste de guerra nem de cultivar ópio, e apenas se preocupa em sobreviver mais um dia com a sua família. Num país que até há pouco tempo era dominado pela pior forma de fundamentalismo religioso, aquele que cerceia todos os aspectos de uma sociedade em todos os seus detalhes, onde o verdadeiro poder (associado ao inevitável cifrão) ainda hoje se mantém nas mãos de uns poucos ditadores de trazer por casa, é de louvar os esforços de alguém que luta por melhorar as condições dos cidadãos do seu país, especialmente daqueles em que já não há limiares de pobreza que sustentem a sua miséria diária. Acrescentando a quase indiferença a que o seu género é votado nestes latitudes, o exemplo de Malalai Joya é único e merece a admiração de todos aqueles que defendem o direito à liberdade e à dignidade humana. Mesmo que a visibilidade dos pequenos passos como a redução do uso da burka ("os fantasmas azuis") seja aquilo que vulgarmente atrai os media, há também outros grandes passos que têm sido conseguidos e devem ser exaltados, como o fim dos apedrejamentos públicos (leia-se execuções) de mulheres supostamente adúlteras. Trata-se, pois, de acreditar, acreditar sempre que podemos fazer a diferença nas vidas dos outros, sem ter medo de pôr a nossa própria vida na linha de fogo.

domingo, maio 20, 2007

"Quero fazer amor com vocês todos!!!"

Ou, por outras palavras, a felicidade é sexualmente transmissível.

Ou ainda, não se é feliz enquanto não se aprende a imitar o grito da gaivota.


Uma salva de palmas, Cláudia, e obrigado pela vodka e pelo "café descafeinado, se o quiserem assim imaginar". Ontem a felicidade andou por aquelas ruas inclinadas...

sábado, maio 19, 2007

Polaroides - IV


Ontem vi-me ao espelho. O espelho das emoções, não o da vaidade. Sete anos depois, vi a minha própria expressão ali, numa pessoa que me diz tanto. Foram continentes diferentes, países igualmente distantes, culturas complexas e com poucos vestígios da nossa. Mas não há dúvidas nenhumas, agora temos mais uma coisa que nos une e que vai eliminar alguma ferrugem que pudesse haver nos nossos elos. As histórias em catadupa, o brilho nos olhos, a saudade de um passado recente, o sentimento de estranho no próprio país, as amizades multinacionais, a urgência de contar tudo, de ter ouvidos atentos a todos os pormenores. E o coração apertado, por rever todas as emoções que foram também as minhas, há tanto tempo atrás. E gostei de te ver, de vos ver, e a imagem reflectida no espelho deixou-me um bocadinho melancólico, mas com uma sensação boa cá dentro. E depois lembrei-me do kit de sobrevivência que, como vês, ainda anda por perto. O bacardi já foi bebido há muito, os fósforos utilizados também, os palitos acho que ficaram lá, a milhares de quilómetros, e o devil condom... Bom... Enfim... Mas a peça mais importante do kit continua por aqui, depois de ter estado numa parede branca de um cubículo em Kangnam. Sê bem-vinda, V.

terça-feira, maio 15, 2007

Loopings


De emoções. Fechadas cá dentro.
Do mais alto azul ao mais fundo dos cinzentos impenetráveis.
Assim vão correndo os dias.
Menos televisão, mais palavras trocadas na ponta da língua.
Mais som, menos silêncio.
Assim vão correndo os dias.
Um dia a gente volta a ver-se.
Quando o sol brilhar mais intensamente e as nuvens ficarem lá, bem longe.
Assim vão correndo os dias.

quarta-feira, maio 09, 2007

Confissões de uma Máscara

"Chama-lhe uma espécie de oração, se quiseres. Classifica-a como uma simples cerimónia pagã a que toda a gente se entrega. Muito bem. Mesmo uma simples contrafacção não é de todo desagradável, quando já estamos habituados a ela, e sobretudo se percebermos que é uma espécie de sonífero de efeito instantâneo."
Yukio Mishima

Lembradura

O tempo escasseia? Sim, à superfície. Não, por acaso vai havendo tempo para tudo, para a música, sempre presente, para os livros, para o sol, para os amigos que se encontram numa lógica descoordenada e normalmente desprovida de demasiada preparação. Isto tendo em conta que o tempo profissional voltou em força e a rotina que vai regressando aos dias úteis. Por tudo isto, a escrita encontra-se arredada, escondida, missing in action. Quando fará a sua aparição, vinda mais uma vez do nada ao virar da esquina, gostava de saber. Será razão suficiente para ir vasculhar cadernos antigos, blocos com meia dúzia de folhas, guardanapos guardados, retalhos de toalhas de papel de restaurantes perdidos em tantos ermos? Penso que não. Isso é um castigo guardado para as almas mais ariscas...

Ou como cantava o outro, no recess, no recess...

(Foto de Bolaj)

domingo, maio 06, 2007

Mãe


O teu olhar desarma-me. Para o bem e para o mal. Obrigado por tudo e por nada.

quinta-feira, maio 03, 2007

Mulheres

07:24
Já tinha saudades de te ouvir, Inês, assim logo ao romper do dia, quando o sol ainda se espreguiça no horizonte e a tua voz invade o espaço do vw.

09:01
O teu sorriso fez-me falta. Aliás, mesmo antes de abril, ele já andava ausente há algum tempo. Espero que os ventos da mudança tenham mesmo chegado. Deus sabe que bem deles necessitas.

13:41
Desculpe, como disse? Não percebi nada, podia repetir?

18:18
Não estava à espera, deixaste-me desarmado quando nada o fazia prever. Por momentos ainda pensei que o teu caso tivesse solução e que, no final de contas, eras bem mais complexa do que davas a entender. Mas no minuto seguinte deitaste tudo por terra. Foste incapaz de segurar a máscara por tempo suficiente. A partir daqui já não há desculpas.

19:55
Ainda bem que ligaste. O dia foi comprido sem o ser realmente, mas ouvir a tua voz deu-me a confirmação de que eu precisava. Foi um dia igual a tantos outros. Obrigado.

quarta-feira, maio 02, 2007

Venda su alma

Porque há alturas em que apetece mesmo passar para o outro lado, esquecer que temos alma e simplesmente largar tudo e fazermos o que realmente nos dá na gana. Acordar tarde, ouvir música no máximo do volume, pegar no carro e conduzir por caminhos desconhecidos, fumar o maço todo, beber a garrafa toda, sentirmos o vento a soprar nos cabelos. Sem ter que pensar no dia de amanhã nem no que acontece ou deixa de acontecer. "Where do i sign, my dear devil?"

(Pintura de Bob Dob)