sábado, dezembro 30, 2006

Recta Final

O Citador brindou-me hoje com esta bonita frase do Camus:

"
A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente"

Não consigo pensar em melhores palavras para "enfrentar" o novo ano que está quase aí ao virar da esquina. Não sei o que me espera em 2007, não sei se será melhor ou pior que 2006. Não sei se anseie por grandes mudanças ou se desejo que apenas corra um bocadinho melhor que o ano que agora termina. Não sou pessoa para ficar a meditar longamente sobre isso. Prefiro pensar que com mais um revolver deste nosso pedaço de rocha onde todos vivemos nos tornemos todos melhores seres humanos. Pelo menos assim o desejo com todas as fibras do meu corpo. Boa recta final e um melhor início de um novo caminho anual. Para nós todos.



quarta-feira, dezembro 27, 2006

Memórias

Não conseguia pensar noutra coisa que não fosse o vento. Era sempre a primeira coisa que lhe vinha à cabeça quando recordava aqueles dias de folia. Primeiro a inocência das brincadeiras de criança habituais nos domingos de praia com a família. Depois a inocência perdida nos braços dela, no seio das dunas que se agitavam com o mesmo vento de sempre. Os seus corpos presos um ao outro, o calor do sol misturado com o seu próprio calor, a areia que voava ao redor deles. E onde tinham ficado esses dias? O tempo tinha-os enterrado bem fundo no seu coração, a memória tinha ajudado a cavar esse buraco. A imagem dela era já bastante desfocada, apenas se lembrava do azul dos seus olhos, que faziam o céu ficar pálido e as ondas do mar recuarem de vergonha. Um azul suficientemente poderoso para que ele se tenha perdido uma e outra vez na sua imensidão. E no entanto, tudo lhe era pouco familiar. As fotografias ajudavam-no a recordar-se, mas pouco mais. Apenas o som do vento nos seus ouvidos e a areia a bater-lhe suavemente no rosto. Apenas isso.

Exclusivo!

Exclusivamente aqui, o conteúdo da carta de Ahmadinejad ao Papa Bento XVI. Reza assim:

"Esteja descansado, sô Bento, que quando a malta tiver umas quantas ogivas nucleares, prometo solenemente e por Alá, que o Vaticano será a única nação que eu NÃO vou riscar do mapa. Palavra de
Mahmoud, sô Bento. Até porque eu sempre achei piada àquela coisa da varanda na praça. E depois a mitra é uma barrigada de riso..."

(Diário Digital)

E para quando um programa na RTP, estilo "As cartas de Mahmoud"? Sugiro já o nome da Catarina Furtado para moderadora!

terça-feira, dezembro 26, 2006

Mix de Prendas


Obrigado, família, aos poucos vão sabendo aquilo que me preenche a minha alma e, com o passar dos anos, os "tiros" certeiros são mais que muitos. E tu, Só, fazes parte da minha família de afectos. Afinal de contas, já são uma boa dezena de anos de amizade. Obrigado a todos por terem feito parte do meu Natal, muito para lá das prendas.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Outros anjos

"... Ou seremos nós que temos um Natal cá dentro, e uma estranha vontade de o viver?"

Sim, sim, sim! Não poderia haver uma melhor frase para este Natal que ainda estou a viver. Obrigado pelo conto de Natal camuflado.

domingo, dezembro 24, 2006

x-mas sms

"Q o teu Natal seja muito feliz, abraçado com amor, e enfeitado com alegria, e q a ternura deste dia esteja presente em cada dia de 2007!"

"Natal?Sininhos?Anjinhos?Familia!?Presentes?Amor?Afecto?Paz!?GRANDE TANGA!O que a malta k e cerveja, sexo e boas festas no corpo todo.Um feliz natal 1 bom ano novo cheio de coisas boas."

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''''''''U''''''''
"Feliz Natal. A arvore pode ser "artificial" mas os meus desejo sao bem reais e sinceros! FESTAS FELIZES c mt saude, amor e paz na companhia de todos aqueles q amas. Beijos natalícios :-D"

"Tou a preparar os meus presentes. Pra ti, escolhi a realizacao dos teus sonhos, embrulhados em mto AMOR,PAZ,SAUDE,ALEGRIA e FELICIDADE. Votos de 1 Natal magico."

"A todos os meus amigos,familiares e conhecidos: Informo-lh d k ja me encontro disponivel para aceitar as prendas d natal referentes ao ano d 2006. Evite correrias d ultima hora e filas no acto da entrega...Aceito dinheiro vivo e até cheques,passagens aéreas,joias,perfumes,roupas d marca,telemoveis d topo d gama, entre mtx outras coisas d valor, e n s esqueca tudo da melhor qualidade.Muito obrigado."

"Um Santo e Feliz Natal e 1 Ano Novo recheado de coisas boas e muitas felicidades."

"Deste ano,guarda o que é bom de guardar e Vive o proximo com a certeza que tudo pode ser sp Melhor...Por ixo Antes k 2006 acabe,Antes k as SMS se acabem,Antes k a memoria s apague,Antes k ñ haja Rede,Antes de ficar cm os Copos e perder o TeLeLe. Te desejo UM NATAL FELIZ e um 2007 sempre à Abrir :)))"

"Na lua 1 anjo toca flauta a sua melodia desce sobre a nossa almofada e nas asas traz a cor dos nossos sonhos onde nos embala dizendo baixinho: Feliz Natal!"

"Nesta altura as palavras sao sempre as mesmas,mas é mto bom ter a kem as mandar e com certeza kem as recebe gosta. Feliz Natal e um Excelente 2007!!"

"Neste Natal armei uma arvore com raizes profundas dentro do meu coracao nela coloquei o nome dos meus amigos BOAS FESTAS.UM FELIZ NATAL e BOM ANO NOVO."

"Do Presidente: Caros dragoes. Este ano nao vai haver presepio no dragao. A vaca fugiu."

"Um amigo é um fruto raro e doce num mundo amargo. A amizade conhece o tempo exacto das palavras e dos silencios. Feliz natal e bom ano novo."

"Q as pulgas de 1000 caes vadios infestem o cu daqueles q t lixaram este ano e q os seus braços encolham tanto q n o possam coçar! Feliz natal akele abraco."

"Feliz natal. E um 2007 cheio de saude, concretizacoes, leveza, convivio e garra de viver."

Véspera

Para mim, Natal significa partilha. Partilha de nós próprios, do amor que sentimos pelos outros, e do amor que recebemos dos outros. Apenas este triunvirato importa. Não se trata de pinheiros, nem de presentes e muito menos de iluminações absurdas. Se quiserem, é uma altura do ano em que não há restrições para a quantidade de sorrisos que podemos presentear-nos todos os dias. Ninguém nos pode criticar porque assobiamos, cantamos ou mesmo rimo-nos sem motivo aparente. Ninguém nos vai achar mais insanos por causa disso. E isso, garanto-vos, é o que acontece, salvo algumas excepções, no meu Natal. Mais precisamente, neste Natal. Sei que vai ser um Natal inesquecível, que vou ter que arranjar mais espaço no disco rígido para as memórias que vou ter de guardar. E tudo porque vou estar rodeado de pessoas que muito amo e que sei que nutrem o mesmo sentimento por mim. Que todas elas vão fazer com que muitas das minhas preocupações e angústias desapareçam por uns dias, para serem substituídas por infímos momentos de prazer e alegria e que não têm preço. Porque vão contribuir para mais um encerrar de ciclo. Aliás, o Natal também significa isso para mim, balanço, fecho, regularização de "contas", novo percurso, inícios novos, muito mais que o fim de ano. Mas se por um lado sei que vou ter um Natal realmente festivo, por outro também derramo alguma tristeza do meu coração, pois ao mesmo tempo gostava de estar com algumas pessoas que sei que vão ter um Natal com lágrimas. Pessoas que vão sentir a falta de alguém que não vai estar com elas quando abrirem os presentes à meia-noite. Pessoas cujas lágrimas eu podia "guerrear" com a minha presença, com o meu amor, com a minha amizade, com o meu sorriso. Pessoas que amo incondicionalmente e em quem vou estar a pensar, mesmo no meio da confusão generalizada da consoada.

Desejo a todos os meus familiares, amigos, colegas e visitantes "bloguistas" um feliz Natal e que a felicidade do Natal que vou ter este ano chegue também aos vossos lares, onde quer que se encontrem.

Fica aqui uma das razões pelo qual sinto ainda mais alegria neste Natal de 2006. A certeza convicta na minha alma de que não me limitei a uma existência normal. Obrigado.

(Clique na imagem e também aqui)

sábado, dezembro 23, 2006

Mais prendas de Natal...

... que poderão vir a ser uma excelente companhia para as longas noites frias que se aproximam. Agradecendo respectivamente ao barros e à febra (espero que a vossa "lua-de-mel" continue em grande), e ao meu sócio e à barriguda temporária, a quem espero poder brindar à saúde da Carolina. Muita felicidade para vocês todos é o que eu desejo.

Peças de Roupa















(Lavadas, engomadas e remetidas para uma Lenta Divagação)

terça-feira, dezembro 19, 2006

O anjo

Miguel era um anjo irrequieto. Andava sempre de um lado para o outro do Paraíso, nunca conseguindo estar parado por muito tempo num único sítio. Na verdade, isso era mentira. Havia um sítio onde Miguel passava horas e horas da sua eternidade. Sempre na ânsia de um dia poder passar para o lado de lá. As portas do Paraíso exerciam um poder enorme sobre ele. Cada vez que S. Pedro se virava, lá estava ele, de volta dos portões, apenas para olhar para a enorme chave que pendia da cintura de Pedro. Os seus olhos suplicavam por aquilo que Pedro já há muito sabia. Miguel queria descer à Terra por uma última vez. Já pouco se recordava do que por lá tinha vivido mas algo na sua alma agitava-o para lá voltar. As recusas para conceder tal pedido duravam já meia eternidade e até S. Pedro começava a ter alguma compaixão pelo pedido de Miguel, mas que havia ele de fazer? O abrir das portas a um anjo não dependia dele. Até que um dia, em que Miguel se encontrava em cima de uma nuvem, quase coberto pelas suas asas, S. Pedro se aproximou dele e lhe deu a tão esperada notícia: em virtude daquele ser um tempo santo e de festa, Miguel tinha autorização para passar as portas do Paraíso e descer por uma última vez à Terra. Miguel quase não acreditava nos seus ouvidos. Voou e voou de alegria e contentamento. Se não fosse o respeito que tinha ao santo, teria-o abraçado e rodopiado no ar com ele. Num acto solene, S. Pedro rodou a chave na fechadura e abriu as portas do Paraíso para Miguel. Este respirou fundo, abriu as suas asas e voou através das portas divinas, mergulhando no seio das nuvens. Depois de muito tempo a voar, Miguel começou a ver umas pequeninas luzes ao fundo da escuridão. Aquelas luzes lembravam-lhe algo mas não sabia bem o quê, uma memória escondida nalgum recanto da sua alma. As luzes começaram a ficar mais nítidas, a cidade estava agora por baixo dele, começava a ver os rostos das pessoas. Ninguém o via, claro, era uma das condições para ele se ter ausentado do Paraíso. Aquela cidade tinha sido, em tempos, a sua cidade. Agora era-lhe estranha, estava repleta de luzes de Natal, estava mudada. As primeiras impressões de alegria que tinha tido quando chegara começavam a afastar-se, ele próprio começava a aperceber-se que a sua casa era agora outra. Voando por entre os prédios, via poucas caras com reflexos de felicidade. A maior parte mostrava-se fechada, apressada, a correr de um lado para o outro, sem tempo, sem a chama da alegria nos olhos. Miguel chorava. Chorava porque aquela cidade que lhe tinha dado momentos de alegria (mesmo que não os recordasse como deve de ser) estava diferente, para pior. Mas foi nesse momento, quando limpava as lágrimas, que viu algo que lhe chamou a atenção. Um anjo. Um anjo feito de luz. Mas não era um anjo qualquer. Aquele anjo era-lhe familiar. Miguel aproximou-se daquela luz. Não, não era um espelho, mas... Sim, eram as formas de Miguel que ali estavam, representadas naquela decoração, naquela praça. Aquelas asas. Eram as suas. Aquele manto. Era o seu. Miguel estava confuso. E depois reparou naquela pessoa em pé, diante do outro Miguel, o de luz. Foi descendo devagarinho até se encontrar ao pé da face daquela pessoa. E nesse momento sentiu um arrepio. Mas os anjos não sofrem arrepios, pois não? Mas Miguel tinha-o sentido. Aquela cara. Aqueles olhos. Aquela expressão triste. Miguel conhecia aquela pessoa. Beatriz. Sim, era esse o nome dela. Mas não conseguia lembrar-se de mais nada. Quem seria ela? E porque é que Miguel a reconhecia? Não o sabia, por mais que tentasse procurar no seu âmago. E já não tinha tempo para o procurar. Ao longe ouvia já a voz de S. Pedro, dizendo-lhe que era tempo de voltar. Miguel começou a elevar-se, cada vez mais alto. Ao longe ainda conseguia distinguir as figuras de Beatriz e do anjo de luz, qual delas a mais intrigante. Sentia-se em paz. Era tempo de voltar às nuvens.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

The Departed

"When I was your age they used to say you could become cops or criminals. What I'm saying to you is this... When you're facing a loaded gun, what's the difference? "

domingo, dezembro 17, 2006

Thank You, Time!

Não me considero um brilhante exemplo da geração informática que domina, hoje em dia, grande parte da nossa sociedade. Mesmo que haja pessoas, no meu escritório, que me consideram uma espécie de permanente help-desk. Desde que comecei a lidar mais regularmente com a Internet, o mail, os chats e quejando, nos idos de 94, que sempre o fiz numa lógica de curioso, aprendendo coisas por mim, e aprendendo com os que me rodeavam e que realmente percebiam disto. Mas há um parágrafo neste texto com o qual me identifico bastante. É mesmo uma questão de paixão. Não nos submetermos a uma lógica de rotina, na qual temos "coisas" que nos distraem e, mais grave ainda, distraem os nossos neurónios e os inibem de fazer aquela ginástica mental de que tanto me falavam alguns saudosos professores que tive ao longo dos anos. A Web permitiu-me conhecer pessoas dentro deste país que me abriram novos olhares para coisas que desconhecia. O e-mail permitiu-me escrever aos meus familiares e amigos quando estive a milhares de quilómetros de distância deles. Este Espaço que aqui está já me permitiu conhecer pessoas que, sinto-o, já deviam fazer parte da minha vida há mais tempo. E é por isso que agradeço este prémio, em meu nome e em nome de todos aqueles que o merecem verdadeiramente. Todos os dias fazem por o merecer. E porque, afinal de contas, todos nós o merecemos muito mais do que o gajo que o ganhou em 2004...

Uma prenda de Natal...

Obrigado, coelhinha Duracell! Quase que me levavas a cumprir aquela promessa antiga que te estou a dever. E podíamos fazê-lo ao som desta música linda que está aqui por baixo, numa de inspiração :))) És uma amiga linda e só quero a tua felicidade, neste e em muitos e muitos Natais!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Outra prenda de Natal?

Apesar do arrepio que me causa ver as polícias portuguesa e espanhola juntas, fico a questionar-me se será desta que a minha carteira reaparece algures nas calles de Madrid. E fico ainda com esperanças que um dia o meu amigo Suburbano descreva a sensação de estar numa esquadra espanhola...

A minha tentação

E assim chegou a minha primeira prenda de Natal. As minhas visitas lembraram-se de mim e trouxeram-me um pedacinho da minha infância, que há muitos anos não provava. Graças a este pequeno doce, fiquei imortalizado no meu seio familiar através de uma lenda (ou mito urbano, o que preferirem). Consta que quando eu tinha meia dúzia de anos vividos e chegava o Natal e as mesas familiares ficavam decoradas com doces vários durante todo o período natalício, independentemente da casa onde eu estivesse, que eu, a meio da noite, me levantava qual sonâmbulo e percorria a casa em direcção à mesa e me deliciava com estes doces divinos. Se eu me lembro? Da parte sonâmbula tenho dúvidas, acho que é mesmo uma lenda familiar, que irá por certo passar de geração em geração, tal como o amor do meu primo pelas batatas fritas da minha mãe. Mas os confeitos... Esses nunca os esqueci, e foi bom reencontrá-los depois de tantos anos...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Bom Conselho


Visitas

Ele tem 85 anos. Ela tem 87. A sua vida juntos já dura há uns 65 anos. À sua volta foram crescendo filhas, netos e bisnetos. Tiveram momentos de grande felicidade e outros de grande tristeza. Passaram vésperas de Natal onde pouca comida havia na mesa e contentavam-se com o calor da sua lareira. Outras vésperas houve onde éramos cerca de trinta pessoas naquela pequena cozinha, e parecia que o Natal era o momento mais feliz do ano. Lembro-me da alegria que sentia quando chegávamos e eles lá estavam, nas escadas da casa, com um sorriso tão grande como o meu. Apesar do passar do tempo, parecia que todos os anos aquela imagem se mantinha, perpetuada quase ad eternum. Mas afinal não, o tempo também os atingiu, as pernas foram falhando, e o cesto dos remédios foi aumentando de tamanho. Algumas das suas ideias começaram a chocar com as minhas, começava a sentir os primeiros sinais de um fosso de princípios que existia entre nós. Ela condescendia e prefiria conversar comigo sobre aquilo que nos aproximava. Ele levava a peito e preferia envolver-se em discussões sem fim comigo. Mesmo quando defendia os meus ideais com unhas e dentes, nunca conseguia faltar-lhe ao respeito, seria um crime. Hoje em dia, eles envelheceram um pouco mais e eu cresci um pouco mais. Ela continua a conversar comigo sobre as coisas pequeninas das nossas vidas e das quais gostamos. Eu gosto de ficar a brincar com as rugas das suas mãos. Ele está mais "quebrado", mas só com as coisas recentes. Fico horas a ouvir as suas histórias de quando era um jovem e vivia no mesmo país que eu mas num universo completamente diferente. Algumas das histórias já as sei quase de cor mas continuo a gostar de o ouvir recitar todos aqueles pormenores que se agarraram à sua alma e continuam a viver pela sua boca. Todos estes anos houve uma coisa que permaneceu e que nos une, os nossos sorrisos. Este Natal vai ser diferente, este Natal tenho a vossa companhia e vou recordar momentos antigos e viver momentos novos que sei que ficarão guardados na minha memória. Obrigado por existirem e sejam bem-vindos.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Ondas Sonoras - XXI

No início apenas se ouve o silêncio.
O silêncio quebrado com o vibrar de uma corda.
É ele que começa a anunciar a sua presença.
Primeiro de forma muito leve e depois já de forma intensa.
Carlos passa as mãos pelas cordas.
As notas vão-se agrupando pela sua batuta.
Primeiro de forma solta e depois de forma familiar.
Á medida que Carlos percorre as cordas, o som vai-se entranhando.
Conhecemos estes sons de algum lado mas não sabemos de onde.
O contrabaixo parece ser estranho a esta canção.
E depois, entram os restantes convidados, sem se fazerem anunciar.
O Frank solta algumas notas étereas da sua guitarra.
O Jim vai libertando docemente as peles da bateria.
Por cima de ambos, o contrabaixo impera.
Mas depois a guitarra torna-se mais eléctrica, mas sem distorção.
Quase que repetindo as notas que o Carlos já tinha tocado.
E aí reconhece-se um pouco mais a canção.
Mas falta-lhe algo, falta-lhe a voz.
Não tem a voz humana, mas tem outras.
O susurro suave e melancólico do contrabaixo.
A urgência eléctrica da guitarra.
A brisa e o ritmo dos pratos da bateria.
E de súbito aproximamo-nos do fim.
E o Carlos decide tirar mais duas ou três notas das suas cordas.
E os três juntam-se para terminar a canção.
E depois de termos sido embalados, deixamo-nos ficar novamente em silêncio.

(Dedico esta canção do Carlos a alguém que muito gosto de visitar, o mar.)

Faltou o gordo a jogar a ponta-de-lança!

Tem de se acabar com essa regra das equipas visitantes terem que vestir o equipamento alternativo. Pois se a equipa tem este tipo de patrocinadores, devía vestir sempre o vermelho, vivo e cheio de golos. Que raio, o Manchester bem que podia vestir-se de outra cor... Para a próxima, pomos a renas a jogar, isso é que vai ser correr pelo campo fora...

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Polaroides














O mesmo olhar envolvido de tantas e tantas memórias. A minha segunda cidade, envolta pelo mesmo nevoeiro que tantas e tantas vezes me acompanha de manhã, a centenas de quilómetros das margens daquele rio tão grande, mas tão grande que atravessa o meu coração de um lado ao outro. De um lado, aqueles socalcos que tanto frio, dores nas costas, mãos gretadas me deram ao longo da minha juventude, mas que ao mesmo tempo me deram manhãs inesquecíveis, tardes turvas de chuva e noites repletas de estrelas tantas que parecia que nunca as iria contar todas. Naqueles socalcos nasce o tempero dos meus dias, o sangue que escorre para dentro do meu copo. Lá no alto das Laceiras, o tempo passava mais devagar e as nuvens passavam tão baixo que quase as podia tocar. E eram brancas, tão brancas como aqueles cabelos desgrenhados que me ensinaram a ver o Sol através dos ramos das suas filhas, as suas filhas ancestrais. Do outro lado, a foz. Todos aqueles passeios pela marginal, uns de dia, ao som das ondas, outros de noite, com as luzes da cidade ao longe. As brincadeiras na areia fria, rodeados de nuvens e névoa, mas com a alma quente daqueles que me viram nascer. Ainda me lembro da mercearia, da gare dos eléctricos, da casa antiga de fundações mas jovem com a nossa presença e com a presença daquela jovem cujas rugas conhecia centrímetro por centrímetro. Quando pegava naquelas mãos, esquecia tudo o resto, o mundo era ali, naquelas mãos cheias de sabedoria. Tudo se passava na casa antiga. E depois surgiu a quinta fornada. E as visitas, apesar de mais espaçadas, eram sempre feitas de risos, alegria e a inocência que só as crianças verdadeiramente crianças possuem. E quando não tínhamos o rio ou o mar, bom, então a minha primeira cidade dava-nos os repuxos que saltavam das suas entranhas de mármore. E éramos felizes, na nossa despreocupada vida, vivendo os sítios e os momentos juntos como se fossem únicos. Obrigado, prima, pela tua objectiva que tantas e tão boas recordações me lembram vidas passadas.

Lá de Cima - XII


Sabang Beach, Mindoro, Filipinas

domingo, dezembro 03, 2006

Momento de claridade

Haverá coisa mais machista do que ter relações sexuais em pé, encostado a uma parede, meio tapados pelos cortinados, enquanto lá fora a chuva vai caindo abundantemente? Isto já para não falar de uma cena de masturbação feminina intercalada com imagens de um tipo a levar um balázio entre os olhos enquanto deixa uma linha de coca a meio...

(efeitos secundários de semi-assistir a um filme no Hollywood)

Liberdade de escolha?

A certa altura, o personagem Nick Naylor diz que nós temos de pensar por nós próprios e simplesmente não acreditar em tudo o que nos é posto à frente como verdade absoluta. E mesmo quando sabemos que a nicotina é a causa de morte de muitas pessoas por ano, não deve ser por essa razão que nos devemos tornar paternalistas com as pessoas e "fazer-lhes um desenho". Senão, qualquer dia, ainda dependemos de entidades falíveis como o Governo, seja ele qual for, para nos dizerem o que é bom e o que é mau para nós, deixando os nossos próprios cérebros mirrar. Afinal de contas, o poder de desligar a televisão, não ir ao MacDonald's, ir de táxi quando se tem uns copos a mais, ou deixar de fumar, está sempre nas nossas mãos, mesmo quando se trata de algo que nos causa dependência. Pelo menos, é essa a minha opinião e se calhar foi por isso que gostei deste filme.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Em memória daqueles cuja dor terminou


"The HIV/AIDS epidemic continues to grow. Some 40 million people, their families, and their communities, are now living with HIV. Effectively tackling this epidemic remains one of the world's most pressing public health challenges.

In August this year, at the XVI International AIDS Conference, 30 000 of us came together in Toronto in reply to the Conference's call to action. That action, we agreed, must reflect a balanced mix of prevention, treatment and care. This year's World AIDS Day theme "Accountability" reminds us again of our responsibility for making the right choices."

(Full text here)