sexta-feira, março 31, 2006

Serviço de utilidade pública - V

Parede da casa-de-banho do Bar dos Gémeos, Carcavelos, Portugal

Ondas Sonoras - XI

Rock, funk, soul, reggae, r'n'b, gospel, world. A música que sai da inspiração de Ben Harper poderia ser definida por todas estas palavras e outras mais que se inventassem, mas tentar definir as melodias que saem da sua guitarra não é prestar a devida homenagem a este cantor. Essa apenas pode ser prestada através da audição atenta das belas melodias criadas por Ben, com a sua Weissenborn ao colo, e das suas letras que expressam todas as nossas preocupações enquanto seres humanos. Através delas podemos, como o próprio canta no seu último disco, "acreditar num caminho melhor". Seja sozinho, com os "seus" Innocent Criminals, ou com os Blind Boys of Alabama (a melhor banda do mundo para acompanhar uma celebração religiosa... porque é que Portugal não tem gospel???), a sensibilidade e tranquilidade que a música de Ben Harper proporciona deveria ser considerada Património da Humanidade. É preciso haver mais razões? Então deixo-vos a letra de uma das minhas músicas preferidas escritas pelo homem, por sinal do seu primeiro albúm.

" welcome to the cruel world
hope you find your way
welcome to the cruel world
hope you find your way
it's a cruel world
try to enjoy your stay

yes it is a cruel world
when you're tryin' to get by
it's a cruel world
when you've seen the look in their eye
makes life hard living
but i'm so scared to die

welcome to the cruel world
welcome
welcome

don't know how
we've lasted here so long
there must be more good than bad
or we'd already be gone
and if you get up to heaven
before i do
i'm gonna tell ya
it's gonna be cruel there too

you can't hide from this cruel world
cause there is no place to run
you can't hide from the cruel world
there just is no place to run
it's been cruel from the beginning
it will be cruel when we're done

so when i'm gone
i will gladly say goodbye
when i am gone
i will gladly say goodbye
and if you want to feel me
put your hands up to the sky

welcome to the cruel world
welcome
welcome
hope you find your way
try to enjoy your stay"

Levantado do Chão

"A França é um palheiro de pouco resguardo para o pouco dormir e um prato de batatas, é uma terra onde misteriosamente não há domingos nem dias santos. A França, é um derreamento de rins, duas facas espetadas aqui e aqui, uma aflição de cruzes martirizadas, uma crucificação num bocado de chão."

quinta-feira, março 30, 2006

Dedicado ao Miguel

(CNN)

Insónias

Os segundos passam...

Os minutos passam...

As horas passam...

 

Vejo os ponteiros avançarem, no seu ritmo constante, sinais luminosos no mostrador do relógio. Sinto as minhas pálpebras a descerem mas é apenas um desejo meu, o sono ainda vem longe. Todo o meu ser clama pelo descanso que apenas a inconsciência do sono pode dar, mas o cérebro teima em manter-se acordado.

 

Folheio as páginas do livro que se encontra há semanas em cima da mesa de cabeceira, com esperança que as palavras comecem a “fugir” aos meus olhos, até caírem em total escuridão. Já não seria a primeira vez que adormeceria com o livro aberto em cima do meu peito, à espera que alguém o levante e o volte a pôr no seu lugar do costume. Mas hoje não. Esta noite o desfecho mais provável é chegar à última página do livro e nem assim o sono decidir-se a envolver-me no seu manto reconfortante.

 

Ligo a televisão. A luz fere os meus olhos e sinto as pupilas contraírem-se com a indesejada luminosidade. No ecrã nada de interessante se desenrola, não há programa algum que me faça correr o risco de ficar ainda mais acordado. E mesmo assim... Mesmo assim fico com o olhar preso à pequena caixinha mágica, enquanto espero um passe de mágica do amigo João Pestana, mas este não parece querer gastar comigo os seus pozinhos de perlimpimpim.

 

Lá fora, o Sol parece estar a aparecer. Caprichos da mudança de hora... Os primeiros raios de claridade começam a entrar pelas frestas na persiana do quarto. Sinto-me ainda mais cansado do que quando me deitei, mas mesmo assim não consigo adormecer. Como vou eu conseguir enfrentar o dia que se avizinha a passos largos? E porque é que o despertador ainda não tocou, para me arrancar com violência do meu suposto sono?

 

Só nessa altura me lembro que hoje estou de folga. Não vou trabalhar. E no momento em que compreendo a fatal partida de que fui alvo, verifico que fechei os olhos e começo a deslizar para um outro mundo, e enquanto vou adormecendo uma réstia de sorriso vai desaparecendo da minha face...

 

segunda-feira, março 27, 2006

Assino por baixo!


"Scarlett Johansson tops a lovely list of the "100 Sexiest Women in the World," in a poll of readers by FHM magazine."

"One of the best things for a woman to hear is that she is sexy," the 21-year-old actress, star of "Match Point" and "Lost in Translation," said in a statement. "I'd like to thank FHM's readers for the huge compliment."

(CNN)



(Foto tirada de Scarlett Johansson.org)

domingo, março 26, 2006

O Fim do Descanso...

(ou, em alternativa, e isto foi pura coincidência, pode ser uma resposta à pergunta do Desambientado.)

Ode Ao Éter

Todas as palavras que se seguem "nasceram" de uma viagem de carro pela Marginal, a ouvir rádio, claro está. Depois disso, fiquei um dia ou dois a pensar nesta ideia e, à medida que mais pensava e recordava, mais coisas iam aparecendo...

A memória mais antiga que tenho da rádio é a banda sonora dos almoços de domingo, fornecida pelos Parodiantes de Lisboa, que emitiam o seu programa de fim-de-semana, "Meia Bola e Força", onde se gozava de uma maneira saudável com o mundo da bola. É também dessa altura os fins de tarde durante a semana, a fazer os trabalhos de casa da escola, com a minha mãe a cozinhar o jantar e a ouvirmos o mítico "Quando o telefone toca". Para completar este leque de memórias, havia também ocasionalmente o "Bola Branca", com o Ribeiro Cristovão e o "Jogo da Mala", com o António Sala.

Lembro-me do aparecimento da Rádio Cidade, onde se estranhava o sotaque brasileiro, e onde se ouvia de tudo um pouco, daquilo que se gostava e daquilo que não se gostava.

Uma rádio que foi muito importante para a formação dos meus gostos musicais foi, sem dúvida, a Rádio Marginal. Foi onde ouvi pela primeira vez os Guns N' Roses, os Nirvana, entre muitos outros. O melhor eram os fins-de-semana, onde se ouvia música e mais música, sem locutores nem publicidade, algo que era um maná na altura. Iniciou um período da minha vida onde ouvi muito rock FM, hard rock (programas como o "Marginal On The Rocks" ou o "Rock Mix" trazem-me boas recordações) e comecei a ouvir algum heavy metal, fruto de um programa chamado "Caminhos de Ferro". Por intermédio deste, comecei a passar algumas noites em branco para poder ouvir o "Hiper-Tensão", com o eterno António Freitas, na Antena 3. Esta também havia de ser uma rádio de referência para mim, até aos dias de hoje. Aqui ouvi pela primeira vez bandas portuguesas como os Blind Zero, os Zen, The Gift, Blasted Mechanism, e muitas outras, umas ainda existentes, outras nem por isso.

Como este post não pretende ter uma linha temporal coerente, acabei de me lembrar de uma rádio cujo término me trouxe alguma tristeza, a defunta Rádio Energia. Quase todas as vozes radiofónicas reconhecíveis pela minha geração passaram por essa estação, como o Miguel Simões, José Mariño e Henrique Amaro, todos com ideias novas e frescas de como fazer rádio.

Como nada é imutável, especialmente em termos de gostos, também as "minhas" músicas foram mudando e tentar descobrir coisas novas começou a ser um passatempo interessante. Resultado: comecei a ouvir a também já defunta XFM. Stereolab, dEUS, More República Masónica, Sonic Youth, Bjork e muitas mais coisas ao barulho. Ah, e como ponta-de-lança, a voz inconfundível de António Sérgio, o clone português do John Peel (r.i.p.). Aquela voz áspera "apresentou-me" bandas e cantores que nunca pensei ouvir, e até há pouco tempo continuava a seguir o trabalho deste senhor, na "Hora do Lobo", na Rádio Comercial.

Depois aderi ao fenómeno dos "programas da manhã". Delirei com o "Homem que Mordeu o Cão", as crónicas do Herman, e as Bolas com Creme, do amigo Bubú. "Viciei-me" na TSF, na qualidade das suas reportagens, nos comentários loucos da "Bancada Central", no estilo tresloucado de Jorge Perestrelo (r.i.p.) quando anunciava um golo, na emissão histórica pela libertação de Timor-Leste. Hoje ainda vou ouvindo o Bubú, quando posso, a "Prova Oral" na Antena 3, e, quando sinto algumas saudades, um ou outro relato de futebol na TSF.

Nos dias de hoje, ainda vou ouvindo rádio, seja no carro, pela Internet quando estou de volta deste Espaço, ou na aparelhagem, quando estou a ler alguma coisa. Vou ouvindo a Rádio Radar (que ainda me vai surpreendendo com algumas propostas de música nova, fugindo aos "suspeitos do costume"), a Oxigénio (claro sinal que hoje ouço coisas bem diferentes de há 10 anos atrás) e, sempre que posso, tento não perder a "Quinta dos Portugueses", na Antena 3, que vai mostrando o que de melhor se faz por estas bandas.

Muita coisa fica por dizer àcerca da presença das ondas hertzianas na minha vida, mas com a certeza de que não me irei render tão cedo ao puro download de músicas via i-Tunes. Até porque acho que a voz humana é o instrumento mais puro que temos, seja a cantar, a conversar, a ler, a declamar, ou simplesmente a anunciar a música que se segue.

(Foto de Will Koffel)

sexta-feira, março 24, 2006

Hipocrisia

substantivo feminino




fingimento de qualidades, princípios, ideias ou sentimentos que não se possuem; falsidade;

(Do gr. hypokrisía, «dissimulação»)


© Copyright 2003-2006, Porto Editora.

quinta-feira, março 23, 2006

Até à próxima...

Foram escritas as últimas palavras no Alma de Poeta. Acabou-se o prazer de ler alguns poemas ao fim do dia, que sempre faziam com que nos esquecessemos das nossas preocupações. Obrigado e felicidades, Isabel.

Obrigado e não voltem!

"Mais de 15 mil portugueses ilegais a residir em Toronto correm o risco de expulsão. Alguns destes residem no Canadá há mais de dez anos, tendo emigrado com o pretexto de que eram perseguidos no nosso país por serem testemunhas de Jeová. Os processos de legalização arrastam- -se dois/três anos e já há repatriados, mas o Governo não dá números. (...)"

(in Diário de Notícias)

Independentemente de concordar ou não com a forma como o governo Canadiano está a resolver o problema dos imigrantes, acho que há um princípio de humanidade que deve orientar os governos. E tentar expulsar 15.000 pessoas no mais curto espaço de tempo, pessoas que têm vidas de anos construídas em solo canadiano e que poucas raízes mantêm com o seu país de origem, é tudo menos humano e demonstra uma total falta de respeito para aqueles que, na sua maioria, muito deram a ganhar ao país que os acolheu. Mas neste tipo de coisas é sempre melhor um relato in loco do que se passa, pelo que aconselho a leitura deste post no blogue Cunnus Reborn Azores. Será tendencial? Talvez, mas neste tipo de assuntos é quase impossível não sentirmos empatia por pessoas que estão a passar por um drama real.

domingo, março 19, 2006

Boom!

"I've been walking through your streets,
Where all your money's earning,
Where all your building's crying,
And clueless neckties working,
Revolving fake lawn houses,
Housing all your fears,
Desensitized by TV,
Overbearing advertising,
God of consumerism,
And all your crooked pictures,
Looking good, mirrorism,
Filtering information,
For the public eye,
Designed for profiteering,
Your neighbor, what a guy. BOOM, BOOM, BOOM, BOOM,
Every time you drop the bomb,
You kill the god your child has born.
BOOM, BOOM,BOOM, BOOM Modern globalization,
Coupled with condemnations,
Unnecessary death,
Matador corporations,
Puppeting your frustrations,
With the blinded flag,
Manufacturing consent
Is the name of the game,
The bottom line is money,
Nobody gives a fuck.
4000 hungry children die per hour,
from starvation,
while billions spent on bombs,
create death showers. BOOM, BOOM, BOOM, BOOM,
Every time you drop the bomb,
You kill the god your child has born.
BOOM, BOOM,BOOM, BOOM
BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM Why,why,why,why must we kill,kill,kill,kill, our own,own,own,own kind?? BOOM, BOOM, BOOM, BOOM,
Every time you drop the bomb,
You kill the god your child has born.
BOOM, BOOM,BOOM, BOOM
BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM/BOOM
Every time you drop the bomb."

(Foto da Associated Press)

Dia do Pai

Podemos não estar sempre de acordo, e podemos ter muitas discussões por causa dos nossos diferentes pontos de vista. Mas, se há algo que eu posso afirmar com 100% de certeza que o meu pai me ensinou, é o meu sentido de responsabilidade e assumir com honestidade e franqueza todas as reacções às minhas acções. Ainda hoje olho para o meu pai e admiro o seu sentido de profissionalismo e a maneira como encara os problemas do nosso núcleo familiar sempre com a perspectiva correcta. Tem um bom dia, meu velho, e que a distância entre as nossas diferenças se vá reduzindo dia-a-dia...


(Foto de Rolf Vennenbernd)

sexta-feira, março 17, 2006

Um dia complicado termina com palavras que ficam...

"Os nossos mortos são a poeira de estrelas que segue no nosso encalço, eternamente aguardando novo abrandamento para pacientemente se reaproximarem e uma vez mais tocarem a nossa vida nessa elipse perene."

Obrigado à Blue Notes pelos seus escritos que me ajudam nos dias mais complicados.

segunda-feira, março 13, 2006

Carta sobre a Felicidade

"Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais."

Introspecção precisa-se

Ontem recebi um mail de um amigo meu que está fora do país, e no qual ele me colocava uma "simples" pergunta, "és feliz?".

Tenho que admitir que é uma pergunta recorrente no meu cérebro, especialmente em alturas como a actual, quando vejo alguns projectos ficarem adiados e algumas coisas que me deixam realmente feliz serem remetidas para o lado por outras que não passam de obrigações, coisas a que estou amarrado e não posso fugir. É claro que também é dificil saber propriamente o que me faz feliz. Será o Sol a entrar pela janela dentro? Um beijo ou uma carícia da pessoa que amo? Andar pelas ruas de uma cidade desconhecida? Acabar de ler um livro que me acompanhou durante várias noites? Lembrar-me de alguém que já não vejo há muito tempo e recordar os bons momentos que passámos? Acordar e sentir o início de mais um dia?

Não contente com estas pequenas definições de felicidade, fui ver o que os meus companheiros blogueiros acham da felicidade. A Poeira dos Dias diz que "queremos sempre apostar tudo num amor que nos preencha e complete, que nos faça crer na felicidade imaculada". Para a Menina Marota, a felicidade pode estar na ternura do envelhecimento. Para a Blue Notes, temos que "a consciente escolha pelas posições e assunções faz-me, no entanto, muito feliz". Há mesmo quem advogue que devíamos ter um indicador que medisse a Felicidade Nacional Bruta, como nos refere o Suburbano. Ou, pode ser uma coisa tão simples como "hapiness is a dog", by Navel.
E eu? Que posso ter eu escrito neste espaço (ainda recente) que me tenha deixado feliz, e já não me recorde? Bom, para além de ocasiões normalmente festivas, como o Natal e a passagem de ano, registei aqui no blogue como me senti feliz a caminhar na Grande Muralha da China, a profunda felicidade e alegria que senti numa reunião de amigos a milhares de quilómetros deste rectângulo onde habitamos, a alegria sentida com algo tão banal como um jogo de futebol e, mais importante do que tudo, a felicidade de ter conhecido uma das pessoas mais bonitas que alguma vez conheci ou poderei conhecer.

Tudo isto para chegar a uma conclusão: apesar de pensar muito na felicidade ou na busca da mesma, dou por mim sempre a concluir que mais que esta busca, para mim é importante sentir-me vivo, seja em momentos felizes, seja em momentos tristes, pois a tristeza é uma parte da vida, e que melhor forma de valorizar a felicidade do que sentir as dificuldades, obstáculos e as lágrimas da nossa vida? A melhor analogia que encontro é que, para mim, a felicidade é como uma árvore a crescer, cujos ramos expressam todos os sentimentos que nos trespassam, e aos quais podemos dar a importância devida e, ao mesmo tempo, podar ligeiramente aqueles que achamos desnecessários ou que não são tão importante para a busca eterna do ser humano...

(Obrigado aos blogues atrás mencionados, pelas suas palavras que também fazem parte do meu viver.)

sexta-feira, março 10, 2006

Vamos à bola?

Hoje é um novo dia, e as emoções da noite passada já estão mais calmas, de modo que é a altura certa para fazer um comentário mais a sério sobre a minha relação com o futebol (aliás, como prometido ao Suburbano).

 

Desde que me lembro que sou um adepto de futebol, e em especial do Sport Lisboa e Benfica. Lembro-me que a primeira vez que fui ao futebol com o meu pai ainda andava na escola primária. Por mais estranho e inconcebível que me pareça agora, foi num jogo da Taça de Portugal, com o Ponte da Barca e só me lembro que o Benfica ganhou por uns quantos. Recordo-me perfeitamente que ficámos no então ainda recente Terceiro Anel, de caras para um fantástico Sol de fim de tarde. Na altura, foi uma experiência extraordinária, pois mesmo sendo um jogo com uma equipa de um escalão inferior, os bilhetes ainda não eram tão caros como hoje e havia umas dezenas de milhares de pessoas a assistir. Ouvi os meus primeiros comentários insultuosos a um árbitro, comprei a minha primeira bandeira do Benfica, fartei-me de saltar e gritar pelo meu clube e abracei montes de pessoas que não conhecia de lado nenhum, sabendo apenas que, tal como eu, tinham o Benfica no coração (parece piroso, mas foi mesmo assim).

 

Depois desse jogo, tenho de admitir que ao longo dos anos nunca fui muito de ir a estádios. Sempre fiquei agarrado ao televisor ou, quando o jogo não era televisionado, ficava a ouvir os comentários na rádio, algo que me fascinava pela rapidez que os locutores “davam” ao jogo. Para além do Estádio de Luz (o velho e o novo), devo ter apenas entrado no Estado Nacional do Jamor e no Estádio do Estrela da Amadora, na Reboleira (também entrei no antigo Estádio de Alvalade, mas apenas para um concerto). Jogos memoráveis a que assisti: o Benfica contra o V. Guimarães, último jogo da penúltima época em que o Benfica foi campeão (e que bom que é poder escrever “penúltima”), com o estádio a abarrotar pelas costuras; a selecção nacional contra o Liechtenstein, em que ganhámos por muitos e, mesmo a chover, deu para subir às vedações do estádio; e a selecção nacional contra a República da Irlanda (curiosamente também a chover torrencialmente), em que ganhámos com um enorme golo do Rui Costa e garantimos a ida ao Europeu em Inglaterra.

 

Nestas minhas memórias de futebol ao vivo, aquilo que melhor guardo é a emoção de estar no meio de milhares de pessoas e saber que todas “puxávamos” para o mesmo lado. E, sem saber, era essa mesma emoção que me mantinha ligado ao futebol. É claro que as vitórias do meu clube ou da selecção também ajudavam, mas era aquela alegria estampada na cara dos adeptos que me fazia assistir a quase todos os jogos que davam na televisão (alguém ainda se lembra de um ano em que a SIC transmitiu todos os jogos da Taça do Rei em que o Barcelona entrou e nos quais o Luis Figo fez das melhores exibições até hoje?). E assim, e vendo as coisas agora a frio, com o desertificar lento dos estádios portugueses, assim também a minha relação com o futebol foi esmorecendo. De adepto fanático passei a espectador ocasional. Deixei de participar das conversas de segunda de manhã, em que se discutia todos os pormenores dos jogos do fim-de-semana e todos os erros dos árbitros. Deixei de ter paciência para dirigentes ultra-interventivos e para jogadores que sentem não a camisola do seu clube mas sim a conta bancária cheia ao fim do mês. Enfim, se calhar a idade fez com que me apercebesse de algumas coisas que a minha inocência de adepto nunca tinha sentido.

 

Mesmo assim, este meu divórcio com o futebol vai tendo as suas recaídas. Em 2000, estava eu na Coreia do Sul, e vibrei com quase todos os jogos de Portugal no Europeu. Desde andar nas ruas de Seul com uma bandeira portuguesa, até ficar acordado a noite toda só para ver os jogos, passando pela invasão de um bar repleto de ingleses e alemães e ver as suas reacções de incredibilidade pela presença portuguesa até naquele canto do mundo. Quatro anos depois, a mesma felicidade agora nas ruas do Cacém, cheias de gente a dançar e agitar bandeiras, e eu de carro parado no meio da multidão a buzinar como um louco. O ano passado, o SLB voltou às vitórias no campeonato, e mais uma vez voltei a ver a felicidade nos rostos que me recordaram os tempos em que ia ao futebol com o meu pai. E tudo isto para explicar a alegria que senti mais uma vez ontem à noite, ao ver o clube (que ainda é) do meu coração a “invadir” outra vez a pátria do futebol (Arsenal, anyone? Um golo de outra galáxia do Isaías? 3 a 1, ring a bell?).

 

Hoje, contudo, volto a esquecer o futebol, até outro momento em que veja as pessoas a esquecerem momentaneamente as suas preocupações diárias (que, sejamos francos, são muitíssimo mais importantes do que a importância que se quer dar ao futebol) e a esboçarem um sorriso e um brilho nos olhos como aquele que senti ontem ao ver o Simão a “abrir o livro”, como se costuma dizer...

 

quarta-feira, março 08, 2006

Merece ser a dobrar!

Today, you walk alone...

Liverpool's dream of retaining their European crown was ended with a frustrating defeat at home to Benfica.

The Merseysiders had early chances to overturn their 1-0 first-leg deficit, with Peter Crouch, Jamie Carragher and Luis Garcia the most guilty.

They were made to pay when Carragher dithered and ex-Reds target Sabrosa Simao produced a stunning strike.

Fabrizio Miccoli completed Liverpool's misery when he grabbed a second in the dying minutes with an overhead kick.

(BBC Sport)

Nihon Ni Kaerimasu

Deixo aqui a transcrição de um convite do amigo Rui Gonçalves, do blogue Crónicas da (e depois da) Califórnia, e uma das fotografias do Rui que mais gostei.


nihon ni kaerimasu - 10 de Março a 7 de Abril - o navio de espelhos

Em 2003 trabalhava, em Portugal, numa empresa japonesa. Depois de umas decisões estratégico-desastrosas ligadas ao lançamento no mercado chinês de um novo produto, para o qual estávamos a trabalhar há 4 anos, fui "convidado" a visitar o país do sol nascente. Assim, no período de 24 de Maio a 18 de Junho e posteriormente entre 1 e 18 de Dezembro, desse mesmo ano, estive a trabalhar no Japão.

Foi apenas um mês e meio no total, mas foi de tal maneira intenso que é difícil não cultivar um fascínio especial pelo país. Não foi por causa das longas (algumas vezes 18) horas de trabalho diárias, nem pelo trabalho ao sábado, mas pelas horas roubadas ao sono para se poder viver um bocado da cultura local durante os dias de semana e ainda pelos domingos de folga, que eram vividos desde manhã cedo, porque eram valiosas aquelas horas de "descanso".

Em 2005, uma amiga que estava num grupo de preparação de um fim-de-semana dedicado ao Japão em Aveiro, sabendo que eu lá tinha estado, convidou-me a preparar e propor uma exposição de fotografia sobre o país. No entretanto ela saiu da organização e a minha proposta para a exposição foi recusada pelo "elevado custo que o evento já estava atingir". Felizmente O Navio De Espelhos, soube aproveitar a minha proposta e a exposição arrancou, estando patente na livraria de 10 de Março a 7 de Abril de 2006.

Esta exposição tenta enquadrar as fotografias que fui tirando com alguns textos que fui escrevendo e mandando aos meus amigos, descrevendo as aventuras, desventuras, surpresas e experiências que fui absorvendo por lá. Algumas fotografias foram tiradas com pouca definição, com pouca dedicação, acima de tudo com poucas horas de sono e com muito deslumbramento. Algumas nem seria dignas de uma exposição e muitas outras mereceriam ser mostradas. Mas penso que é o todo que conta e mesmo que sejam só 20 fotografias expostas com os textos, haverão outras que serão mostradas e comentadas na inauguração e que não estão aqui.

Espero que gostem e que apareçam, a 10 de Março, para uma conversa e um Sakê.

Para quem não pode vir, pode ver a exposição em http://ruigo.net/fotog/expo/nihon/

http://www.onaviodeespelhos.com/


terça-feira, março 07, 2006

Sondagem Cinzenta - IV (rescaldo das estatuetas)

Por aqui, os frequentadores do Espaço gostaram mais da história de amor entre Jack e Ennis e achavam que o óscar de melhor filme deveria ter sido para o filme de Ang Lee. Mas, tenho de confessar, um dos três votos em Crash é meu, acho que o filme mereceu inteiramente e, mesmo faltando-me ver o Capote, acho que não mudaria a minha opinião. Para o ano há mais...

Ah, antes que me esqueça! Sim, Bubu, é verdade, fui um dos doentes que ficou acordado a noite quase toda a assistir à cerimónia... Go figure...

Precisamos de um novo Edward R. Murrow!

Agora que os Óscares já são passado, acabei por ir ver um dos filmes que acabou por não levar qualquer estatueta para casa. "Good Night And Good Luck" é mais um exemplo de como este foi um ano atípico em termos de nomeados para melhor filme. Trata-se de um filme que roça quase o documentário e será talvez esse o seu único defeito. Há um recurso em demasia a imagens reais de arquivo que sublinha o teor histórico do filme, que se passa numa altura em que decorria uma verdadeira "caça às bruxas" nos Estados Unidos, perpetrada pelo senador Joseph McCarthy. Na busca de eliminar qualquer resquício de Comunismo na pátria da Liberdade, punha-se em causa os direitos dos cidadãos e acusavam-se inocentes de forma vil e difamatória. Quando a grande maioria dos media alinhava pela não-confrontação com o senador McCarthy, levantou-se a voz de Edward R. Murrow contra as injustiças que estavam a ser praticadas. O filme acaba por se centrar no confronto destes dois homens e nas pressões que rodeavam o meio de comunicação emergente, a "caixinha mágica". Mesmo no fim do filme, Murrow tem um brilhante discurso acerca da maneira como a televisão devia ser encarada, e que é particularmente relevante nos dias de reality shows que vivemos hoje:

"To those who say people wouldn't look; they wouldn't be interested; they're too complacent, indifferent and insulated, I can only reply: There is, in one reporter's opinion, considerable evidence against that contention. But even if they are right, what have they got to lose? Because if they are right, and this instrument is good for nothing but to entertain, amuse and insulate, then the tube is flickering now and we will soon see that the whole struggle is lost. This instrument can teach, it can illuminate; yes, and it can even inspire. But it can do so only to the extent that humans are determined to use it to those ends. Otherwise it is merely wires and lights in a box. There is a great and perhaps decisive battle to be fought against ignorance, intolerance and indifference. This weapon of television could be useful. "

O filme é bastante interessante, e tem pormenores deliciosos de época, como sejam o anúncio aos cigarros Kent e a própria forma como Murrow apresentava o seu programa de cigarro em punho (conferir actual postura dos Estados Unidos em relação ao tabaco). David Strathairn (Edward R. Murrow) tem uma interpretação à altura dos nobres escritos do jornalista. E não admira que muitos o considerem, ainda hoje, como um grande arauto da liberdade de expressão (outro tema muito em voga nos dias que correm e, sobre o qual, Murrow havia de ter muito a dizer). Fica, na imagem, mais uma intervenção que merece uma vénia.

domingo, março 05, 2006

Está quase... (Ondas Sonoras - X)

Há poucas bandas hoje em dia que me façam esperar com ansiedade pelas suas novas músicas, mas sem dúvida alguma que os Pearl Jam são uma delas. Apesar de não me importar de ouvir vezes sem conta os seus discos antigos (ainda no outro dia fui no carro a ouvir o "Vitalogy" e parecia que estava a ouvir uma música nova, tal é o espírito que preside a esse disco em particular), fico sempre com imensa curiosidade quando se fala em novo albúm destes senhores. Se há uma banda que serviu de banda sonora aos meus últimos quinze anos, foram eles de certeza. Se há um concerto que ainda hoje faz com que a minha alma se "ilumine" e fique com um sorriso estúpido na cara ("don't it make you smile"), é sem dúvida o concerto que os Pearl Jam deram no Dramático de Cascais no dia 24 de Novembro de 1996. Mesmo que o tipo de música que hoje oiço já não seja propriamente o mesmo que ouvia há década e meia atrás, faço questão de ainda ouvir música como Alive, Rearviewmirror, Black, Tremor Christ, Smile, Habit, Do The Evolution, Immortality, Given To Fly, Thumbing My Way, Save You, Love Boat Captain,Nothing As It Seems, Thin Air, Breakerfall, Indifference, Yellow Ledbetter, Last Kiss, Footsteps, Gremmie Out Of Control, Dead Man, Nothingman... Enfim podia aqui estar todo o dia... Quando se gosta, não há nada a fazer. Obrigado por mais um capítulo, Eddie, Jeff, Mike, Stone e Matt!

O mar...





(... é esta a resposta a uma pergunta simples colocada pelo Desambientado, no seu mais recente post. Aliás, meu amigo Félix, tendo em conta as suas colecções, eu por mim gostava de ser um coleccionador de ondas... :)

quinta-feira, março 02, 2006

Melancolia

substantivo feminino


1.
tristeza profunda e duradoura;

2.
desgosto; abatimento;

3.
hipocondria;

4.
MEDICINA afecção mental caracterizada por uma depressão, mais ou menos acentuada, um sentimento de incapacidade, um desgosto da existência, e, às vezes, por ideias delirantes de auto-acusação, de indignidade, etc.;

(Do gr. melagkholía, «melancolia», pelo lat. melancholìa-, «id.»)


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