terça-feira, janeiro 31, 2006

Afinal acontece aos melhores

"É o maior pesadelo de qualquer escritor sentar-se um dia em frente à folha em branco (ou ao ecrã vazio do processador de texto) e sentir que as palavras já não surgem em catadupa, como em tempos surgiam. O "bloqueio do escritor" pode ter muitas causas - cansaço, insegurança, esgotamento criativo -, mas assume quase sempre um carácter de catástrofe pessoal, sobretudo quando o autor em causa está obrigado, contratualmente, a publicar um romance todos os anos. Ou então quando se é uma referência da literatura mundial, com milhões de leitores fiéis. Uma referência como, por exemplo, Gabriel García Márquez."

(in Diário de Notícias)

Já dizia Descartes...

Acabei agora mesmo de ler os blogues que diariamente vou tentando acompanhar, quando me lembrei de uma conversa que tive a semana passada com um amigo meu, também ele blogueiro. Que ele já não escreve nada há uns meses, que não tem tempo, que não tem inspiração para escrever o que quer que seja, que tem mais em que pensar, que a vida não é só net e há outros problemas para resolver, que tem dedicado mais tempo à família, enfim, um nunca mais acabar de argumentos. E foi aí que me ocorreu: porque é que eu devoto tempo a este espaço?

Eu, que nunca tive paciência para manter um diário privado quanto mais este que é completamente público. Eu, que às vezes chego tão estoirado a casa que só me apetece dormir até ao dia seguinte. Eu, que vejo acumularem-se livros para ler, revistas para me manter actualizado, albúns que não oiço, filmes e DVDs vários que não consigo ver por manifesta falta de tempo. Com tudo isto, porquê manter um blogue e, mais ainda, ir fazendo entradas com alguma regularidade? And then, it hit me! Porque gosto. Porque quando estou a escrever estou a quebrar deliberadamente a rotina do meu dia-a-dia. Porque quando estou aqui, neste espaço cinzento, consigo olhar para o mundo e emocionar-me com aquilo que tantas vezes deixo de observar lá fora. Porque este espaço dá-me uma hipótese de ser criativo e de abanar a minha (preguiçosa) massa cinzenta. Porque sim e nada mais!

domingo, janeiro 29, 2006

Um português perdido na Coreia do Sul...

Para quem costuma ler este espaço, já sabe que a crise de inspiração costuma dar azo a recuperar escritos antigos. Desta vez há várias desculpas, como o Novo Ano Lunar, os novos Contactos a caminho da Coreia, e a descoberta de um texto perdido que escrevi em Março de 2001, acerca da minha estadia na Coreia no ano da graça de 2000. Enjoy!

«As pessoas são todas iguais. Apenas os seus costumes são diferentes.»

Confúcio

Já são poucos os Coreanos que se lembram de uma portuguesa chamada Rosa Mota que, um dia, ganhou a medalha de ouro da maratona nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Mas, foi mais uma vez o desporto a despertar o interesse do povo Coreano nesse país que lhes fica tão distante chamado Portugal. No Verão de 2000, não havia um único Coreano fã de desporto que não soubesse pronunciar nomes como Figo, Nuno Gomes ou Sérgio Conceição, resultado da boa prestação da selecção nacional no Campeonato Europeu de Futebol. Mais uma vez, como em tantas outras ocasiões, o futebol, paixão do povo Português, foi o nosso embaixador em terras tão distantes como a Coreia do Sul. Cada vez que me apresentava como Português, a reacção era invariavelmente a mesma: "Portugal??? You play good football!! Figo is a great player!!!". Quanto mais não seja, as nossas vitórias futebolísticas despertavam a curiosidade Coreana para saber mais coisas sobre o nosso pequeno rectângulo plantado no Sul da Europa.

Uma das características que os Coreanos associam ao "ser português" é a ideia de tristeza e nostalgia, muito por via de algum sucesso que o Fado obtém e que é das poucas expressões culturais portuguesas a que a Coreia do Sul vai tendo acesso. Não é, pois, de estranhar que para um Coreano seja estranho que afinal os Portugueses sejam um povo que gosta de se divertir e, especialmente os Portugueses mais jovens, passem noites inteiras em bares e discotecas. Em suma, os Coreanos ouvem Madredeus ou Dulce Pontes e generalizam, idealizando um povo Português que passa a maior parte do tempo tristes.

No entanto, e apesar de todo o desconhecimento que o típico Coreano tem em relação a Portugal, de vez em quando surgem episódios tão insólitos que se tornam recordações para o resto da vida. Não resisto a contar um desses episódios. Tudo se passou no feriado da Páscoa em que alguns Portugueses se juntaram para uma viagem até à província de Kangwondo, na costa Leste da Coreia do Sul. Esta província é famosa pelo Parque Nacional de Sorak-San, uma das mais longas e belas cordilheiras de montanhas que proliferam pelo país. Era já final de tarde de um dia extremamente cansativo e eu mais o Miguel Faria (outro membro do Programa Contacto III) tínhamos acabado de escalar Ulsan-Bawie, uma rocha escarpada com cerca de 650 metros. A paisagem era lindíssima e, como bons turistas que éramos, começamos a tirar algumas fotografias, apesar do intenso vento que soprava e que ameaçava derrubar-nos a qualquer momento. Pedimos a um senhor Coreano que se encontrava no mesmo local se podia tirar-nos uma fotografia. O senhor aceitou gentilmente e depois pediu ao Miguel para tirar uma fotografia dele, comigo ao seu lado. Apresentámo-nos e, quando eu disse que era de Portugal, o senhor arregalou os olhos e, num inglês não muito sofrível, pergunta-me se eu conheço a Serra da Lousã. Assim, sem mais nem menos. A minha surpresa foi tão grande que quase deixava o senhor ir-se embora sem lhe perguntar porque razão conhecia ele uma serra portuguesa que nem sequer é das mais reconhecidas pelos próprios Portugueses. Disse-me ele que tinha ido numa viagem da sua empresa e, como entusiasta do montanhismo que era (ele e mais algumas dezenas de milhões de Coreanos, atrevo-me eu a dizer) tinha ido à Lousã e ao Gerês. A simples ideia de num final de tarde de Abril, a 650 metros de altitude, longe da civilização, na chamada "Coreia profunda", encontrar um Coreano que conhece genuinamente Portugal continua, hoje em dia, a fazer-me tanta confusão como no dia em que aconteceu.

Apesar de tudo, existem alguns Coreanos que conhecem muito bem Portugal e que têm a sua própria ideia do "ser português". Refiro-me aos cerca de 500 estudantes Coreanos que se dedicam à aprendizagem da língua de Camões. Alguns, para além dos anos de estudo na Coreia, tiveram breves passagens por cidades como Lisboa, Coimbra ou Porto, com o objectivo de aprimorarem ainda mais o seu domínio da língua Portuguesa. Esta situação só não se tornou mais estranha, pois desde cedo contei entre as minhas amizades com alguns deles, cuja fluência na nossa língua chega a níveis elevados. Para estes, o Português é uma pessoa simpática, extrovertida e que gosta do seu país e de o mostrar a quem o desconhece. Não devemos confundir esta ideia com um patriotismo exacerbado, algo que está bem mais próximo da realidade Coreana.

O desconhecimento do típico Coreano em relação a culturas diferentes daquelas a que se encontra umbilicalmente ligado (como por exemplo a Chinesa ou Japonesa) chega, por vezes, a ser assustador. Não é, pois, mero acaso que durante muitos séculos este país tenha sido apelidado de Estado-Eremita. Uma possível razão para tal procedimento poderá ter a ver com o facto de o país ter sido inúmeras vezes invadido por outros povos, como os Mongóis, os Chineses e, principalmente, os Japoneses, povo contra o qual ainda se mantêm muitas feridas abertas.

Mas a tendência para o povo Coreano se "virar apenas para dentro" é ilustrada por um outro factor. Quase todas as amizades que fiz com pessoas Coreanas, eram pessoas que já tinham estado, pelo menos uma vez, fora do seu país, fosse em negócios, turismo ou estudo. Pode parecer um pormenor insignificante, mas este aspecto traduz um pouco a falta de interesse deste povo por outras culturas e sociedades. E mesmo quando o governo Coreano proclama a abertura do país, esta apenas passa por uma abertura económica, com muito pouco intercâmbio de outras áreas como a cultura, língua, entre outras. Não é, pois, de estranhar que a grande maioria da comunidade estrangeira residente tenha uma opinião muito pouco positiva da sociedade Coreana. O que por sua vez causa uma reacção negativa por parte do povo Coreano. Um bom exemplo são as constantes manifestações de desagrado em frente à Embaixada dos Estados Unidos, cujas forças militares já se encontram no território há mais de 50 anos, e sem as quais provavelmente já teria havido uma invasão por parte da Coreia do Norte. Mesmo assim, os Coreanos desejam ardentemente que os Norte-Americanos saiam do seu território. Mas já que falo em manifestações, aproveito para contar mais uma pequena história que demonstra as diferenças culturais entre Portugal e a Coreia do Sul. Ocorrem normalmente manifestações de trabalhadores dos grandes grupos económicos (como a Hyundai ou a Samsung), especialmente no último ano quando muito se falou em reduzir a semana de trabalho para cinco dias úteis (!!!). Dois dias depois de uma dessas manifestações ter ocorrido, e de eu ter sido "apanhado" no meio da mesma (impossibilitando-me de arranjar um táxi num raio de um ou dois quilómetros), recebi um e-mail de Portugal, da parte de um dos meus melhores amigos. O comentário dele rezava mais ou menos como "ontem vi na televisão uma manifestação aí em Seul, mas fiquei com algumas dúvidas: aquilo era uma manifestação ou um concerto rock???". Pois, é que para além das habituais palavras de ordem, como em Portugal, é normal assistirem-se nestas ocasiões a demonstrações de dança, música ou mesmo artes marciais. Choque cultural? Sem dúvida.

Poder-se-ia pensar na Coreia do Sul, e particularmente em Seul, como um ambiente cosmopolita, muito por via da disseminação de vários milhares de pessoas das mais díspares nacionalidades possíveis. No entanto, tal ideia não podia ser mais errónea. A sociedade Coreana mantém-se, no seu âmago, conservadora e tradicionalista, uma característica sustentada com muito orgulho pelo povo Coreano. A imagem que fica, para um Português que observe esta sociedade, é a de um certo paralelismo com a sociedade Portuguesa de há 40 ou 50 anos atrás, especialmente durante o período do Estado Novo. A ideia da família como sustentáculo da sociedade, o casamento como forma de aceitação social, as instituições como ponto de orientação de toda a massa populacional, o papel central da religião (nas suas mais diversas formas de expressão de credo), são factores que atravessam toda a sociedade Coreana, mesmo aquela que vive no meio dos arranha-céus e apartamentos da capital, Seul.

Para além destas características, surge uma que consegue estar acima de todas as outras: a honra, o "não perder a face". Embrenhada em toda uma série de tradições e costumes ancestrais, a questão da honra para um Coreano é tudo menos secundária. Seja em relação à sua família, em relação à sua empresa, ou em relação ao seu país, a honra vem sempre em primeiro lugar e torna-se uma catástrofe quando é perdida. Não foi à toa que todos os Coreanos tiveram vergonha quando o seu governo se viu na contingência de pedir ao Fundo Monetário Internacional um empréstimo de modo a fazer face à crise económica de 1997/98. Mas, um episódio que aconteceu com um rapaz americano a viver em Seul ilustra ainda melhor este ponto. O Mathew tinha conhecido uma rapariga Coreana numa das zonas de bares de Seul. Simpatizaram um com o outro e saíram várias vezes juntos. Contudo, Mathew queria um relacionamento mais íntimo e ela não estava interessada. Ficaram amigos mas não se encontraram durante uns tempos. Passado um mês, mês e meio, Mathew voltou a encontrar a rapariga e ficou a saber que os pais a tinham expulso de casa, depois de terem ficado a saber das suas saídas juntos. Nada tinha acontecido, mas mesmo assim os pais da rapariga sentiram-se desonrados e não estiveram com meias medidas. Mas, e de acordo com outras histórias que fui ouvindo enquanto vivi na Coreia do Sul, também não me teria custado ouvir algo como os pais irem atrás dele e colocarem a sua saúde física em risco (a do Mathew, entenda-se).

Aos olhos de um Europeu, a Ásia continua ainda a ser um continente misterioso, tão distante dos nosso costumes como a distância física que nos separa. Mas, o inverso pode ser e é também verdadeiro. Tal como para nós pode ser muito estranho comer uma refeição sentado no chão, também para um Coreano pode ser absurdo haver um país onde não se come peixe cru.

Tendo em conta tudo o que ficou descrito atrás, pode afirmar-se que tanto o povo Português como o Coreano desconhecem-se mutuamente, mas provavelmente há mais curiosidade da nossa parte do que da deles. Recorrendo à minha experiência pessoal, consegui conhecer muito aspectos desta sociedade, ao mesmo tempo que, limitado às poucas pessoas que sentiam curiosidade, dava a conhecer um pouco de Portugal e dos Portugueses. No entanto, assim que cheguei a Portugal, têm havido muito poucas pessoas que não perguntam quase imediatamente por assuntos relacionados com a vida na Coreia. São duas culturas que acabam por ter muito pouco a ver uma com a outra. Se pudesse nomear uma característica que seja comum a ambos povos, e será talvez a única, é o facto de ambos serem impulsivos, ou seja, reagirem primeiro e pensarem depois. No entanto, o Coreano leva isto às últimas consequências, fazendo com que a sua sociedade seja uma de extremos, onde é impossível haver um meio termo. Exemplificando, é inconcebível um Coreano ir jantar com os amigos e não sair do restaurante sem ser embriagado. É inconcebível um trabalhador Coreano sair da empresa antes do seu superior hierárquico. É inconcebível haver um feriado religioso em que o Coreano não vá juntar-se à sua família, passando, durante o processo horas e horas nas auto-estradas completamente entupidas de automóveis.

Concluindo, a minha experiência na Coreia do Sul foi extremamente enriquecedora, pois permitiu-me conhecer um país cuja cultura é exactamente o oposto da Portuguesa, com pouquíssimos pontos de contacto entre ambas. No entanto, duas coisas interessantes aconteceram. O meu gosto de ser Português saiu reforçado, mas a minha capacidade crítica das coisas menos positivas da sociedade Portuguesa, bem como o enaltecimento das positivas, foi alterada e, de certa forma, melhorada. Por outro lado, nasceu em mim uma grande "paixão" pelo ar que se respira na Ásia, e particularmente pela Coreia do Sul. Hoje em dia, digo sem qualquer hesitação que será um país que ficará sempre comigo. Só um reparo: precisa-se urgentemente de uma forte exportação dos cafés do Sr. Nabeiro para a Coreia do Sul, pois só com essa cafeína pura, ao contrário dos cafés ditos americanos que nos tentam impingir em cada canto de Seul, se pode aguentar o ritmo de vida de um país como a Coreia do Sul.

Feliz Ano Novo Lunar!

The Chinese calendar has a twelve-year cycle and names each cycle after an animal. This year's festival falls on January 29. It is the Year of the Dog.
Chinese legend holds that Buddha asked all the animals to meet him on New Year's Day and named a year after each of the twelve animals that came. Buddha then proclaimed that those born in the animal's year would absorb some of that animal's traits.
(CNN)

Relembrando a minha estadia em terras coreanas, e tendo em conta que a comunidade Budista ainda era relevante, tenho uma certa curiosidade em saber se neste Ano Do Cão os restaurantes coreanos vão retirar dos seus menús os cãezinhos estufados... Talvez seja a altura para escolherem outro animal de estimação para os seus pratos...

quinta-feira, janeiro 26, 2006

O Último Suspiro

A morte é algo de estranho. Quer dizer, não será totalmente estranho pois é algo que é comum a todos os seres vivos que habitam este planeta. Mas mesmo assim continua a ser um daqueles mistérios que fascinam as pessoas, uma vez que ninguém sabe realmente o que há para além da morte, se é que há alguma coisa. Os únicos efeitos que podemos assistir são os de carácter físico, mas... E a “alma” da pessoa, também morre?

 

Todas as religiões tentam oferecer uma solução possível, seja ela a passagem para um nível de vida superior, a possível reencarnação da pessoa ou, simplesmente, o deixar de existir em qualquer plano dimensional. No fundo, todas são formas de “mexer” com os receios e anseios que qualquer um sente em relação à morte. Mas certezas é coisa que não há. E assim continuamos a voltar à estaca zero: o que há do outro lado?

 

Também em termos de culturas há aquelas que “celebram” o falecimento de alguém, enquanto símbolo de tudo o que a pessoa conseguiu realizar e “tocar” nas pessoas que o rodeavam, e há aquelas que são culminadas em momentos de dor e pesar dos familiares e amigos que sentem tristeza pela ausência da pessoa que gostavam e que já não se encontra no meio deles. Por mim, quando me vi confrontado com a morte de pessoas que significavam muito para mim, familiarmente e por relações de amizade, tenho de admitir que consoante os momentos consigo pender para os dois lados. Ou seja, haverá alturas em que me deixo dominar por uma imensa tristeza por não poder estar com a pessoa, raiva por sentir que a morte não foi justa e “colheu” uma pessoa que ainda tinha muito para dar aos outros, conformismo pois não existe nada que eu possa fazer para devolver essa pessoa ao meu convívio, e finalmente, muito por culpa da minha base católica, tento recordar os bons momentos que tive com esse familiar/amigo e pensar que está num local melhor que o resto de nós que continuamos na nossa vida dia após dia.

 

Isto tudo para dizer que a morte continua a ser daquelas coisas que “mexe” comigo e com as minhas emoções, e que no fundo me lembra constantemente que sou apenas uma partícula pequenina desta coisa redonda onde vivemos, não me devo dar a mim próprio uma importância desmedida. E por um lado até é bom que me continue a “afectar”, pois se há uma coisa que receio é a possibilidade de me tornar frio e indiferente perante tudo o que me rodeia, pois aí considero que acontece algo ainda pior do que a morte. É estarmos mortos por dentro enquanto ainda respiramos...

 

(Escrevo isto no dia a seguir a ter falecido o pai de uma grande amiga minha. Para ela e para a sua família, as minhas mais sinceras condolências e votos de força para suplantarem este momento triste.)

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Ondas Sonoras - VIII

E se eles já eram o que de melhor se fazia no rock alternativo português, ao quinto album os Blind Zero brilham intensamente com um som individual e único. Iniciando a sua carreira discográfica em 1995, com o album Trigger, era fácil para quem os ouvisse, especialmente a voz de Miguel Guedes, que a sua principal influência era a banda Pearl Jam e logo aí começaram as comparações, normalmente de forma negativa para os Blind Zero. Felizmente eles não se desmotivaram e decidiram partir para outros caminhos, como os albuns subsequentes mostrariam. Do rock mais espontâneo e imediato (Redcoast), passando por momentos mais abrasivos e psicadélicos (One Silent Accident), até entrarem no mundo dos escritores de canções com C grande (A Way To Bleed Your Lover), os Blind Zero chegam a The Night Before And A New Day com um som que acaba por ser um enorme melting pot, o que não é muito dificil de explicar devido às enormes influências da música norte-americana que trespassa a música dos Blind Zero. Basta ouvir os primeiros acordes de Palace of Amusements (a última música deste disco) para nos imaginarmos algures no deserto de Death Valley, rodeados de cactos e companhias muito pouco aconselháveis. A escuridão e a luz são ambientes recorrentes em músicas como Gasoline Boy, Shine On, Perfect Skin ou Super 8, só para mencionar algumas. Mereciam vender milhões de discos, era o que era...

Lá de cima - VII

La Rambla e Praça do Colombo em Barcelona, Espanha

Sondagem Cinzenta II vs. Resultados Finais

vs.


Parabéns, Cavaco Silva, pela sua vitória não tão retumbante e seja bem-vindo, sr. Presidente.
Parabéns, Manuel Alegre, pela sua expressividade quase totalmente independente.
Parabéns, Mário Soares, por não ter tido medo de acabar definitivamente a sua carreira política.
Parabéns, Jerónimo de Sousa, por ter mais valor que o seu partido.
Parabéns, Francisco Louçã, por arranjar sempre motivos para festejar.
Parabéns, Garcia Pereira, por ter sido o primeiro a culpar o PS pela derrota da esquerda.

E, last but not least, parabéns, José Sócrates, por mostrar o verdadeiro mau perder.

Apenas 62,6% do povo português merece felicitações.

domingo, janeiro 22, 2006

Dia de voto

Contrariando a tendência das últimas votações, hoje fui votar em familia, depois de um almoço de aniversário de um familiar. Antes de mais devo explicar que a questão de quem é que ia votar em quem ficou quase toda explicada à volta da mesa de almoço. Digo quase pois eu, apesar de toda a gente saber para onde o meu voto ia, apenas me orgulhei de quem é que NÃO teria a 100% o meu voto.

É engraçado que o ritual do voto aqui em Agualva-Cacém não se tenha alterado substancialmente nos últimos anos. Continua a ser um dia com mais gente na rua, os cafés ficam mais cheios do que o normal, os bombeiros e os escuteiros conseguem sacar mais alguns euros em rifas com prémios que não interessam a ninguém, vê-se conhecidos que estamos quase anos sem os ver, e essencialmente passamos pelas mesmas montras que vemos durante o dia.

E apesar disso, as pessoas saem mesmo à rua com a intenção de escolherem aqueles que, na medida do possível, melhor os representam. Idosos, jovens, casais, familias inteiras, grupos de amigos. Todos com esperança que o seu voto faça a diferença e represente uma mudança nestes tempos conturbados que vivemos. E mesmo com o aumento da abstenção de eleição para eleição, eu continuo a ver essas mesmas pessoas em todas os actos em que já participei. Aliás, se por vezes fico com vergonha é da minha própria geração que se vai lentamente afastando de tudo aquilo que tenha o rótulo de "política". Talvez seja um problema de acne...

Para terminar, se há dia em que fico muito orgulhoso da minha família (e não serão assim tantos..:-), é num dia de eleições, porque todos têm memória, ninguém sofre de amnésia política, e os mais velhos sabem realmente o que significou o 25 de Abril.

As eleições vistas de fora

"Casi nueve millones de portugueses están hoy llamados a las urnas para elegir presidente, con el conservador Aníbal Cavaco Silva, primer ministro entre 1985 y 1995, como gran favorito. Las urnas han abierto a las 8.00 (una hora menos en la España peninsular) para dar comienzo a unas elecciones cruciales en Portugal, sumido en una grave crisis económica. Los colegios cerrarán a las 20.00 hora de Madrid, a excepción de la región autónoma de Azores, donde la votación acaba una hora después, y Madeira, debido a la diferencia horaria. A las 17.00, el 45,77 de los electores había votado ya."
(
El Pais)

"Final opinion polls put centre-right Prime Minister Anibal Cavaco Silva in the lead.Former president Mario Soares of the governing Socialist Party and Manuel Alegre, another left-wing candidate, are also running. If elected, Mr Cavaco Silva would be Portugal's first president from the right since the 1974 revolution."
(
BBC News)

"Environ 19 % des électeurs inscrits avaient participé au scrutin présidentiel dimanche à midi au Portugal, selon un membre du secrétariat technique des affaires concernant le processus électoral (STAPE), cité par l'agence LUSA. Cet organisme a indiqué qu'aucune comparaison ne pouvait être établie au niveau national avec le précédent scrutin présidentiel de 2001, faute de statistiques datant de cette année."
(
Le Monde)

"A victory by Cavaco Silva, a former Social Democratic prime minister, would be the most serious political defeat for the Socialist government since it came to power in western Europe's poorest country last year."
(
CNN)

Adeus e obrigado, sr. Presidente!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

recursos Humanos

O que é que faz com que uma pessoa seja boa gestora dos seus recursos humanos? Será uma postura mais autoritária, na base do quase inacessível e do "trabalho é trabalho", ou uma postura de maior proximidade com os seus subordinados, mais "terra-a-terra"? Será que precisa de expôr mais o seu lado humano ou, pelo contrário, tem que saber manter a postura objectiva e resoluta, sempre com o alcançar dos objectivos em mente?

Eu diria um pleonasmo, ou seja, para se ser bom gestor tem de se saber "gerir" estes dois pólos descritos acima. Como o subtítulo deste espaço comunica logo à entrada, nem sempre as coisas são brancas ou pretas, é preciso saber discernir bem o quadro que nos é colocado à frente. A observação permanente do nosso local de trabalho e das pessoas que o constituem pode ser meio caminho andado para sabermos aquilo que está bem, aquilo que pode ser melhorado e, sem receios do "politicamente correcto, aquilo que está mal e precisa de ser corrigido. Saber encontrar os aliados certos que podem conduzir o conjunto às suas metas é uma parte muito importante de um bom gestor de recursos humanos, pois se cairmos no erro de alienarmos aqueles que são bons elementos, corrermos o ainda maior risco de termos todo o conjunto contra nós. Realidades diferente exigem comportamentos diferentes e a capacidade de mudar/adaptar começa a ser, de longe, o activo mais precioso que podemos "extrair" dos nossos quadros.

Para grande parte das lideranças de hoje, as pessoas são, quer dependa delas quer não, cada vez mais vistas como números; rácios de produtividade, vendas brutas por empregado, custos de pessoal, encargos com a Segurança Social, etc, etc, tudo roda à volta dos números e tendencialmente a parte humana é esquecida. Para além da quebra de motivação dos RH e consequente mau ambiente de trabalho (e nunca se fizeram tantos inquéritos de ambiente social como hoje em dia), a normal tendência será para uma "retaliação" desses mesmos RH, penalizando a empresa pelos seus descuidos e entrando num ciclo de "maus gestores, maus empregados".

A mim custa-me que o caminho a tomar seja este, pois sou um "animal social" e considero que o local de trabalho deve ser tanto uma actividade profissional como uma actividade social, não muito diferente da nossa casa, ginásio, congregação religiosa ou aquele grupo de amigos que se junta para umas jantaradas. Saber definir bem onde acaba o lado profissional e começa o social é importante, mas se olharmos para o crescente quadro de constrangimentos orçamentais e não só que atravessam o nosso tecido empresarial, se pudermos atenuar os seus efeitos e mantermos os nossos colaboradores motivados e com espírito de equipa, provavelmente a produtividade apenas terá a ganhar, e será um claro sinal de que não temos "chefes" à frente das nossas empresas, mas sim líderes.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Já estou mais descansado...

E eu que ultimamente andava cheio de insónias e não sabia porquê... Hoje já vou dormir bem mais sossegado e até já nem me lembro dos 2,6%... Que soninho... Deixem-me dormir mais um bocadinho...

Por falar em defender a pátria...

(Recordações de Macau por um exilado profissional português... Obrigado, Paulo!)

Welcome to the Suck!

Este filme não glorifica a guerra. Apesar de a certa altura os seus principais protagonistas quase implorarem para matarem um oficial iraquiano, a guerra enquanto parte da nossa sociedade não é, de modo algum, "embelezada". Pelo contrário, o realizador Sam Mendes (o génio que criou o filme Beleza Americana) limita-se a mostrar o quanto monótona e aborrecida a guerra pode ser. Mais, quando alguns dos fuzileiros admitem que apenas se alistaram para fugir à mediocridade da vida que os esperava nos Estados Unidos, começamos a compreender ainda mais o logro que a guerra e a vida militar acabam por se tornar para esses mesmos fuzileiros. Á medida que o filme decorria, quase que iam passando pela minha cabeça uma série de outros filmes de guerra ou relacionados, uns bons, outros menos bons (Oficial e Cavalheiro, Platoon, Nascido para Matar, Nascido a 4 de Julho...), quando de repente surge a cena que, para mim, representa todo o simbolismo do filme. Um grupo de fuzileiros a assistir a uma projecção do filme "Apocalypse Now" e a cantar em altos berros a "Cavalgada das Valquírias" enquanto os helicópteros americanos bombardeiam uma aldeia vietnamita (uma das cenas mais clássicas do cinema norte-americano). Só por esta cena, mas não só, Jarhead (Máquina Zero) merece ser visto para que se compreenda um outro lado da guerra, que na nossa actualidade tem toda a razão de ser. E como Anthony Swofford (Jake Gyllenhaal) nos avisa:

"Suggestive techniques for the marine to use in the avoidance of boredom and loneliness. Masturbation. Re-reading of letters from unfaithful wives and girlfriends. Cleaning your rifle. Further masturbation. Re-wiring Walkman. Arguing about religion and meaning of life. Discussing in detail, every women the marine has ever fucked. Debating differences, such as Cupid VS Mexican, Harlys VS Hondas, left VS right-handed masturbation. Further cleaning of rifle. Studying the male order bribed catalogue. Further masturbation. Planning a marine's first meal on return home. Imagining what a marine's girlfriend and her man Joey are doing in the ally or in a hotel bed. "

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Será falta de bolo-rei?

Esta já vem um bocadinho atrasada, mas tendo em conta os resultados da sondagem aqui ao lado, achei que tinha de fazer algum acto desesperado... Obrigado, Bicho Carpinteiro!

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Qual deles seguirá uma carreira a solo?

(E ainda dizem que só recebemos e-mails com lixo, como é que é possível?)

Apagão (epílogo)

Agora que a luz já voltou, e não, não estou a fazer nenhuma referência religiosa...

A capacidade do ser humano se adaptar às situações mais adversas sempre me surpreendeu. Desde a aridez dos mais secos desertos até aos confins mais gelados do planeta, sempre o ser humano consegue arranjar uma forma de (sobre)viver. Bem sei que isto não é uma comparação para o que sucedeu no dia de ontem aqui no meu local habitacional. Mesmo não tendo luz, tinha água, um telemóvel com bateria suficiente para alguns telefonemas, uma série interminável de velas (só ontem me apercebi da quantidade de cera que há cá em casa...), e um cama quentinha que foi o meu destino assim que comecei a sentir-me com algum frio. Mas...

Mas não é razoável que uma área tão grande e com tanta gente por m2 tenha que esperar mais de 24 horas para voltar a ter electricidade. Bem sei que me vão dizer que ainda há outras áreas em Portugal onde isto é um acontecimento comum. Pois, só que isso também não deveria acontecer no nosso país. Já há muito tempo que deixámos de pertencer àqueles países onde a instabilidade faz parte do dia-a-dia, onde assim gostávamos de acreditar.

Trata-se, no fundo, de uma discussão para o boneco, até porque sempre que começo a ter estes pensamentos do que é razoável ou não, aparece sempre alguma coisa que "me coloca no meu devido sítio" e ajuda a relativizar tudo aquilo que vivemos. Afinal de contas, podíamos ser Onges e não nos preocuparmos nada com a falta de electricidade...

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Apagão

Vou aproveitar as últimas réstias da bateria do meu portátil enquanto vamos quase em 24 horas de apagão em Agualva-Cacém. Parece que apenas nestas horas nos lembramos da importância que a electricidade tem nas nossas vidas, e nem falo na televisão ou na aparelhagem, mas sim nas coisas que vão descongelando no frigorífico, na luz que preciso para fazer a barba... Enfim, hoje quando cheguei tinha a sensação de estar a entrar numa cidade fantasma e.... Ooopps... Lá se foi a bateria...

terça-feira, janeiro 10, 2006

Ondas Sonoras - VII

Esta banda já não é muito recente. Na verdade e até ver estão "mortos e enterrados". Mas a música deles acompanha-me desde o início dos anos 90 e, em virtude do meu auto-rádio ainda ser à base de cassetes (sim, cassetes, ainda tenho umas quantas cá por casa), ainda vou recordando algumas das suas melhores músicas, e hoje não foi excepção. Foi nessa altura que dei por mim a cantar uma música de 1992 cujo refrão, depois de ouvido umas quantas vezes, começou a fazer cada vez maior sentido na minha cabeça, até que cheguei à conclusão que aquelas palavras ilustravam perfeitamente o meu estado de espírito nestes primeiros dias do ano de 2006. A música chama-se Ring the Bells e a banda dá pelo nome de James e alguém devia começar uma petição para que eles se juntassem outra vez para compôrem momentos tão bons como este:

Got to keep awake to what is happening
I can't see a thing through my ambition,
I no longer feel my God is watching over me
Got to tell the world we've all been dreaming
This is not the end, a new beginning
I no longer feel my God is watching over me

Perdido na Net (guess who...)

(Foto tirada por Anton Corbijn)

Recordar a China - IV (the end)

(Última parte de um registo escrito feito durante uma viagem à China, em Setembro de 2000)

Arredores de Beijing, 8:50, 17 de Setembro de 2000
Neste momento em que escrevo, estou a caminho de concretizar um dos meus sonhos de infância: andar na Grande Muralha. Mas como ainda estou no autocarro, é melhor recapitular o dia de ontem.
Encontrei-me com a Ana logo de manhã, pois tínhamos de aproveitar o primeiro dia em que podíamos estar juntos. Fomos imediatamente para a Feira da Ladra aqui do sítio para comprar umas coisinhas chinesas para mim e umas prendinhas para levar para as amizades coreanas. O mercado foi isto: muita gente, muita confusão, muitos vendedores, muito regateio de preços, muita coisa bonita, três brasileiras que julgavam que eu e a Ana estavámos a falar grego (para nos compreenderem, tivémos de falar português com sotaque brasuca), muito chinês falado pela Ana, muito português falado por mim, enfim, um mimo!!! Comprei coisas muito bonitas e a Ana também levou algumas coisinhas para a casa nova dela. Em seguida fomos almoçar numa esplanada com a Shirley (room-mate da Ana) e duas amigas dela, da Malásia. Também apareceu um dos antigos room-mates da Ana, o Theo, um simpático francês. Comeu-se boa comidinha chinesa mas, quando se ia pedir mais alguma coisa, a empregada diz que não pode ser pois a cozinha já está fechada. Eram 2 da tarde...
Separamo-nos todos, e eu e a Ana vamos ver mais uma zona de lojas típicas chinesas. Entramos numa farmácia chinesa onde a Ana me mostra, entre outras coisas, cobras, lagartos, chifres de veado, raízes de gingseng... E o cheiro, meus amigos, o cheiro... Em seguida vamos também à zona de Liuliuchang, que é uma zona muito parecida com Insadong, em Seul. Ou seja, lojas de souvenirs chineses para turistas estrangeiros, onde é muito difícil regatear. Mas vamos para lá, depois de muita insistência da parte da Ana e muito regateio de preço, numa espécie de riquexó, mas puxado a bicicleta. Estava a ver quando é que aquilo se desconjunturava tudo...
A partir daí, vagueámos o resto da tarde a pé por Beijing. Ainda fomos ver duas torres, a Great Bell Tower e a Great Drum Tower. Ou seja, um grande sino e um grande tambor (este um bocadinho mais deteriorado depois de anos de guerra). Mas a vista é, mais uma vez, líndissima. Passámos também por um lago, com muitos chineses a pescar e a nadar, e por um pequeno jardim, onde os chineses levam a passear o seus passáros ao fim da tarde. Linda música, muito bonito... Ainda descobrimos, no lago, um Watersports Center (onde eles se propõem fazer windsurf no lago... não sei se estão a ver bem o lago, de água parada, cheio de lodo e algas) e uma lojeca muito engraçada (onde a dona, chinesa, nos pergunta se somos espanhóis, pois ela viveu em Barcelona). De seguida, vamos a casa da Ana, onde encontramos a Shirley e as duas amigas dela. Bom, a casa da Ana... Bom... Bom... Para já, faz cinco ou seis vezes mais a minha em Seul, e depois é lindíssima... Fiquei a morrer de inveja, como devem perceber aqueles que já viram a minha casa em Seul.
Depois, fomos ao jantar de aniversário do António, um verdadeiro gentlemen italiano, amigo da Ana e que eu tinha conhecido na primeira noite. A maioria das pessoas à mesa são italianas, tirando os 2 portugas, uma moça de Hong-Kong, um francês e... uma coreana!!! Nem aqui??? É claro que levou logo com um sonoro "Annyong Haseyo!!!" e desatou-se logo a rir. O jantar, num restaurante italiano, foi excepcional e travei conhecimento com o Massimo, um italiano engraçadíssimo. Eis algumas das coisas que se falaram: futebol/cálcio, coreanas e chinesas, vinho, música brasileira, Rafaella Carra, Gianni Morandi, Toppo Giggio, Sequim de Ouro/Sequino D'Oro, e toda uma série de palhaçadas... Depois do jantar, fomos a um bar chamado Salsa Cabana, onde se dançou muita... salsa...tocada por...Colombianos... Only in China... O António é um dançarino e pêras. A Ana ainda me arrastou para um pézinho de dança (no meu caso, dois pés chatos...) e ainda falei mais um bocadinho, em coreano, com a moça coreana...Voltei para o hotél e adormeci imediatamente...
Voltando ao tempo presente, ainda no autocarro, só para vos contar que somos 20 e tal pessoas (leia-se estrangeiros) e o inglês domina claramente, mas eu fui sentar-me exactamente ao lado de um casal portuga que anda em férias pela Ásia... Comentário natural: "estamos em todo o lado!!!"

Simatai, 14:50, 17 de Setembro de 2000
A Grande Muralha foi conquistada!!! Estou extremamente cansado e sem palavras... É lindo, fenomenal, magnífico... Um sonho concretizado... Acreditem que não há mesmo maneira de descrever... Só estando lá... Nem as fotografias lhe fazem justiça... Estou feliz...

Algures entre a China e a Coreia, 11:50, 18 de Setembro de 2000
Pois é, já me encontro no avião de volta a "casa"... Acabou-se a grande aventura por terras chinesas, isto se a Air China não me preparar alguma partida... Ontem à noite, fomos jantar, eu, a Ana, o Eng. Fernandes e o Eduardo (o amigo espanhol da Ana) a um restaurante típico chinês, com toda a gente aos berros, mas comida muito boa... Depois fomos até ao Blue Lotus Coffee beber um copo, e houve conversas muito interessantes, especialmente do ponto de vista Ibérico, com muitas pequenas "polémicas" entre Portugueses e Espanhóis, mas sempre com boa disposição... Despedi-me de todos e agradeci-lhes pelos bons momentos que passei com eles em Beijing... Hoje de manhã só tive de discutir com 2 taxistas que não queriam baixar o taxímetro até ao aeroporto, mas à terceira foi de vez... E pronto, daqui a meia hora devo estar a aterrar em Seul... Foram 10 dias incríveis, em que adorei tudo...

There's only one China, the True Motherland...
Beijufas e abracetes (HSequeira copyright ®)
Nuno G
uron-san
Fotos:
1) Panorâmica sobre a ilha e o White Dagoba, no Beihai Park...
2) Uma escultura de um dragão, num mural de vários dragões, também em Beihai Park...
3) Turista portuga, com o belo Temple of Heaven/Hall of Prayer for Good Harvests como pano de fundo...
4) Entrada Sul para o Tiantan Park...
5) A Great Bell Tower, vista da Great Drum Tower... Confuso?
6) Grande Muralha em Simatai... sem comentários...
7) Contacto 3 diz "presente!" na Grande Muralha...
8) Montagem fotográfica para dar uma imagem melhor (mas não perfeita) dessa maravilha intemporal...

domingo, janeiro 08, 2006

Broken Flowers

"Well, the past is gone, I know that. The future isn't here yet, whatever it's going to be. So, all there is, is this. The present. That's it."

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Sondagem Cinzenta

Decidi concluir hoje a primeira sondagem neste espaço. Se bem se lembram a pergunta era, "Escolha a palavra que, na sua opinião, melhor descreve Portugal e os Portugueses". E os resultados foram:

Não querendo tirar grandes conclusões e deixando as interpretações a quem quiser, acho todavia interessante que as opiniões sejam quase separadas em 50% positivas e 50% negativas. A indecisão impera, juntamente com a simpatia das nossas gentes mas que se calhar roçam o ponto do constrangimento em algumas situações. Preocupante mesmo é ver que houve pessoas que votaram no saudosismo que, sim senhor até pode traduzir algum "ser português", mas gostava que essas opiniões transitassem o quanto antes para algo de mais construtivo, como por exemplo para Acolhedor (0 votos). Não sei se perceberam que a parte do Paraíso era claramente irónica...

Aqui ao lado fica já a próxima sondagem que infelizmente vai dar a este espaço um ar perfeitamente igual a outras centenas de blogues... Mas tinha que ser...

Recordar a China - III (para ver se o astral sobe...)

Beijing, 18:15, 14 de Setembro de 2000
Depois de quase toda a manhã e parte da tarde passadas no Summer Palace (a quem fôr a Beijing, recomendo vivamente, lindo de morrer), ainda tive tempo para ir ao Lama Temple e ao Templo/Colégio de Confúcio. O Lama Temple representa a presença Tibetiana em Beijing. Trata-se de um dos edifícios mais antigos na cidade, e o permanente cheiro a incenso feito à base de manteiga de iaque quase que nos transporta para o Tibete (bem sei que não é a mesma coisa, Luís e Leo...eh eh). Existem estátuas budistas líndissimas, mas das quais não se podem tirar fotografias. Quanto ao Templo/Colégio/Museu de Confúcio, bom, pode-se dizer que foi o sítio mais livre de turistas e mais sossegado de todos aqueles onde estive hoje. Apenas um par de japoneses, dois franceses e alguns chineses. Dava para ouvir claramente o som de uma espécie de "ocarina" chinesa, tocada por uma das empregadas da inevitável loja de souvenirs... Pena que o sítio esteja em obras, pois das exposições àcerca de Beijing, apenas uma podia ser observada. Mas o aspecto idoso dos edíficios e a pouquíssima afluência de turistas valeram a pena... E agora estou de saída para um jantar de pato de Beijing com a Ana e com o Delegado do ICEP para a China...
Beijing, 18:50, 15 de Setembro de 2000
Antes de mais nada, enquanto estou a escrever estas palavras, a Selecção Olímpica Nacional acaba de ser apresentada em Sidney... Era giro se ganhassem algumas medalhas... Boa Sorte!!! Mas voltando atrás no tempo, nestas minhas andanças pela China... Ontem à noite, só chegar ao restaurante foi uma aventura. Primeiro, desencontrámo-nos no sítio onde tínhamos combinado. Quando telefonei à Ana, ela e o Eng. Fernandes, Delegado do ICEP para a China, já estavam quase a chegar ao restaurante. OK, tive de esperar no lobby do meu hotel, até que o dono do restaurante telefonasse para lá a explicar as indicações e, quando o fez, tive quase de "arrastar" o taxista até ao lobby para ele perceber as instruções... Entretanto, já eram quase 9 horas da noite e tínhamos combinado às 7... Bom, lá fui com o taxista, que me deixou num cruzamento e apontou para o restaurante mais próximo. Assim que saio do táxi, há um rapaz que me mostra um panfleto de um restaurante... Farto destas cenas, que já tinha aturado o dia todo (entre postais, táxis e bebidas), só lhe dizia que não queria nada...Entrei no restaurante...vazio!!! Quando ia a dar meia-volta, a dona já só me perguntava o que eu queria comer, beber, etc, e eu sempre a dizer que estava à procura de duas pessoas. Voltei à rua, e outra vez o mesmo rapaz. "Não, não, não quero!!!" Entrei num outro restaurante e a mesma cena, nada da Ana ou do Eng. Entrei no primeiro sítio onde vi um telefone e liguei à Ana... A Ana só me dizia que já estava a ir ao meu encontro, e eu a perguntar-lhe como é que ela sabia onde eu estava, até que a vi na rua e com quem? Com o rapaz que queria que eu o seguisse... Mea culpa, mea culpa...
Depois de não sei quantas voltas pelo meio do Hutong (bairro típico chinês), lá chegámos ao restaurante, onde nos esperava o Eng. Fernandes... O pato estava óptimo e depois ainda fomos tomar uma cerveja a um bar muito engraçado, com uma excelente música jazz. Ao longo de toda a noite, a conversa foi impecável, sempre a compararmos os meus 6/7 meses de Coreia, com o 1 ano e meio de China da Ana, e os muitos anos de Japão do Eng. Foi uma óptima noite de conversa portuguesa...
Hoje não consegui acordar cedo, mas lá me levantei... Fui de metro para a Praça de Tiananmen e agora já percebo porque é que a Ana disse que o metro de Seul era tão limpo. Digamos que o metro de Beijing está a precisar de uma renovaçãozinha...Praça de Tiananmen, e de repente sinto-me imensamente pequeno e só consigo pensar em tanques...Lá no meio o Mausoléu do Grande Timoneiro, Mao Tze-Dong. E só de olhar para a fila enorme para entrar, fico doente. Desculpa, Mao, fica para a próxima!! Dirigo-me assim para a Cidade Proibida, um dos locais mais bonitos que já vi até hoje e também um dos mais turísticos...Gente, gente e mais gente!!! Não há dúvida, estamos na China!! A Cidade Proibida também é enorme, mas tirei muitas fotografias e adorei... Em seguida vou para o Parque Beihai, cujo espaço é principalmente ocupado por um lago, com uma ilha no meio onde se encontra o White Dagoba, com 36 metros de altura... Impressionante... Depois de ter dado a volta ao lago a pé (num bonito passeio), decido ir também a pé para um outro parque, o Parque Tiantan...
Digamos que demorei hora e meia a pé, mas assim, ao menos, passei pelo meio de ruas sem turistas e só com Chineses... Muitos restaurantes e lojas medicinais... No Parque Tiantan, sou presenteado com um monumento que me alivia quase totalmente o cansaço: o Temple of Heaven / Hall of Prayer for Good Harvests...Simplesmente maravilhoso... Só vendo as fotografias...Voltei para o hotel e agora estou a recuperar... Estou a adorar isto!!!
Beijufas e abracetes (HSequeira copyright ®)
Nuno Guron-san

Fotos:
1) Mais um guardião enorme, no Lama Temple...
2) Pormenores dos diversos pavilhões no Lama Temple...
3) Confúcio himself, na entrada do seu próprio templo...
4) A imponência da Tiananmen Gate...
5) Eu e um amigo meu a posarmos para a fotografia...
6) Montagem fotográfica do interior da Cidade Proibida...
7) Outra montagem, para que percebam a enormidade do local...
8) Reparem no contraste antigo/novo, dentro da própria Cidade Proibida...
(As fotos dos Parques de Beihai e de Tiantan ficam para a última parte das Desventuras na China...)

Ano Novo, Velhos (Maus) Costumes

No ano de 2005 morreram nas estradas portuguesas 1.093 pessoas. 1.093 vidas humanas que deixaram de viver e que causaram mágoa em outros milhares de pessoas que têm de continuar a viver sem a presença daqueles que ficaram sem vida na estrada.

Que interessa que o número de mortos tenha diminuido em relação a 2004? Que interessa que o número de feridos tenha também decrescido? Será isso algo de que nos possamos orgulhar? Ou será que isso não diminui a nossa vergonha? A vergonha de vivermos num país em que as estradas estão inundadas de monstros, monstros sem qualquer respeito pela vida alheia, monstros que acham mais importante "puxar pelo carro" do que preocuparem-se com o bebé que vai consigo no banco traseiro, monstros que se acham na arrogância de não cumprir as regras de trânsito só porque têm o último modelo do carro XPTO...

Desculpem-me todos aqueles que quando ligam a ignição do seu carro ainda pensam nos seus companheiros seres humanos que partilham a estrada com eles. Mas quando chegamos ao trabalho no primeiro dia útil do ano e a primeira notícia que nos dão é que um colega nosso está de luto porque o seu único sobrinho de 6 anos morreu num acidente só porque o outro carro não respeitou um stop, como é que conseguimos aplacar a raiva que toma conta de nós e nos leva a pensar que destino dar a esse desgraçado que não quis saber dos outros? Talvez o melhor seja mesmo chorar pelas 1.093 pessoas que podiam ter celebrado connosco a passagem de ano...